A minissérie Inventando Anna foi lançada em fevereiro deste ano e conta a história de Anna Sorokin, uma suposta socialite e herdeira alemã que desfruta da vida de luxo, mas usa tal camuflagem para aplicar golpes em pessoas ricas. A produção de Shonda Rhimes aborda o desenvolvimento tanto da protagonista quanto de quem está a sua volta, seja amiga ou vítima. Uma delas é Rachel Williams que, agora, processa a Netflix por difamação pela forma como foi retratada na adaptação.
No entanto, a cada episódio a série esclarece que “Esta história é completamente verdadeira, exceto pelas partes que são totalmente inventadas”. Williams – ex-editora de fotos da Vanity Fair que publicou um artigo sobre sua amizade e o tempo que passou com Anna antes da adaptação chegar no streaming – argumenta que quase tudo sobre a sua personagem no programa é inventado. De acordo com a releitura feita pela série, Williams aceita alegremente os presentes e as viagens de Sorokin, mas vende a amiga às autoridades quando descobre que ela mentiu sobre a sua fortuna.
“Esta ação mostrará que a Netflix tomou uma decisão deliberada para fins dramáticos de mostrar Williams fazendo ou dizendo coisas na série que a retratam como uma pessoa gananciosa, esnobe, desleal, desonesta, covarde, manipuladora e egoísta”, afirma a queixa apresentada no tribunal federal de Delaware, nos Estados Unidos.
Ficção vs realidade
Em uma cena da minissérie, um advogado força a personagem Rachel a admitir que a protagonista pagou a conta em cada uma de suas saídas. O processo alega que a intenção da cena do interrogatório é implicar que Williams é uma aproveitadora, o que ela afirma ser falso, porque ela pagou por bebida de vez em quando, além de dividir a conta em alguns tratamentos de spa e jantares que participou.
Em outra cena de Inventando Anna, Sorokin é abandonada por Willams durante a viagem a Marrocos depois que seu cartão de crédito é recusado em um resort de luxo. Williams diz que, na realidade, ela disse a amiga – antes da viagem – que ela teria que ir embora em uma data específica para viajar para a França à trabalho. Está implícito que Williams só terminou sua amizade com Anna depois que ela passou a ter dificuldades financeiras, segundo o processo.
“Williams não deixou de ser amiga de Sorokin porque ela estava tendo problemas no Marrocos, mas porque Rachel posteriormente descobriu, em seu retorno a Nova York, que Sorokin era uma mentirosa e vigarista cujas declarações e promessas eram falsas e haviam induzido Williams a gastar cerca de US$ 62 mil em nome de Sorokin. Ela só a reembolsou US$ 5 mil, apesar das inúmeras promessas de reembolsar US$ 70 mil para compensar a dívida total e quaisquer taxas atrasadas incorridas”, afirma a queixa.
O que diz o processo
Alexander Rufus-Isaacs, representante de Williams, diz que o processo é um forte argumento de que a personagem de sua cliente foi intencionalmente deturpada para contar uma história melhor. Ele aponta para uma entrevista que Shonda Rhimes, já que ela é a criadora e produtora executiva da série: “Queríamos saber o que estávamos inventando. Nós não queríamos inventar coisas apenas por causa disso. Queríamos intencionalmente ficcionalizar momentos vs. apenas acidentalmente ficcionalizá-los”.
Em outra entrevista dada ao The Hollywood Reporter, Rhimes disse: “Houve coisas que inventamos porque precisavam ser inventadas para fazer a história realmente ser o que deveria ser”. A atriz Katie Lowes, intérprete de Rachel, disse na entrevista que a personagem é um deleite para as pessoas. “Ela é jovem, ingênua e teve uma vida privilegiada. Não acho que isso seja necessariamente verdade para Rachel Williams na vida real. Eu acho que isso é verdade para o personagem que Shonda escreveu e o que ela precisava que a personagem fosse para o show”.
Rufus-Isaacs afirma que as declarações constituem uma admissão de que a Netflix sabia que as declarações e ações supostamente difamatórias eram falsas, mas deram continuidade a fim de que o programa tivesse um vilão. Nem Rhimes e nem a produtora Shondaland são citados na denúncia.
Williams, que optou pelos direitos de seu artigo publicado na Vanity Fair e o livro não escrito para a HBO, disse ao THR: “A Netflix usou propositalmente meu nome real e aspectos reais da minha vida para criar uma caracterização totalmente falsa e difamatória de mim. A verdade importa e retratar pessoas reais requer responsabilidade real. Estou entrando com este processo para responsabilizar a Netflix por sua imprudência deliberada”.
A personagem Rachel é a única de Inventando Anna a ganhar o nome completo de uma pessoa real, o mesmo empregador e bairro de origem, de acordo com o processo. “A razão pela qual tivemos que entrar com esse processo é porque o streaming usou o nome real de Rachel e detalhes biográficos, além de transformá-la em uma pessoa horrível, o que ela não é. O dano devastador à reputação dela poderia ter sido evitado se a empresa tivesse usado um nome fictício e detalhes diferentes. Por que eles não fizeram isso por ela, quando fizeram por tantos outros personagens da série? Talvez o motivo tenha sido que ela escolheu jogar no outro time, ou seja, HBO”, disse Rufus-Isaacs. A Netflix e a Shondaland não fizeram comentários com relação ao processo.
A minissérie Inventando Anna é estrelada por Julia Garner como Anna e Anna Chlumsky como Vivian, Laverne Cox, Arian Moayed, Katie Lowes, Anders Holm, Jeff Perry, Terry Kinney, Anna Deavere Smith, Alexis Floyd e Kate Burton.