TEM SPOILERS!
Bates Motel (4ª Temporada) 2016
A quarta temporada de "Bates Motel" estreou em 7 de março de 2016 e terminou em 16 de maio de 2016. A temporada continua com o padrão de 10 episódios e foi ao ar às segundas-feiras às 21h pela A&E.
Posso afirmar aqui que as duas primeiras temporadas da série funcionou basicamente como uma apresentação de personagens, mais propriamente um desenvolvimento do Norman Bates (Freddie Highmore) e da sua mãe, Norma Louise Bates (Vera Farmiga). De certa forma a série estava tentando se achar como uma série moderna inserida em todo o universo do clássico "Psicose". Na terceira temporada a série começa a tomar um novo rumo, na verdade a série começa a trilhar o caminho principal de toda a história, e passa a focar ainda mais nos indícios psicóticos de Norman Bates. Esta quarta temporada se destaca como a melhor temporada da série até aqui, e muito por mergulharmos de vez no estágio mais crítico da relação tóxica e doentia entre Norman e Norma. É uma temporada que abrange diretamente o embate entre mãe e filho, e nos mostra todas as facetas de um Norman muito inteligente porém extremamente cético e manipulador para conseguir alcançar os seus principais objetivos.
A temporada já inicia nos mostrando os resquícios do final da temporada passada, onde temos o Xerife Alex Romero (Nestor Carbonell) desovando o corpo de Bob Paris (Kevin Rahm), que ele mesmo matou, em um barco no mar. Norman está desaparecido de casa desde o final da temporada passada, quando ele matou a Bradley Martin (Nicola Peltz) e disse que voltaria a pé para sua casa. Exatamente nesse ponto do primeiro episódio que Norman se mostra totalmente descontrolado e desequilibrado, onde sua liberdade passa a ser considerada como uma ameaça para a sociedade, caso Norma não o interne em uma clínica psiquiátrica. Já pelo outro lado da história temos a Emma Decody (Olivia Cooke), que está internada em um hospital em Portland pronta para realizar seu transplante de pulmão.
Este primeiro episódio já se destaca como muito importante e bastante revelador para o contexto de toda a história. Pois é justamente nele que temos o aparecimento repentino de Audrey Ellis (Karina Logue), a mãe que abandonou a Emma enquanto ela era uma criança doente. Interessante que Audrey tem uma pequena participação na história, pois no final do episódio o Norman já mata ela enforcada. Porém, o que chama a atenção é justamente o envolvimento que Audrey criou e como ela se torna um dos pilares centrais para o desentendimento entre Norma e Norman.
Podemos considerar que finalmente Norma percebe que o caso do seu filho é sério e que ele precisa de ajuda médica. Já que Norman passa a ter um comportamento que afeta diretamente a relação com a mãe e sempre a deixa extremamente irritada. Aqui entra um ponto bastante curioso na temporada, que é justamente esse abrupto casamento entre Romero e Norma, já que ela precisava de ajuda com o plano de saúde para conseguir a internação do Norman na clínica psiquiátrica Pineview. A princípio podemos notar que este casamento é totalmente de fachada, já que era por puro interesse por parte da Norma, mas com o tempo eles vão se entendendo e acabam realmente se apaixonando. Norman atinge o ápice do seu surto psicótico contra Norma, ao apontar uma arma para ela, e o Romero o encaminha para o instituto.
Esta temporada funciona muito bem em mesclar a trama principal envolvendo o Norman, a Norma e o Xerife Romero, com a subtrama do Dylan (Max Thieriot) com a Emma. Emma já fez a sua cirurgia e tudo foi um sucesso. E aqui temos uma cena muito boa, que é justamente a cena em que a Emma retira os aparelhos de respiração após a cirurgia e vemos o quanto o Dylan se preocupa com ela, quando ele fica desesperado com ela não respirando. Dylan pensa em seu futuro com a Emma, já que seu relacionamento começa a fluir. Realmente ele está pensando em abandonar o ramo dos negócios com maconha e viver este romance.
Na clínica o Norman começa apresentando bastante resistência em seu tratamento com o Dr. Edwards (Damon Gupton). Porém com o tempo ele passa a aceitar as novas circunstâncias que lhe é designado. Sinceramente eu não acho que Norman aceitou, ele simplesmente está usando todo o seu poder de manipulação, principalmente com o Dr. Edwards. Podemos observar justamente essa questão quando Norman começa a agir com naturalidade as exigências da clínica, e principalmente quando ele conhece aquele seu novo "amigo" e juntos embarcam em uma aventura ao fugir da clínica. De qualquer forma logo Norman entra em outro surto psicótico e revela alguns dos seus segredos ao Dr. Edwards, e vai ainda mais além, quando ele decide denunciar sua mãe em relação as mortes que ocorreram. Norman revela que acredita que todos os assassinatos dos quais ele é o autor foram, na verdade, cometidos por sua mãe, quem realmente precisava de ajuda era ela, e não ele. Esta é uma cena emblemática em toda a série.
