O soco no estômago continua lá. Quem não notou é porque não pensou melhor.
O problema de Black Mirror é que as pessoas ainda olham pra ela como uma série sobre tecnologia, sendo que é uma série cada vez mais sobre relações humanas. Em Fifteen Million Merits, lá na primeira temporada, não vi nenhum crítico falando da metalinguagem com a própria série no final e da própria arte como um subterfúgio pras contradições inerentes à existência humana, o que é muito triste, todos preferiram olhar pro episódio como uma crítica à reality shows (?).
Já nessa temporada, a visão do espectador continua limitada, USS Callister é o melhor exemplo, um episódio que explora conceitos complexos sobre a vida, existência e a morte, aprofundando o debate de San Junipero, e ninguém fala disso, apenas da referência óbvia à Star Trek (Uma escolha que pode ser meramente estética).
Em uma série executada perfeitamente, é uma pena que a amplitude dos debates dela - que vão desde a vida e da morte até a justiça e a própria revolta, ética, dialética, etc - sejam limitados à uma crítica a tecnologia.
Vi críticos por aí dizendo que o criador da série está obcecado com as novas tecnologias, mas quem parece obcecados são eles, que não conseguem olhar a profundidade dessa obra sob uma outra ótica.
A única coisa que senti um pouco de falta nessa temporada foi de um sarcasmo mais elegante no estilo daquele episódio de Natal com o Jon Hamm, que é absurdamente bom com sarcasmo, mas que talvez seja explicado pela necessidade que Brooker sentiu de dar um tom mais realista à alguns episódios.