A série Sam & Cat, spin-off das bem-sucedidas iCarly e Victorious, emerge como um fenômeno peculiar na trajetória da Nickelodeon. Criada por Dan Schneider, a sitcom une duas personagens icônicas — Sam Puckett (Jennette McCurdy), da primeira série, e Cat Valentine (Ariana Grande), da segunda — em uma comédia repleta de absurdos e situações hiperbólicas. Apesar de seu sucesso inicial, com altos índices de audiência e uma encomenda dobrada de episódios, a produção foi abruptamente cancelada após apenas uma temporada, em 2014. Esta resenha propõe analisar os méritos narrativos e técnicos da série, assim como refletir sobre as razões que levaram ao seu prematuro fim, questionando até que ponto fatores externos à tela impactaram seu legado.
O principal trunfo de Sam & Cat reside na combinação das personalidades antagônicas das protagonistas. Sam, sarcástica e impulsiva, contrasta com Cat, ingênua e eufórica, criando uma dinâmica cômica que sustenta a narrativa. A escolha de reunir personagens já consolidadas em universos distintos foi estratégica: além de capitalizar o afeto do público por ambas, permitiu explorar conflitos e cumplicidades genuínas. Episódios como The Killer Tuna Jump evidenciam essa dualidade, em que a racionalidade prática de Sam colide com o otimismo exagerado de Cat, resultando em situações hilárias. A química entre McCurdy e Grande transcende o roteiro, conferindo autenticidade à amizade das personagens — elemento central para a identificação do público adolescente.
A série mantém a fórmula característica de Schneider, com humor físico, diálogos rápidos e situações surrealistas. O negócio de babá, pretexto para aventuras caóticas, serve como metáfora para a transição da infância à vida adulta, tema subjacente em muitas tramas. A ausência de um arco narrativo complexo — comum em sitcoms — é compensada por episódios autoconclusivos, que priorizam o entretenimento imediato. Personagens secundários, como Dice (Cameron Ocasio), o vizinho empreendedor, e Goomer (Zoran Korach), o lutador excêntrico, acrescentam camadas de humor, ainda que estereotipados. Nona (Maree Cheatham), a avó de Cat, introduz um contraponto de maturidade, ainda que marginalizado pela loucura geral.
Apesar dos méritos, o cancelamento após 35 episódios lança dúvidas sobre a sustentabilidade do projeto. Relatos de um hiato em 2014 e conflitos nos bastidores — incluindo rumores de tensões entre a produção e o elenco — sugerem que fatores extracriativos influíram na decisão. Embora a Nickelodeon tenha inicialmente renovado a série para uma segunda temporada, a falta de comunicação transparente com o público gerou frustração. O episódio final, exibido em julho de 2014, não oferece desfecho adequado, deixando narrativas em aberto e fãs sem respostas. Esse término abrupto não apenas prejudicou a satisfação da audiência, mas também limitou o potencial de desenvolvimento das personagens, que poderiam explorar temas mais profundos, como a independência financeira ou dilemas da adolescência.
Curiosamente, o cancelamento consolidou Sam & Cat como uma série cult, revisitada por fãs nostálgicos. O fenômeno é amplificado pela ascensão de Ariana Grande ao estrelato global, transformando Cat Valentine em um símbolo de sua trajetória artística. No entanto, é questionável se a série seria lembrada com igual afeto caso tivesse se prolongado: a estrutura episódica repetitiva e a dependência de gags previsíveis poderiam levar ao esgotamento criativo. O spin-off, em sua brevidade, encapsula o espírito das sitcoms adolescentes dos anos 2010 — efêmeras, mas marcantes.
Sam & Cat é um produto de seu contexto. Sua força está na habilidade de sintetizar o melhor de duas franquias consagradas, oferecendo humor leve e personagens carismáticos. No entanto, sua fragilidade reside na falta de ousadia para transcender fórmulas pré-estabelecidas e na vulnerabilidade a conflitos de produção. O cancelamento precoce, ainda que lamentável, talvez a tenha preservado como uma joia inacabada, cujo brilho reside justamente em seu potencial não realizado. Para o público, resta celebrar o legado de uma dupla icônica, cujas aventuras, ainda que curtas, deixaram um rastro de risos e saudades.