Outro ponto que a temporada aborda, e parece bem interessante, é esse relacionamento íntimo e de negócios que o Xerife Romero mantinha com a gerente do Banco Rebecca Hamilton (Jaime Ray Newman). Rebecca era a responsável em lavar o dinheiro para o Bob Paris. Ela revela ao Romero que Bob deixou uma grande quantia no banco, e que ela tem uma das chaves do cofre enquanto ele tem a outra (e realmente ele tinha). A partir desse envolvimento, a DEA passa a usar a Rebecca e passa a levantar uma investigação criminal que ameaça a vida de Romero.
O personagem Chick Hogan (Ryan Hurst) entre em cena ao perseguir a Norma em uma loja. Por fim, Chick revela tudo sobre Caleb (Kenny Johnson) para Norma, explicando para ela tudo que Caleb fez com ele. Norma fica preocupada com o que poderá acontecer com Caleb e ameaça Chick. Pegando este gancho, Norma revela a verdade para Romero sobre seu irmão Caleb ser o pai de Dylan. Ela também revela que teve um relacionamento com ele durante anos e ela o amava, porém quando ela quis terminar tudo ele não aceitou e estuprou ela. Uma cena bem chocante, por sinal.
A estadia de Norman na clínica parecia correr bem até ele descobrir, através de recortes de jornais, que sua mãe havia se casado com o Xerife Romero. Imediatamente a chave em sua cabeça muda e Norman quer deixar a clínica de qualquer forma. Norman é extremamente manipulador e persuasivo, e ele usa de todos os seus meios para convencer o Dr. Edwards que precisava voltar para casa para ficar ao lado de sua mãe, que isso seria muito benéfico para ele e o ajudaria ainda mais no tratamento. Após o Norman fazer todo um teatro ele convence o Dr. Edwards a assinar a sua liberação da clínica. Romero não ficou nada feliz pela a Norma aceitar que o Norman voltasse para casa, ainda mais agora com ele morando com ela. A presença de Norman em casa incomoda muito o Romero, e a Norma fica dividida entre os dois, tentando agradar os dois. E realmente Norman está decidido por um fim no casamento de sua mãe com o Xerife, pois ele foi confrontar pessoalmente o Romero para pedir que ele se divorciasse de sua mãe. O maior erro da Norma como mãe é proteger demais o seu filho, como se ele fosse um cristal que vai se quebrar a qualquer momento. Essa proteção excessiva atrapalha em seu crescimento e desenvolvimento como uma pessoa adulta.
No oitavo episódio temos uma reedição de uma cena clássica de "Psicose": que é a cena com o Norman olhando pelo buraco da parede no Motel a sua mãe transar com o Romero. Na hora eu peguei toda a referência da obra-prima do mestre Hitchcock.
O nono episódio revela como o Romero e o Dylan pretendiam se unir para forçar uma nova internação do Norman, mesmo contra a vontade da Norma. Norman está conseguindo manipular a mãe com relação ao seu casamento com o Romero, ou ela está deixando ser manipulada, mesmo sabendo as reais intenções do filho. A obsessão do Norman pela Norma é tanto, que ele fechou todas as entradas e saídas de ar da casa, ligou o forno no porão e soltou uma espécie de gás venenoso saindo unicamente embaixo da cama onde ele e a mãe dormiam. A ideia dele era se matar e matar a própria mãe enquanto dormiam. O Romero chega na casa e quebra a janela para entrar um pouco de ar mas já era tarde. Norman acorda porém sua mãe não.
O último episódio da temporada é magnífico, facilmente o melhor episódio da temporada e um dos melhores de toda a série. Temos o Norman planejando um evento especial para o velório da Norma. Também somos informados que a intoxicação por monóxido de carbono foi o que matou a Norma, causado pelo Norman, e esta substância pode afetar a memória. A guerra entre Romero e Norman está declarada, ele quer tentar de qualquer jeito provar que o Norman é o responsável pela morte da mãe. Norman parece conseguir manipular todos em sua volta, menos o Romero, que é astuto, inteligente e muito sagaz. Os últimos eventos na temporada do Xerife Romero consiste em como ele é pressionado pelos seus atos no passado, o que acaba fechando o cerco e ele acaba terminando a temporada sendo preso.
O final do episódio é catártico, pois ele nos mostra como ocorreu toda a libertação de tudo que estava reprimido entre sentimentos e emoções do Norman em referência com sua mãe. A partir daí temos uma excelente sequência de cenas; que é justamente quando o Norman vai até o cemitério e desenterra o corpo da Norma e a leva para casa. Logo temos uma cena completamente bizarra e bem mórbida, onde o Norman cola os olhos da defunta da mãe. Agora ele passa a conviver com a presença dela morta como se estivesse viva, e conversando com ela normalmente e constantemente, algo bastante natural para ele. Esta parte segue bem um roteiro se baseando na história original, tanto do clássico dos anos 60 quanto da obra-prima da literatura de Robert Bloch.
Sobre o elenco:
Não tem como mais elogiar e enaltecer a Vera Farmiga em "Bates Motel". Ela já atingiu um ápice de excelência inimaginável dentro da série.
