Alguns meses antes do retorno de Euphoria para a 2ª temporada, Zendaya deu uma entrevista à Teen Vogue afirmando que os novos episódios não seriam fáceis e, nem sempre, divertidos. De fato, não há palavras melhores do que as dela para definir a continuação da história de Rue, Jules (Hunter Schafer) e de seus colegas de escola. Sem medo de tocar em temas delicados, a 2ª temporada de Euphoria amadurece profundamente seus personagens e conta com o amadurecimento do público para abraçar uma trama densa.
O primeiro episódio da 2ª temporada de Euphoria estreia neste domingo (9) na HBO e no HBO Max, mas o AdoroCinema já teve acesso a sete dos oito episódios que teremos nas próximas semanas - mas não se preocupe, não daremos spoilers!
2ª temporada de Euphoria: primeiras impressões
Entre o mar de produções que falam sobre adolescência, Euphoria sai na frente com uma combinação de elementos que vão do retrato cru do lado mais feio do amadurecimento a um ar quase de fantasia. A 2ª temporada traz de volta todos os aspectos que apresentou em 2019, mas com uma nova configuração, que muda completamente a dinâmica entre os personagens e que vai das questões mais banais da juventude a assuntos pesados em um piscar de olhos.
Personagens mais fortes e elenco à vontade
Ao assistir à 2ª temporada, a sensação, de alguma forma, é de que Euphoria transformou a vida de seu elenco: além de visivelmente imersos neste trabalho, os atores parecem ainda mais à vontade, o que torna seus personagens genuínos. Na série da HBO, os conflitos amorosos, familiares e entre amigos não vêm e vão gratuitamente - há uma rede complexa que guia as atitudes e reações de cada um de forma completamente diferente.
Nesse sentido, um dos pontos de destaque é Cassie (Sydney Sweeney): na 1ª temporada, a personagem passou por uma experiência amorosa traumática, que transformou a forma como ela lida com seus sentimentos. Estas consequências são duras nos novos episódios: embora ela enfrente situações que são comuns na adolescência, é impossível classificá-las como irrelevantes ou passageiras e a sensação - assim como temos na juventude - é de que tudo é definitivo.
Ela não é a única personagem a ganhar mais uma camada dramática e outros nomes como Alexa Demie, Maude Apatow e Jacob Elordi (que interpretam Maddy, Lexi e Nate), em especial, cativam até em seus piores defeitos.
Passado e presente: por que as pessoas são como são
Na primeira temporada, os prólogos em que Rue conta um pouco sobre a infância de seus colegas estão entre as passagens mais brilhantes da série. Na 2ª temporada, a relação entre o passado e o presente dos personagens continua tendo destaque e a série faz essa relação de forma ainda mais intensa. Quanto mais a fundo conhecemos aqueles personagens, mais complexos eles se tornam e mais sentimentos nos despertam.
Euphoria não tenta suavizar comportamentos violentos e abusivos, mas expõe como surgem e como uma infância e juventude marcadas pelos traumas têm consequências - às vezes para o resto da vida. No caso de Rue, as memórias são ainda mais significativas porque nos conectam profundamente com o vício que ela enfrenta.
Mas como já vimos muitas dessas memórias na 1ª temporada, a nova história dá mais atenção à forma como a mente dela funciona agora, no presente. Na trama da protagonista não há espaço algum para defini-la como heroína ou vítima, mas um espaço nebuloso, cujos altos e baixos são ainda mais angustiantes de acompanhar.
Zendaya brilha ainda mais
Não é à toa que Euphoria rendeu a Zendaya seu primeiro grande prêmio como melhor atriz - e podemos arriscar que outros vêm por aí e não vão demorar tanto. Entre 2019 e 2021, a vimos em outras grandes produções, como Duna e Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, mas é na série da HBO que ela ganha espaço para mostrar a potência dramática que é capaz de oferecer.
Rue é o caos em forma de personagem e o grande trunfo de Zendaya está em encontrar uma ordem nesta construção caótica em que cada expressão corporal e cada tom de voz em cada palavra nos puxam para dentro de sua confusão. Com o apoio da direção de Sam Levinson, que também a dirigiu em Malcolm & Marie, a atriz vai do sofrimento e descontrole à manipulação das pessoas e de sua própria realidade de forma que é difícil saber o que sentir em relação a ela.
Visual é marca registrada
A identidade visual de Euphoria está intimamente conectada à história que a série quer contar e, na primeira temporada, um jogo de luz e sombra muito bem feito nos deu uma experiência “sensorial” para entender o fluxo da consciência de Rue. Nos novos episódios, o diretor Sam Levinson continua usando a cinematografia a seu favor e há uma mudança de tom que acompanha a transformação dos personagens.
Um dos pontos de destaque, por exemplo, é um uso constante de jogos de espelhos e reflexos que nos ajudam a entrar e sair da mente dos personagens. É dentro da consciência que os conflitos borbulham e torturam, mas é do lado de fora - quando eles se enxergam e quando os outros os veem - que as consequências aparecem. Euphoria, como Zendaya disse em sua entrevista, não é exatamente uma diversão, mas é uma história que acelera e faz sentir - uma tarefa nada fácil.