Não é à toa que Sex Education conquistou o coração do público e se tornou uma das séries mais queridas pelos brasileiros no catálogo da Netflix. Em 2019, quando estreou, a história protagonizada por Asa Butterfield saltou imediatamente à frente de outras produções do gênero pela abordagem crua, direta e atual da sexualidade - e mais do que isso, como ela está ligada à aceitação e autoestima. E se a segunda vez foi ainda melhor, a terceira temporada de Sex Education vem para aprofundar ainda mais os temas e fazer seus personagens crescerem, sem perder o humor esquisito e desconfortável que coroa a história.
A trama dos novos episódios começa algumas semanas após os acontecimentos da 2ª temporada, quando os alunos retornam das férias. Nesse meio tempo, a nova diretora, Hope (Jemima Kirke), foi contratada para colocar a escola “de volta na linha” - uma missão que começa com a obrigatoriedade do uso de uniformes. O recurso representa graficamente a principal discussão ao longo da temporada: identidade. O visual cinza que substitui o colorido característico da série se conecta ao apagamento social de grupos, pessoas e problemas.
Novas discussões no divã
Nesse sentido, embora a sexualidade continue sendo o centro, o amadurecimento dos personagens abre novas ramificações para o debate, que incluem também, e principalmente, o lado emocional, o afeto, o companheirismo e a empatia que estão conectados à expressão sexual. A 3ª temporada de Sex Education traz, por exemplo, uma nova personagem importante, que é uma pessoa não-binária e, por meio do relacionamento dela com outras pessoas, explica de forma quase didática pontos que pessoas cis provavelmente não têm familiariaridade.
Melhor ainda: há uma participação de outra pessoa não-binária que expõe as particularidades de cada um: pessoas que pertencem a uma minoria não são todas iguais, não necessariamente defendem as mesmas ideias ou se expressam da mesma forma. De maneira geral, um dos trunfos de Sex Education é levar a sério a diversidade - ter apenas uma pessoa negra ou uma pessoa LGBTQIA+, por exemplo, não retrata a pluralidade na prática e cai mais facilmente no risco do estereótipo.
Generation da HBO Max tem atriz trans no elenco; conheça os outros atores incríveis da sérieCom isso, não só a relação desses adolescentes com o mundo é retratada, mas também - e talvez mais importante -, como eles lidam uns com os outros. Eric (Ncuti Gatwa) continua roubando a cena e o namoro com Adam (Connor Swindells) chegou a uma nova fase que diz respeito só aos dois: agora que já se assumiram publicamente como casal, o dilema vem com as descobertas sobre o papel e expectativas de cada um dentro do relacionamento.
Personagens coadjuvantes de Sex Education brilham
Falando em casal, a série é inteligente ao entender que não há como colocar tudo o que quer abordar nos ombros dos cinco personagens principais e que nem tudo o que acontece precisa estar girando ao redor deles. Assim, dá espaço para os coadjuvantes brilharem. Na segunda temporada, vimos o início do relacionamento entre Ola (Patricia Allison) e Lily (Tanya Reynolds), assim como a amizade de Jackson (Kedar Williams-Stirling) e Vivienne (Chinenye Ezeudu), que se desenvolvem nos novos episódios.
Sex Education tem cenário de Harry Potter, casal da vida real e mais 10 curiosidades de bastidoresCom as histórias dos personagens secundários, Sex Education provoca uma boa desconstrução da ideia de que, por fazer parte de um grupo que ainda precisa lutar por visibilidade, as pessoas precisam ser sempre completamente esclarecidas, “imunes” às pressões ou moralmente perfeitas o tempo todo. A busca por aprovação e os julgamentos apressados fazem parte do amadurecimento e, como já diz o ditado do século 21, “está tudo bem”.
A história de Aimee em Sex Education
Na segunda temporada da série, Aimee (Aimee Lou Wood) protagonizou um momento de partir o coração: ao ser assediada sexualmente dentro do um ônibus, a adolescente passou a andar quilômetros para ir aos lugares que precisava, sem coragem de entrar no transporte de novo - um símbolo já marcante sobre esse trauma, conhecido por muitas mulheres, pode atrasar a vida das vítimas. Nos episódios seguintes, ela ganha o apoio das colegas de escola para entrar no ônibus novamente.
O momento foi importante para a superação do medo, mas que estava longe de ser definitivo. Na 3ª temporada continuamos observando como esse evento marcou a vida dela e como afetou suas relações. Construir novamente a autoconfiança é um processo constante e nada linear, não há passe de mágica.
Por fim, o humor britânico oferece a experiência mais “sensorial” da história. Os comentários e situações totalmente inapropriados e (muito) embaraçosos deixam o público propositalmente desconfortável - ótimo, crescer é assim mesmo.
O AdoroCinema está concorrendo mais uma vez ao Prêmio iBest, a mais importante premiação da internet, na categoria Cinema, TV e Streaming e gostaria de contar com o seu voto. Então, clique aqui para votar na gente e nos seus favoritos em diversas categorias!