Um dos lançamentos mais aguardados do Globoplay em setembro, Segunda Chamada chega à sua 2ª temporada amanhã (10). E retorna com o elenco que a consagrou: Débora Bloch, Thalita Carauta, Paulo Gorgulho, Hermila Guedes e Silvio Guindane. Dessa vez, a Escola Estadual Carolina Maria de Jesus enfrenta uma baixa no número de matrículas, o que ameaça a existência do curso noturno, também conhecido como Educação de Jovens e Adultos (EJA). Mas os professores vão fazer de tudo para manter as aulas e acolher novos alunos – entre os quais estão pessoas em situação de rua.
A segunda parte começou a ser gravada em fevereiro de 2020, antes da pandemia de Covid-19 e logo na sequência da 1ª temporada. As gravações em São Paulo ficaram paralisadas entre março e novembro, voltando apenas no final do ano passado. Os 12 episódios previstos acabaram condensados em seis – o que não significa que a série vai mergulhar menos em questões como intolerância, diversidade e descaso com o ensino público e com a cultura brasileira.
Após incêndio, entenda a importância da Cinemateca Brasileira para a história do cinema nacionalA poucos dias da estreia, o AdoroCinema participou de uma entrevista virtual com as criadoras da obra, Carla Faour e Julia Spadaccini, a diretora Joana Jabace e os atores Débora Bloch e Ângelo Antônio (a mais recente adição ao elenco). Quer saber o que eles falaram sobre a nova temporada de Segunda Chamada? Então confira a seguir!
O PAPEL DE LÚCIA MUDOU A VIDA DE DÉBORA BLOCH
Ao longo da 1ª temporada – disponível no Globoplay –, Lúcia vivia assombrada pela perda do filho, que foi atropelado em frente à escola. "Essa tragédia contaminava todas as relações da personagem, pois ela transferia a falta do filho, do afeto e do cuidado para os alunos", explica Débora. Na 2ª temporada, o sofrimento de Lúcia está mais apaziguado, já que se passou um tempo desde a morte do rapaz. "Mas, como é uma dor eterna, ela mantém um envolvimento muito passional com os alunos e com a escola. Ela tem a vocação da professora, que vai além de cumprir um currículo escolar", observa a atriz.
Segundo Débora, o papel de Lúcia tem lhe ensinado bastante. "É uma das personagens mais especiais da minha carreira. Para além da importância dos professores em qualquer sociedade – e sobretudo no Brasil –, eu pude entrar em contato com mundos que não conheceria se não fosse atriz", revela. E ainda confessa: "Eu conheço o universo da escola, mas de uma escola particular – onde estudei. Foi a Lúcia que me transportou para as escolas públicas e para as periferias."
"Eu me aproximei das professoras, da EJA, do ensino noturno. A personagem me colocou na sala de aula e me fez conversar com elas, conhecer as histórias delas e as dos alunos", conta Débora. "Eu vi o quanto elas são comprometidas. Elas sabem da vida de cada estudante, qual é a trajetória de cada um. Elas têm a profissão como uma missão. E a Lúcia é dessas que lecionam com paixão e comprometimento."
Na nova leva de episódios, a educadora decide recrutar pessoas em situação de rua para estudar na EE Carolina Maria de Jesus. A temática da moradia precária (ou da ausência dela) levou Débora novamente a campo. "A gente gravava embaixo do viaduto. A produção combinou com os moradores que a gente teria o espaço entre um pilar e outro. O resto era onde eles viviam. A gente filmava, e do lado havia uma família inteira morando", lembra a atriz.
"Eu aprendi muito e sofri também, porque foi – e é – muito duro voltar para a sua casa e saber que as pessoas vivem daquela maneira. Dá uma vontade de mudar tudo ou contribuir para que isso mude", admite Débora. "E um dos canais é fazer essa série, gravar nesses lugares, falar sobre esses assuntos. É a oportunidade que o meu trabalho me dá de ser atuante no mundo, de ajudar a transformar a cabeça das pessoas."
IMPACTO SOCIAL E REPRESENTATIVIDADE MARCAM A SÉRIE
Segundo a autora Carla Faour, a recepção do público foi extremamente emocionante. "É como se a gente realmente fizesse parte de uma coisa maior, na intenção de ajudar a divulgar o ensino noturno – tão carente de prestígio", descreve. Já Débora afirma que foi o trabalho que mais lhe deu retorno: "Fui abordada na rua por professores e professoras, recebi muitas mensagens. As pessoas me agradeciam por mostrar essa realidade. E eu chorava, porque havia uma preocupação em fazer algo realista, que não fosse um estereótipo ou uma caricatura, e sim permitisse que as pessoas se sentissem representadas."
"É o projeto das nossas vidas", diz a diretora Joana Jabace às roteiristas. "E da minha também", intervém Débora. O ator Ângelo Antônio, que encarna o sem-teto Hélio, parece concordar: "É a chance de sentir que nosso trabalho funciona, que é vivo, que pode interferir ou modificar."
Eu Nunca..., Você Nem Imagina e outras produções que apostam na representatividade do elencoSEGUNDA CHAMADA TEM EQUIPE LIDERADA POR MULHERES
Joana declara que, apesar de Segunda Chamada não ser uma série feminista, é uma série feminina. "O trabalho de diretora é muito subjetivo. O fato de eu ser mulher faz diferença por isso: são as minhas experiências femininas que estão em jogo, minha história", esclarece, ressaltando que grande parte da equipe criativa é formada por mulheres – entre elas, roteiristas, produtoras, diretora de arte e figurinista.
De acordo com Julia Spadaccini, há uma certa reparação após tantos anos de dominação masculina no meio artístico. "A gente tem feito uma revolução na história da dramaturgia, ou mesmo da direção no audiovisual. As mulheres estão cada vez mais em lugares onde possam ter um lugar de fala, colocar suas temáticas, seu ponto de vista, seu olhar", comemora.
Três Verões e outros filmes com mulheres fortes do cinema nacionalDébora, por sua vez, cita sua trajetória como exemplo: "Eu trabalho desde os 17 anos na TV. Quando comecei, não existia nenhuma diretora mulher, e não me lembro de ter trabalhado com autoras na época. Mas as mulheres chegaram nesses espaços e fizeram muita diferença para nós, atrizes". Visivelmente entusiasmada com a mudança, a atriz argumenta: "Vem um outro olhar, um outro lugar para as atrizes nas histórias. Novos protagonismos, personagens mais diversas."
Carla reforça que os temas retratados – ainda que referentes ao universo masculino – trazem o olhar da mulher. Durante toda a série, são abordadas questões como aborto, maternidade, amamentação, carga de trabalho ou prostituição. "Eu e Julia não decidimos falar sobre assuntos femininos. Na verdade, esses temas estão presentes na nossa vida e naturalmente migram para a ficção. Os temas femininos que, às vezes, não chegavam nas telas agora aparecem com mais facilidade e de forma mais orgânica", analisa a roteirista.
Joana reitera que, além da questão da população em situação de rua, a 2ª temporada trata do feminicídio e da violência contra a mulher. "Quando a gente ensaiou as cenas sobre o assunto, todas as atrizes envolvidas tinham uma história para contar, tinham sido vítimas de algum tipo de abuso. Esse tema é necessário, importante", completa a diretora.
Os seis novos episódios de Segunda Chamada estreiam amanhã (10) no Globoplay.