Já o Freddie Highmore sempre esteve em uma ótima performance em cada temporada, porém nessa quarta ele atinge um grau superior, o ápice do seu personagem, se destacando em todas as cenas. Incrível como o Freddie cresce de produção em cada temporada, e aqui ele entrega um nível de dramaticidade muito fiel com o contexto do seu personagem.
Max Thieriot tem uma temporada bem apagada, em comparação com os seus maiores destaques nas temporadas passadas. O roteiro dessa temporada não contribuiu com o Dylan, o limitando em poucas participações na trama central.
O mesmo vale para a Olivia Cooke, que também tem uma temporada bem discreta, se limitando apenas em torno do seu transplante e recuperação morando em outra cidade com o Dylan.
Nestor Carbonell está em sua melhor temporada na série. É completamente incrível o crescimento absurdo em questão de relevância que o Xerife Romero tomou. Em contrapartida a sua atuação só melhora e cada vez mais nos surpreende. Acredito que o ápice de sua performance será exatamente na quinta temporada, com a guerra declarada contra Norman Bates. Nestor Carbonell é um ator excelente.
Ryan Hurst tem uma participação menor na temporada porém extremamente importante para o seguimento na quinta temporada. Eu estou muito curioso em como será a participação do Chick na última temporada.
Já o Kenny Johnson foi completamente esquecido nessa temporada, e eu que pensei que o Caleb teria participações cruciais nessa quarta temporada.
Parece que finalmente os roteiristas aprenderam a dar o maior foco e o maior destaque para a trama principal e deixar de lado as inúmeras subtramas paralelas. Este foi o maior erro das duas primeiras temporadas, o fato de querer contar várias histórias todas ao mesmo tempo e no fim não desenvolver bem nenhuma. Na minha opinião as histórias paralelas foram trazidas para a série apenas como uma válvula de escape, para chamar a atenção do espectador para outros rumos na história e não focar unicamente em torno do Norman e da Norma (apesar de esse ser o nosso principal interesse na série). As tramas secundárias nunca conseguiram atingir o mesmo grau de excelência dos eventos envolvendo os dois protagonistas. Na terceira temporada essas subtramas já haviam sido bem reduzidas e nessa quarta elas perderam ainda mais as suas forças. Por mais que ainda temos alguns desdobramentos paralelos na história, mas eles são bem pequenos e não interferem tanto como antes.
Outro ponto que não foi diretamente revelado nessa temporada, mas eu cheguei na conclusão: lá no começo da série foi levantado toda a questão que envolvia a construção da nova estrada que desviaria o fluxo do Bates Motel, e que obviamente a Norma Bates era contra. Ela chegou a lutar na prefeitura e comprou uma grande briga por esta causa. Porém, esse assunto não foi mais discutido na série, o que me leva a crê que a Norma perdeu a disputa e a estrada foi realmente construída.
A quarta temporada de "Bates Motel" recebeu elogios da crítica da televisão e foi indicada para dois Primetime Creative Arts Emmy Awards. Também ganhou três prêmios People's Choice Award por drama de TV a cabo, atriz de TV a cabo (Vera Farmiga) e ator de TV a cabo (Freddie Highmore). A quarta temporada do Bates Motel manteve classificações consistentes ao longo de sua exibição, com a estreia da temporada atraindo 1,55 milhão de espectadores e o final totalizando 1,50 milhão.
A temporada foi recebida com elogios da crítica. A temporada teve uma classificação 100% positiva no site agregador de críticas Rotten Tomatoes, com base em 17 respostas de críticos de televisão.
A série "Bates Motel" finaliza mais uma temporada em alto nível. A quarta temporada é de longe a melhor de toda a série até aqui. E muito por trazer uma temporada mais centrada, mais enxuta, mais focada na trama central, sem ficar vagando perdida em tramas paralelas e desinteressantes.
O que vimos até aqui foi a construção de um relacionamento entre mãe e filho baseado na obsessão, no extremismo, na devoção, na adoração, onde logo foi desenvolvido um relação tóxica e doentia. Uma demonstração de amor excessivo e corrosivo que se transformou em ódio, loucura e manipulação extrema.
A quinta (e última) temporada promete demais, pois será a primeira temporada sem a presença real da Norma Bates, o que trará um grande impacto para a trama central. Também será a primeira temporada em que teremos um Norman agindo "teoricamente sozinho", com suas escolhas e suas decisões tiradas de uma mente totalmente deturpada e psicótica.
Sem falar que nessa última temporada teremos o ápice do Norman, onde ele demonstrará toda a sua psicopatia e sua dupla personalidade. Ou seja, será na quinta temporada que Norman agirá da forma que conhecemos no clássico dos anos 60; quando o saudoso Anthony Perkins se consagrou como um dos maiores maníacos e psicopatas da história do cinema. Dessa vez o bastão foi passado para o talentosíssimo Freddie Highmore, e eu quero conferir como será a sua apresentação final na pele do lendário e icônico Norman Bates.
[27/10/2023]