Exatos dois anos após a exibição do último episódio da segunda temporada, Succession, série vencedora do Emmy 2020, está de volta para dar continuidade à saga da família que, agora, está mais dividida do que nunca. Kendall (Jeremy Strong) foi banido do clã dos Roy após trair e expor publicamente as atrocidades cometida pela empresa do pai e o que temos na 3ª temporada da série é uma guerra civil do filho ‘rebelde’ contra Logan (Brian Cox) e uma máquina executiva que parece ainda mais implacável e indestrutível.
A nova temporada de Succession estreia no catálogo do HBO Max em 17 de outubro, mas o AdoroCinema já assistiu aos sete primeiros episódios (serão nove no total) e vamos compartilhar aqui as primeiras impressões sobre a série e o que você já pode esperar da nova parte da trama - sem spoilers.
“O que você está pensando?” é a pergunta do bilhão
O jogo de xadrez sutil e cruel que torna Succession uma atração difícil de deixar de lado fica ainda mais complexo na terceira temporada da série, que ganha um tom diferente das anteriores. Os capítulos de 2018 e 2019 revelaram a dinâmica perversa da família Roy e de seus negócios para, depois, armar a guerra por controle, vingança - e traumas de infância, sem dúvidas -, protagonizado por pai e filho. Agora, é como se a trama tivesse “amadurecido” para uma fase de menos batalha naval e mais jogo de xadrez: tudo caminha mais devagar para acomodar estratégias complexas, prever e encurralar os próximos movimentos do adversário.
Com isso, a pergunta “o que você está pensando?” é uma das principais linhas de Succession: à esta altura já aprendemos a não confiar em nenhum dos personagens e o esforço deles para “ler a mente” um do outro é um ponto alto dos novos episódios. Esta questão (que, aliás, aparece incontáveis vezes e pode até cansar um pouco o espectador mais impaciente) ganha mais peso considerando que a temporada coloca os protagonistas em uma caçada implacável por aliados, o que envolve níveis ainda mais profundos das negociações inescrupulosas que já vimos antes.
A briga entre Kendall e Logan não é a única trama e, nos episódios mais à frente, Succession aposta em um de seus elementos primordiais: como funciona o jogo de poder e influência entre os bilionários do mundo a que nenhum de nós têm acesso, mas que afetam diretamente todo o resto da sociedade. Assim como em The Crown, da Netflix, por exemplo, a produção da HBO mergulha em grupos fechados e em histórias de famílias complexas com muita sujeira embaixo do carpete.
Os irmãos Roy: Mais inteligentes, ousados e sedentos pela atenção do pai
Com Logan e Kendall em lados opostos, os outros filhos da família Roy são as peças que mais se movimentam neste xadrez, como especial destaque para Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin), no ápice da batalha pelo posto de filho favorito do pai que, inclusive, alimenta e tira suas vantagens da competição entre os filhos. Com o magnata afastado da empresa, os dois herdeiros entram em uma disputa sanguinária pelo trono, espaço que são forçados a dividir com Gerri (J. Smith-Cameron) e com a presença alienada, mas extremamente irritante do primogênito Connor (Alan Ruck).
Com isso, a nova temporada é ainda mais certeira ao mostrar que a sede por poder não é a única coisa que move as ‘crianças Roy’, mas também, e talvez principalmente, a relação doentia que têm com o patriarca, um característica que faz parte do coração da série desde o início, mas que agora é ainda mais tensa e satisfatória de se acompanhar.
Isso porque, nos novos episódios, as acusações de Kendall deixaram Logan com a corda no pescoço, o que o tornou ainda mais sorrateiro, impaciente e rígido, deixando Shiv e Roman mais inseguros e desesperados do que nunca. Os dois reúnem tudo o que aprenderam nos últimos anos e chegam ao auge da ousadia e do 'tudo unada' em seus movimentos políticos.
Temporada mais bem-humorada da série
Não é ator que o criador de Succession, Jesse Armstrong, recebeu um Emmy de Melhor Roteiro em Série Dramática em 2020: os diálogos da trama são o que a tornam brilhante. A nova temporada não deixa a qualidade cair e, ao contrário, acrescenta mais humor à mistura. E dá certo. Neste ponto, o destaque fica com a dinâmica entre Greg (Nicholas Braun) e Tom (Matthew MacFadyen): desde o início, uma relação hierárquica entre eles explora a briga de egos em que Tom, maltratado pela família Roy, usa Greg para se sentir superior.
Mas a situação agora passa por algumas mudanças: o primo renegado continua sendo uma figura que parece completamente perdida, embora se torne, pouco a pouco, valioso e disputado pela família. Ao mesmo tempo, Tom vive as consequências da segunda temporada, em que seu nome foi envolvido no esquema dos cruzeiros e, agora, ele corre o risco de ir para a cadeia - são hilários os momentos em que ele começa a se “preparar” para a prisão, enquanto é chamado pelos colegas de “Tom Terminal”.
Com os irmãos agindo, muitas vezes, como crianças carentes e traumatizadas, o humor de Succession está justamente na ironia - temos uma partida de xadrez que vale bilhões e, ainda assim, há algo de muito patético em jogo.
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