La Casa de Papel: Coreia chegou à Netflix na última sexta-feira (24) e segue bombando na lista de produções mais vistas da plataforma. Embora seja baseada na série espanhola de enorme sucesso criada por Álex Pina, o remake sul-coreano se diferencia não só pelo idioma, como também – e sobretudo – pela ambientação quase distópica da história em zona livre situada entre as duas Coreias. Além dos novos cenários – que vão desde Pyongyang, a capital do Norte, até a fictícia Casa da Moeda Unificada –, há uma mudança que certamente não passou despercebida: as máscaras usadas pelos protagonistas.
Na versão original o acessório prestava homenagem ao lendário pintor espanhol Salvador Dalí, com suas sobrancelhas grossas e seu bigode virado para cima. Na releitura, porém, o disfarce escolhido pelo Professor (Yoo Ji-tae) resgata um elemento tradicional da cultura coreana: o Yangban, um personagem surgido por volta do século 12, como parte do festival conhecido como Hahoe byeolsingut talnori.
Uma mistura de performance com ritual, o evento acontece até hoje no vilarejo de Hahoe. A pedido da divindade local, atores dançam e interpretam diferentes papéis, cada um deles marcado por uma máscara Hahoetal. Em cena estão tipos como o açougueiro, a concubina, o erudito, o monge budista, o cobrador de impostos, a noiva e, claro, o aristocrata.
Este último é o próprio Yangban, que ganhou popularidade durante a poderosa e duradoura Dinastia Joseon. O termo, que significa "dois ramos", era empregado para se referir aos homens que exerciam, ao mesmo tempo, cargos civis e cargos marciais. No geral, essas figuras bem-educadas pertenciam à classe dominante ou à pequena nobreza da Coreia – o que dialoga perfeitamente com o propósito do Professor de roubar os mais ricos.
Seguidores do Confucionismo e guardiões da "boa moral", os Yangban eram funcionários públicos, oficiais militares, administradores do governo e burocratas. Recebiam muitos privilégios do estado – incluindo terras e salários –, de acordo com seu status. Só eles podiam participar de concursos públicos e estavam isentos tanto do serviço militar quanto do regime de servidão. Aliás, eles mesmos eram donos de escravos e tinham autorização para puni-los como quisessem.
Quanto às máscaras Hahoetal, eram feitas de madeira de amieiro e esculpidas à mão, com detalhes coloridos e diferentes texturas. As mandíbulas eram móveis e ficavam presas separadamente por um cordão. Das 12 peças originalmente confeccionadas, nove sobreviveram e se tornaram tesouro nacional em 1964.
La Casa de Papel Coreia comete erro comum de remakes — enredo poderia ter sido melhor do que série originalSabendo que as Hahoetal inspiraram a equipe de figurino/caracterização, pode-se estabelecer mais uma relação entre elas e o grupo de ladrões recrutados pelo engenhoso Professor. Assim como na cerimônia teatral, cada um dos oitos membros desempenha um papel único no todo, seja por suas habilidades criminosas específicas, seja por sua personalidade e motivação.
Em La Casa de Papel: Coreia, Park Hae-soo, um dos protagonistas de Round 6, dá vida a Berlim. Completam o elenco principal Jeon Jong-seo (Tóquio), Lee Won-jong (Moscou), Kim Ji-hoon (Denver), Jang Yoon-ju (Nairobi), Kim Ji-hun (Helsinque), Lee Hyun-woo (Rio), e Lee Kyu-ho (Oslo).
Com roteiro de Ryu Yong-jae – grande fã da série original estrelada por Álvaro Morte, Úrsula Corberó, Alba Flores, entre outros –, La Casa de Papel: Coreia é dirigida por Kim Hong-sun. A 1ª temporada tem um total de seis episódios.