Terra a Vista!
Para quem conhece o clássico A Ilha do Tesouro, do escritor britânico Robert Louis Stevenson, o imaginário envolvendo a fantasia flui com mais facilidade ao falar desta série do canal Starz. Digo isso porque Stevenson sempre flertou com a ficção de uma maneira amigável, utilizando seus recursos narrativos para criar grandes personagens, assim como a primeira temporada desta ótima série Black Sails.
Produzida pelo diretor Michael Bay, Black Sails se passa cerca de 20 anos antes dos ocorridos do livro em que se baseia. O protagonista é o Capitão Flint (Toby Stephens), um sujeito que sempre demonstrou dificuldades em inspirar confiança, inclusive em sua tripulação. Como se isso ainda não fosse o suficiente, os saques provenientes de suas ações como pirata tem reduzido de forma alarmante, deixando sua tripulação ainda mais duvidosa sobre suas capacidades de líder. Baseado no fato de que a escassez é uma realidade, Flint convence a todos de que uma recente descoberta pode levá-los a uma embarcação com tesouros incalculáveis, o que deixaria todos os tripulantes transbordando em riqueza, trata-se do navio espanhol Urca de Lima.
A partir desse momento, acompanhamos a saga de Flint em busca de proventos para sair a caça da embarcação espanhola, isso envolve não somente convencer pessoas, mas garantir recursos suficientes para a viagem de ida e volta, incluindo armas, homens e tudo o necessário para se sair bem no objetivo proposto. É é exatamente nessa preparação que começam a surgir as dificuldades e também outros antagonistas de relevância notável. A começar por Eleanor Guthrie (Hannah New), a responsável direta pelo comércio na ilha da Nassau, que possui um tom autoritário mas repleta de fraquezas e incertezas, fazendo dos riscos que escolhe um problema para seus associados; temos aí Charles Vane (Zach McGowan), o capitão de um dos navios rivais de Flint e que surge como um cara frio, calculista e com um passado sombrio; o imediato de Flint, Gates (Mark Ryan), que sempre busca apaziguar os ânimos da tripulação, mesmo que também tenha suas dúvidas e sempre adote a postura de defensor de seu líder; Jack (Toby Schmitz), o capanga de Vane que faz uso de sua lábia para convencer as pessoas sobre suas ideias e objetivos; John Silver (Luke Arnold) é o falso cozinheiro que tem memorizado o itinerário do Urca de Lima; sem contar nos diversos personagens que, mesmo sem destaque de grande relevância no enredo, acabam sendo bem aproveitados para ponderar no desenvolvimento da narrativa, como a Srta Barlow (atriz), Scott (ator), Anne Bonny (Clara Paget), Billy (Tom Hopper), Max (Jessica Parker Kennedy), entre tantos outros que merecem destaque.
Não só de personagens notáveis a série se sustenta, pois existe uma caracterização de época simplesmente impressionante. Ambientada no início do século 18, Black Seals é uma série sobre piratas e seus saques, para mostrar isso com grande fidelidade, percebe-se um grandioso investimento nos detalhes. As roupas, adereços, embarcações, armas e muitos outros chegam a encher os olhos devida a tamanha fidelidade, tudo parece ser real, com uma riqueza nos pormenores que deixaria até o menos empolgados surpresos com a relevância dos mínimos detalhes. E por falar em detalhes, a pirataria aqui em retratada não somente no figurino e embarcações, mas também na filosofia: os personagens mais importantes pregam a confiança acima de tudo, mas, por serem piratas o conceito de confiança é sempre deturpado, pois acabam agindo em prol de desejos ou objetivos pessoais, mesmo que isso inflija a morte de membros da equipe, algo que os roteirista mostra sem qualquer pudor.
Outro elemento que chama a atenção está nos embates, sejam eles em terra ou em alto mar. Há uma grande preocupação em ser fidedigno, portanto, a violência é comum nas mais diversas situações. Temos peitos sendo atravessados por balas, braços e pernas sendo arrancados por canhões, olhos perfurados por tiros, lâminas atravessando carne e muito sangue, tudo para agradar o público adulto mais exigente. Falando ainda em conteúdo adulto, há muita nudez e situações de sexo não explícitas, tudo sempre permeado pela circunstância de personagens que são humanos e também desejam os prazeres da carne.
Nitidamente uma série de grande orçamento, BLACK SEALS tem em sua primeira temporada um emaranhado de intrigas e personagens sombrios com propósitos muitas vezes pessoais, algo fortemente ligado ao conceito dos piratas. É uma produção com capricho invejável nos detalhes, cuidadosa nos aspectos técnicos e com uma narrativa que só vai ganhando força ao longo dos episódios. Surpreende com suas locações e, apesar do CG sempre presente, o resultado não deixa a desejar em nenhum momento de seus ótimos 8 episódios.