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    Estrela de Segunda Chamada, Débora Bloch critica educação sob governo atual: 'Momento de escuridão' (Entrevista)
    Lucas Leone
    Lucas Leone
    -Redator | Crítico
    Lucas só continua nesta dimensão porque Hogwarts ainda não aceita alunos brasileiros. Ele até tentou ir para Westeros ou o Condado, mas perdeu a hora do Expresso do Oriente. Hoje, pode ser visto escrevendo no Central Perk mais próximo.

    Com estreia da 2ª temporada no Globoplay, série retoma debate sobre o papel da escola e o descaso com o ensino público no Brasil.

    Um dos lançamentos mais aguardados do Globoplay em setembro, Segunda Chamada está de volta para mais um ano letivo na Escola Estadual Carolina Maria de Jesus. Com seis episódios, a 2ª temporada resgata temas latentes no país, como evasão escolar e feminicídio. Mas introduz outras pautas necessárias como alcoolismo, Alzheimer, pessoas em situação de rua e direitos indígenas. "A gente vive hoje uma grande tragédia no Brasil: a vitória da ignorância", lamenta Débora Bloch, intérprete da professora Lúcia na série.

    Segunda Chamada: "É o projeto da minha vida", diz Débora Bloch sobre série no Globoplay (Entrevista)

    Durante entrevista virtual, a atriz mostrou preocupação com a situação das escolas no país. "É muito grave o que está sendo feito com a educação, com o ensino público, com as universidades. É muito grave ter um ministro da Educação [Milton Ribeiro] que diz que a universidade é para poucos, que os deficientes atrapalham a escola. É um momento de escuridão."

    Débora ainda alerta: "O primeiro sinal de regimes autoritários e fascistas é o desmonte da educação e dos aparelhos de cultura. Isso destrói a identidade de qualquer povo, destrói qualquer sociedade, acaba com qualquer projeto de desenvolvimento, de civilização."

    Apesar das declarações críticas, Débora acredita em um futuro melhor. "Espero que seja apenas uma vitória de uma batalha e que, no final dessa guerra, a gente termine com educação, cultura e amor. Chega de ódio e de descaso pela vida e pelas pessoas."

    Além de Débora, o AdoroCinema conversou com as criadores da série, Carla FaourJulia Spadaccini, a diretora Joana Jabace e o ator Ângelo Antônio (a mais recente adição ao elenco). Quer saber o que vem por aí em Segunda Chamada? Então confira a seguir!

    PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA SÃO O FOCO DA 2ª TEMPORADA

    Na 2ª temporada, as autoras dão destaque para a população em situação de rua, completamente invisibilizada e com temas ainda mais extremos do que os conflitos trazidos pelos alunos. Afinal, os que não têm onde morar também não têm condições mínimas de vida – o que levanta debates sobre fome, frio, higiene básica e até mesmo pobreza menstrual. "Trazer esses personagens para a frente da câmera e para um protagonismo é humanizá-los, fazer com que todo mundo tenha um olhar para essas pessoas", afirma Débora Bloch.

    Julia Spadaccini lembra que, durante a pandemia de Covid-19, o número de pessoas em situação de rua aumentou 35%. "Já era uma condição de miséria absoluta, já viviam à margem de tudo. Hoje são 230 mil pessoas na rua", diz. E Débora complementa: "O que ficou mais evidente agora foi a desigualdade social profunda no Brasil. Poder ou não estar em casa, ter água para lavar as mãos, ter acesso a uma UTI. A pandemia deixou a ferida aberta."

    Carla Faour defende, portanto, o papel da escola não só como um lugar de ensino e aprendizado, mas também de resgate da cidadania. "Além de buscar uma nova chance no ensino formal, a população em situação de rua está atrás de seus direitos mais básicos. Muitos desses personagens chegam à escola e não têm identidade, não têm certidão de nascimento, não sabem nem que têm o direito de estarem ali", explica a roteirista.

    "Quando a gente apresenta esses personagens – e eles se sentem, inclusive, inadequados no ambiente escolar –, a gente promove uma discussão em torno da educação, da dignidade. Essas pessoas passam a existir à medida que reingressam na escola", continua Carla. "Mas a inserção desse grupo não é fácil: há resistência da direção, de alguns professores, dos próprios alunos."

    Já Ângelo Antônio agradece por dar voz a uma população tão vulnerável no papel do sem-teto Hélio. "O mais interessante é o sonho que esse personagem, que essas pessoas tinham. Como elas viviam antes de estar ali? O que as levou para a rua?", reflete o ator.

    "Hélio tinha uma família, uma filha, uma vontade de se formar. Mas, pelas circunstâncias da vida, tudo muda. É um sonho perdido, desesperança, caos total." Hélio também luta contra o alcoolismo em Segunda Chamada, e seu intérprete lembra que "a bebida é uma parceira, uma irmã, um encontro para os que moram na rua". Ao mesmo tempo,  ngelo diz que há uma salvação diante da precariedade: "A escola, a educação. Esse é o único caminho possível para a transformação da nossa sociedade."

    SÉRIE DEFENDE A ESCOLA COMO UM LUGAR DE TRANSFORMAÇÃO

    Segunda Chamada deixa claro que a formação escolar é um recurso indispensável. "Uma sala de aula tem toda uma sociedade, uma diversidade, pessoas de várias origens. E a desigualdade está refletida na escola: quem tinha acesso à internet para continuar estudando no pandemia?", questiona Débora Bloch.

    Para Carla, a escola é um lugar de convivência e de ebulição cultural, social e econômica. "As pautas sociais estão presentes. A gente tem a pauta indígena, pauta de um cadeirante e suas dificuldades para estudar. O tema é educação, mas, como é para jovens adultos, todos os personagens têm suas dores, suas feridas, têm uma história pregressa", conta.

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    No fim, esses personagens sempre voltam para a EE Carolina Maria de Jesus. Como reforça Carla: "A escola é um portal de transformação. Por mais que a gente fale da precariedade da vida deles, só o fato de eles estarem ali, de estarem resistindo, é um olhar de esperança. A escola é esse lugar de redenção. São pessoas vitoriosas: mesmo com todas as dificuldades, elas conseguiram."

    Na série, há uma preocupação em não romantizar a figura do professor: eles erram, estão cansados, às vezes não estão com vontade de dar aula, falam coisas inadequadas, deixam a vida pessoal interferir na rotina da escola. "Tem aquela figura do professor herói, o cara que se sacrifica. Mas os professores não querem isso, não querem ser encarados como vítimas ou heróis. Eles são, mas são humanos", afirma Carla. E Débora reforça: "É melhor ter bom salário do que ser herói."

    Os seis novos episódios de Segunda Chamada estão disponíveis no catálogo do Globoplay.

    Segunda Chamada
    Segunda Chamada
    Data de lançamento 2019-10-08 | min
    Séries : Segunda Chamada
    Com Débora Bloch, Paulo Gorgulho, Thalita Carauta
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    Assista agora em Globoplay
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