Diz-se que o povo brasileiro tem memória curta – ainda mais quando se trata de lembrar sua própria história e seus heróis. Entre as diversas figuras que acabaram esquecidas com o tempo está Aracy de Carvalho, personagem principal de Passaporte para Liberdade. Estrelada por Sophie Charlotte e Rodrigo Lombardi, a nova minissérie da Globo é baseada na trajetória real da brasileira que, durante a Segunda Guerra Mundial, conseguiu salvar muitos judeus do Holocausto ao facilitar a emissão de vistos para o Brasil. A estreia acontece nesta segunda-feira (20), como parte dos especiais de fim de ano da emissora.
Quanto Mais Vida, Melhor!: Novela da Globo tem referências a O Diabo Veste Prada, Tarantino e mais, diz autor“Sempre digo que as histórias procuram seus contadores", observou o diretor artístico Jayme Monjardim durante a coletiva de imprensa virtual que aconteceu no último dia 10. Conhecido por trabalhos como o filme Olga e a minissérie Maysa - Quando Fala o Coração, Monjardim se emocionou ao comentar a missão de levar a vida de Aracy para a telinha. "Fico feliz de ter sido escolhido para contar histórias femininas tão importantes ao longo de minha carreira. E o fato de Passaporte para Liberdade estrear em dezembro nos faz pensar como é bom mostrar o exemplo de alguém que ajudou os outros sem pedir nada em troca."
"Estamos em um momento de reflexão muito grande, e essa história chega com a seguinte mensagem: 'olha quantas coisas podem estar acontecendo ao nosso lado sem que a gente saiba'", completou Monjardim.
SOBRE O QUE É PASSAPORTE PARA LIBERDADE?
Primeira produção da Globo em parceria com a Sony Pictures Television, a minissérie acompanha Aracy de Carvalho (Sophie Charlotte), uma mulher forte, determinada e, acima de tudo, justa. Em 1935, divorciada de seu primeiro marido e com um filho pequeno, ela vai para a Alemanha em busca de trabalho e arranja uma vaga no consulado brasileiro de Hamburgo, no setor de passaportes.
A trama se desenvolve a partir da convocação de João Guimarães Rosa (Lombardi) para ocupar o cargo de cônsul-adjunto do Brasil na cidade alemã. Logo em seu primeiro dia, o homem que viria a escrever o clássico "Grande Sertão: Veredas" conhece Aracy – e se encanta por ela na mesma hora. Com o passar dos dias, João percebe que a funcionária esconde algo e decide questioná-la.
Aracy então lhe explica que tem se encontrado com judeus às escondidas para tirá-los do país antes que caiam nas mãos do regime nazista. A princípio, João hesita em entrar para o esquema, mas logo se convence de que é o certo.
A beleza e a simplicidade de Aracy chamam a atenção não só do cônsul-adjunto – que vira seu aliado no amor e na missão secreta –, mas também de um importante capitão da SS, a tropa de elite de Adolf Hitler. O nazista Thomas Zumkle (Peter Ketnath) fica obcecado por descobrir o segredo da protagonista e começa a seguir todos os seus passos. Além de incomodarem Aracy, as frequentes investidas de Zumkle vão colocar em risco todo o suporte que ela oferece aos judeus.
“Tive a ajuda da roteirista inglesa Rachel Anthony para contar a história dessa mulher tão importante", revelou o criador e autor Mário Teixeira durante a coletiva. "Ela, que era conhecida como a viúva do Guimarães Rosa, passa a ter uma voz. Os atos dela transcenderam o trabalho de funcionária e se transformaram em uma saga humanitária. Espero que, a partir de hoje, Aracy passe a ser conhecida pelo seu próprio nome."
Um Lugar ao Sol: "No Brasil, oportunidades são roubadas diariamente da população", diz autora da novela (Entrevista)"A SÉRIE É UM CONVITE À AÇÃO", DIZ SOPHIE CHARLOTTE
Responsável por interpretar Aracy, Sophie Charlotte enalteceu a saga – pouco conhecida – da brasileira que fez a diferença para muitos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. “A jornada de Aracy é muito poderosa. Vivê-la em cena me despertou para a importância de se ter coragem na vida, de agir pelo coração, seguir adiante sem temer, não deixar o medo tomar conta. Isso virou um grande lema para mim", afirmou a atriz.
"A série é um convite à ação", continou. "A gente pode ter um discurso lindo e não fazer nada, ou ser absolutamente reservado e transformar a vida das pessoas – que foi o caso da Aracy. Espero que as pessoas despertem para esse olhar de empatia, de estender a mão. Abrir o coração para escutar e receber o outro."
Já Lombardi falou sobre a grandiosidade da trama e de seu personagem: “O João Guimarães Rosa que conheceu essa guerreira era 'só um cara'. Um 'cara' que, apaixonado por tudo que era apaixonado, chega [depois, ao Brasil] e se torna um dos maiores autores de todos os tempos. É impossível acreditar que ele tenha escrito tudo o que escreveu sem se lembrar do que viveu na Segunda Guerra. É de uma riqueza tamanha essa história”.
Os melhores e piores filmes sobre a Segunda Guerra MundialPor fim, Monjardim destacou os desafios enfrentados pela produção ao longo da pandemia de Covid-19. “Foram três anos envolvidos nesse trabalho. Começamos na Argentina, em Buenos Aires, viemos para o Rio de Janeiro, nos Estúdios Globo, tivemos que parar por um ano e trabalhamos mais um ano [para finalizar as filmagens]”, recordou o diretor artístico.
“A gente não imaginava, por exemplo, conseguir fazer a destruição da Noite dos Cristais com 12 pessoas", disse Monjardim, referindo-se ao violento ataque organizado pelo governo nazista em 1938, que teve como alvo a população judaica residente na Alemanha. "Temos que agradecer à tecnologia, pois conseguimos resolver muita coisa com a computação gráfica. Foi difícil, mas me sinto muito satisfeito com o resultado”, finalizou.
Com oito episódios e filmada inteiramente em inglês, Passaporte para Liberdade chega à TV aberta em versão dublada, mas com opções de áudio original e legendas disponíveis. O elenco brasileiro ainda inclui Tarcísio Filho, Gabriela Petry, João Côrtes, Bruce Gomlevsky e Jimmy London.
Entre os talentos internacionais estão os alemães Peter Ketnath e Stefan Weinert, o britânico Tomas Sinclair Spencer, a israelense Sivan Mast, o italiano Jacopo Garfagnolli, a polonesa Izabela Gwizdak e o americano Brian Townes.