ATENÇÃO: O TEXTO CONTÉM SPOILERS DO FINAL DO FILME MÃE DA PARELAS
Mães Paralelas aparece entre os indicados ao Oscar 2022 graças à atuação de Penélope Cruz, que disputa o troféu de Melhor Atriz, uma das categorias mais acirradas da edição. O longa assinado por Pedro Almodóvar chegou ao catálogo da Netflix em fevereiro com uma história tocante não só sobre um relacionamento improvável entre duas mães, mas também como uma reflexão sobre as consequências deixadas, até hoje, pelo período trágico da Guerra Civil Espanhola - e que está muito ligado ao final do filme.
O início de Mães Paralelas nos apresenta a bem-sucedida Janis (Penélope Cruz) e a adolescente Ana (Milena Smit). As duas se conhecem na maternidade e dão à luz a duas menininhas no mesmo dia: Cecilia (filha de Janis) e Anita (filha de Ana). Mais adiante, Janis descobre que o hospital trocou as crianças - a bebê que ela pensava ser Cecília, era na verdade a filha de Ana, que foi dada como morta após o nascimento. Tempos depois de descobrir a verdade, Janis conta a verdade para Ana e as duas se separam.
Final de Mães Paralelas: referência à Guerra Civil Espanhola
Enquanto a história entre Janis e Ana se desenrola, vemos também a personagem de Penélope Cruz em uma intensa busca por identidade, diretamente conectada à Guerra Civil. O conflito devastou a Espanha no final da década de 1930, com o golpe militar de Francisco Franco, general que estabeleceu um governo ditatorial. Na época, o grupo que o apoiava recebeu apoio de nazistas e fascistas e derrotou a chamada Frente Popular, que concentrava partidos políticos de esquerda, que queriam combater o nazifascismo.
Os anos da Guerra Civil e a ditadura de Franco fizeram incontáveis vítimas entre os cidadãos espanhóis e muitos deles “desapareceram”: seus familiares nunca conseguiram descobrir o que realmente aconteceu ou onde estariam enterrados - e muito menos punição para seus assassinos, memória dolorosa que permanece até os dias atuais. Janis, de ães Paralelas, é uma dessas pessoas cuja família foi afetada pela Guerra e, no filme, conta com a ajuda de Arturo (Israel Elejalde) para fazer uma investigação.
Cena dos esqueletos no final de Mães Paralelas
No final do filme, as escavações finalmente desentarram um grupo de esqueletos entre os quais estava o bisavô de Janis, identificado pelo objeto que estava com ele quando foi capturado. A cena mostra os outros membros da comunidade reunidos em torno dos ossos que, no fim, se transformam em pessoas de verdade. Podemos interpretar essa passagem como a recuperação da humanidade, dignidade e identidade de tantas pessoas que foram massacradas, sem justiça e sem chance de defesa, durante o período tenebroso da ditadura.
Final de Janis e Ana em Mães Paralelas
Os planos de Janis para recuperar a história e identidade de sua família também se conectam à descoberta que ela faz sobre a filha, quando o teste de DNA revela que a criança pertencia a Ana. Podemos compará-la, de forma bem metafórica, ao roubo e perda de identidades durante o período da Guerra, em que a verdade foi escondida e negada - ninguém fala sobre.
Janis decide tomar coragem para contar a verdade à Ana e, a princípio, as duas se separam, mas o filme deixa um final esperançoso em que o perdão prevalece e as duas retomam o contato.