Na última década, com o crescimento dos serviços de streaming, a ideia de maratonar uma série se resume em ver a maior quantidade de episódios em uma única sentada. Vários fatores estão envolvidos nisso, mas em especial para o espectador, existe um receio de ter a experiência arruinada por spoilers, ficar de fora do assunto do momento e a antecipação para grandes retornos como o de Stranger Things. Na contramão da lógica construída por empresas como a Netflix, que funcionam com base no número de horas assistidas, ainda existem produções que são feitas para serem apreciadas aos poucos e absorvidas com calma, caso da excelente slow burner Yellowjackets.
A série foi indicada a 7 prêmios Emmy para a cerimônia de 2022 e está presente nas principais categorias da premiação: Série Dramática, Atriz e Atriz Coadjuvante, Direção e Roteiro (nesta pelos dois episódios iniciais). Yellowjackets pode não ser a concorrente mais conhecida do público, competindo com gigantes de audiência como Round 6 e Euphoria, mas chamou atenção o suficiente da crítica especializada para gerar discussões por semanas a fio, estando mais próxima das favoritas Succession e Ruptura.
Yellowjackets se beneficiou do formato semanal proporcionado pelo canal por assinatura americano Showtime, que não tinha uma série estreante que funcionasse tão bem com o público desde Billions, em 2016. Além de resenhas positivas e teorias mirabolantes no Twitter, a produção teve uma boa repercussão nas principais premiações da televisão estadunidense, com a atriz Melanie Lynskey ganhando como melhor atriz no Critics' Choice, Hollywood Critics Association e Gracie Awards. Se Lynskey não está entre suas apostas para levar o prêmio de melhor atriz em drama para casa, talvez você deva reconsiderar sua lista antes de participar de um bolão.
MOTIVOS PARA A SÉRIE GANHAR O PRÊMIO
A premissa de Yellowjackets segue duas linhas temporais, mas é bem simples de ser entendida. Em 1996, um time de futebol feminino do ensino médio sofre um acidente durante uma viagem de avião. Traumatizadas pela queda e presas no meio do nada, o grupo de adolescentes teve de sobreviver à realidade da vida selvagem enquanto esperavam pelo resgate, que demorou 19 meses para acontecer. Enquanto isso, no presente, acompanhamos quatro sobreviventes da ocasião que marcou o país: Shauna, Taissa, Misty e Natalie.
25 anos depois do acidente, cada uma delas vive um momento diferente, mas as Yellowjackets ainda são assombradas pelos acontecimentos do passado. As amigas decidiram manter segredo sobre o que realmente aconteceu durante o tempo que passaram isoladas, porém as coisas parecem mudar quando alguém começa a chantageá-las e outras coisas suspeitas começam a acontecer.
Emmy 2022: Conheça 13 atores que receberam a primeira indicação neste anoShauna (Melanie Lynskey) é uma dona de casa entediada e insatisfeita com o casamento. Por outro lado, Taissa (Tawny Cypress) busca o equilíbrio entre a família e sua campanha política no estado de Nova Jersey. Natalie (Juliette Lewis) acabou de deixar a reabilitação e, entre as sobreviventes, é a mais reativa aos acontecimentos recentes. Para resolver o novo mistério, Nat recebe ajuda de Misty (Christina Ricci), uma enfermeira esquisitona que, quando mais nova, apesar de excluída, foi essencial para a sobrevivência do grupo na floresta.
A série constrói o mistério de forma similar a outros grandes sucessos da televisão, como Lost, Twin Peaks e o existencialismo de Leftovers. As peças do quebra-cabeças são expostas aos poucos e a produção cativa pelas atuações excelentes, não apenas pelo conceituado elenco adulto, mas também pelos jovens. Interpretando versões adolescentes das personagens principais estão Sophie Nélisse, Jasmin Savoy Brown, Sammi Hanratty, Sophie Thatcher e Ella Purnell (Jackie, líder do time de futebol na época).
Yellowjackets consegue equilibrar as duas linhas do tempo e representa bem a dinâmica entre as adolescentes, em particular quando pensamos no contexto da década de 1990. Com relações de poder tangíveis entre amigas, outro trunfo é que nenhuma das personagens está presa à dualidade de ser boa ou ruim, heroína ou vilã. Trata-se de personagens com camadas e que, mesmo com atitudes que não concordamos, o roteiro e a direção combinadas nos fazem entender de onde cada uma delas parte.
Imageticamente, a série lembra bastante o gore e o surrealismo de Hannibal, principalmente quando percorre o território do canibalismo. Renovada para uma 2ª temporada, a criação das showrunners Ashley Lyle e Bart Nickerson deixa o canibalismo e várias outras questões para serem exploradas nos próximos anos. Além disso, as atrizes Lauren Ambrose e Simone Kessell já estão confirmadas para a próxima fase, que promete ter mais sangue, horror e ocultismo.
Yellowjackets está disponível no Paramount+. Fique ligado no AdoroCinema para a cobertura do Emmy 2022, que acontece em 12 de setembro.