Antes de se tornar um dos cineastas portugueses mais célebres da atualidade, tendo conquistado a crítica do mundo inteiro com filmes como "Tabu" e "Aquele Querido Mês de Agosto", Miguel Gomes, nascido no ano de 1972 em Lisboa, iniciou sua carreira como crítico e jornalista. Quando uma das piores crises estruturais abalou a sociedade portuguesa, tanto em âmbitos econômicos e políticos quanto sociais, a caneta deixou de ser instrumento suficiente para Gomes, que começou a realizar curtas-metragens no início da década de 2000.
Ao lado dos companheiros que fez durante seus anos de formação universitária na Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa, Gomes logo conseguiu reunir os meios necessários para realizar seu primeiro longa-metragem, filme que estabeleceu as bases do que viria a ser conhecido como o estilo deste diretor português: um cinema baseado no cruzamento entre documentário e ficção, entre realidade e imaginário fortemente influenciado pelas questões propostas e pela estética cinematográfica de movimentos importantes da história da Sétima Arte como a Nouvelle Vague Francesa e o Neorrealismo Italiano.
No entanto, Gomes só atingiu um patamar de reconhecimento nacional e internacional com o lançamento do seu segundo filme, "Aquele Querido Mês de Agosto", obra que potencializou as características do seu estilo de direção e que foi escolhida como o melhor filme português de 2009, além de ter percorrido diversos festivais mundo afora. O sucesso deu a chance para Gomes escrever e produzir seu filme mais ambicioso à época: "Tabu", um filme parte documentário e parte ficção que venceu o prestigiado prêmio da crítica no Festival de Berlim.
Decidido a dar um passo além, Gomes aprofundou seu olhar crítico ao estado das coisas em Portugal, que, após a crise econômica de 2008, mergulhou em uma verdadeira sucessão de problemáticas em todas as esferas da sociedade; assim, Gomes, ambicioso e talentoso como sempre, decidiu realizar uma trilogia de uma vez só: "As Mil e Uma Noites". Os três filmes ("O Inquieto", "O Desolado" e "O Encantado") juntos, que totalizam seis horas de duração e que adaptam algumas das histórias mais célebres contidas no livro homônimo, entrelaçando documentário, ficção e diversos lugares e épocas diferentes da história de Portugal, foram selecionados para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.