PCC - Poder Secreto, série documental que conta a trajetória histórica da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), está disponível exclusivamente no catálogo da HBO Max. Com quatro episódios, é baseada no livro Irmãos: Uma História do PCC, de Gabriel Feltran, e dirigida por Joel Zito Araújo – que concedeu uma entrevista ao AdoroCinema, falando sobre a produção original da HBO Max.
Na série documental, acompanhamos a trajetória do PCC, originado no ambiente prisional de São Paulo, que detém hegemonia criminal no maior estado do Brasil e segue em rápida expansão em todo o país. Os episódios contam, em ordem cronológica, a história da facção desde sua fundação até os dias atuais.
Segundo Joel Zito Araújo, PCC - Poder Secreto apresenta um panorama inédito, e importante, sobre a facção em comparação com diversos livros, reportagens e documentários sobre o assunto.
Quase tudo que vi sobre o tema, antes de dirigir a série, só dá visibilidade a um lado da história, a visão policial. A originalidade de nosso trabalho é que a nossa preocupação era apresentar o ponto de vista dos principais envolvidos, ou seja, o Estado, O PCC e as pessoas nas periferias e nas prisões que são atravessadas pela guerra entre polícia e PCC
Para isso, a produção entrevistou procuradores, promotores, carcereiros, donas de casa, empresários, e integrantes / ex-integrantes do PCC. "Este foi o nosso grande desafio, apresentar uma narrativa equilibrada entre estes diferentes pontos de vista", conta o diretor.
Com uma longa carreira em produções nacionais independentes que discutem a questão racial na sociedade brasileira, Joel Zito Araújo foi convidado por Gustavo Melo, produtor da série, que lhe enviou o livro de Gabriel Feltran, e logo despertou seu interesse.
"Quando li, vi que era mais um assunto que me interessava abordar, especialmente porque, com o foco que tenho de entender a questão racial brasileira, a série me abriria um universo novo, o poder e sedução do mundo da criminalidade e também como os jovens negros entram nisto", pontua o diretor.
"É sabido por todos que a maioria da população carceraria é constituída por pessoas de origem negra e indígena. Foi assim que me identifiquei com o tema, e vi que poderia contribuir em alguma coisa", conta sobre o projeto.
PCC - Poder Secreto analisa surgimento e funcionamento da facção
A história do PCC é marcada por muitos mitos e desinformação em nossa sociedade, então a série documental se aprofunda em seu surgimento e no funcionamento, apresentando sua lógica interna, códigos de conduta e estrutura, complexidades que para Joel Zito Araújo eram fundamentais no retrato.
Acho que o Brasil embarcou em uma canoa errada, em políticas de combate à criminalidade baseada na brutalidade pura e simples, e no encarceramento massivo. E o PCC surge desta distorção política, se alimenta e se expande aproveitando deste erro. A melhor forma de enfrentá-lo é entender corretamente como a facção funciona, e sua ideologia. E abrir mão de uma visão extremista e de desrespeito aos direitos humanos da população de periferia e da população carcerária
Para o diretor, um dos principais problemas relacionados ao surgimento e fortalecimento do PCC é a visão equivocada de que o encarceramento em massa resolve o problema da criminalidade no Brasil.
"Este tipo de ação, normalmente, só pune os mais pobres e necessitados. Devemos ter respeito pelos presos, e entender que o aprisionamento em si já é uma punição. E buscar maneiras de reintegrar aqueles que desejam ser reintegrados, e não fazer das prisões verdadeiros infernos", analisa sobre a situação.
Com carreira desde o final dos anos 80 com a produção de curtas e média-metragens, Joel Zito Araújo é conhecido por A Negação do Brasil, Filhas do Vento e Meu Amigo Fela, e chega a um momento importante como cineasta, em cartaz nos cinemas com o filme O Pai da Rita estrelado por Ailton Graça, ao mesmo tempo que faz sua estreia no streaming com a série documenal PCC - Poder Secreto na HBO Max.
"Estou no apogeu de minha carreira, podendo mostrar ao público duas facetas diferentes do meu trabalho e aprendiz enquanto cineasta, a minha criação como diretor de ficção, e no caso de O Pai da Rita estreando no gênero comédia, quase uma comédia musical, e no documentário mergulhando em um campo que nunca tinha estado antes, a questão da criminalidade no Brasil", celebra Joel Zito.
"Já tenho o retorno das pessoas que estão vendo O Pai da Rita nos cinemas, e é excelente. As pessoas saem leves e amando o filme. Agora vamos ver o retorno de uma série feita para refletir e pensar o Brasil. Espero que as pessoas amem também", finaliza.