Sucesso de popularidade na Netflix, a comédia Eu Nunca... está voltando para sua segunda temporada, prometendo mais confusões para Devi (Maitreyi Ramakrishnan), seja através de seus interesses amorosos, ou aventuras com família e amigos. A série criada por Mindy Kaling conquistou críticos (inclusive o AdoroCinema!) e público com seu roteiro sarcástico e inusitado, mas também chamou atenção por sua representatividade nas telas. Com a chegada dos novos episódios, tais personagens se tornam ainda mais complexos e interessantes — e isso é algo que deve ser celebrado.
A cultura indiana em Eu Nunca...
Para começar, Never Have I Ever (no original) se destaca por colocar uma jovem indiana no centro de sua narrativa. Não é a primeira vez que indianos aparecem em séries de comédia — basta lembrar de personagens coadjuvantes como o Raj (Kunal Nayyar) de The Big Bang Theory ou até mesmo a protagonista de Mindy Kaling em The Mindy Project. Porém, é pouco comum ver uma família do sudeste asiático no centro da narrativa, fugindo de estereótipos.
Eu Nunca..., Você Nem Imagina e outras produções que apostam na representatividade do elencoObviamente, algumas características já bem usadas na comédia também aparecem em Eu Nunca..., seja a mãe rígida que trabalha como médica ou os polêmicos casamentos arranjados. Porém, eles não são o motivo da piada, eles são centrais na piada — o que é uma diferença bem importante. Abraçar a cultura desse grupo é essencial para a jornada de Devi e sua família, mas não é disso que estamos rindo. Não rimos porque a jovem é indiana ou muçulmana, rimos porque ela é atrapalhada e toma constantes decisões erradas, rendendo vergonha alheia. Ela ser indiana é mais uma característica, que precisa ser tratada de forma normal.
Ao mesmo tempo, os problemas de Devi, Nalini (Poorna Jagannathan) e Kamala (Richa Moorjani) são questões universais, que podem se identificar com qualquer espectador. Porém, a série não foge de mostrar como são influenciadas por sua cultura e se inserem na comunidade. É mais do que apenas usar figurinos típicos, é mostrar seus personagens de maneira profunda, indo além do esperado por aquela piada clichê que já tanto ouvimos por aí.
Elenco diverso é destaque em Eu Nunca...
Mas a representatividade não se encerra na cultura indiana. Basta pensar nos seis personagens principais da segunda temporada de Eu Nunca...: Devi e a novata Aneesa (Megan Suri) são indianas; Fabiola (Lee Rodriguez) é negra e lésbica; Eleanor (Ramona Young) é asiática; Paxton (Darren Barnet) é descendente de japoneses; e, por fim, temos Ben (Jaren Lewison), que é homem branco e hétero, mas é judeu.
Cada um dos personagens citados apresenta sua própria jornada nessa história; mas vão além de suas características básicas. Após descobrir sua sexualidade na primeira temporada, Fabiola segue o relacionamento com Eve (Christina Kartchner), mas ainda tem problemas para entender sua identidade ou se relacionar com a comunidade LGBTQIA+. Nos novos episódios, é a vez de Paxton ganhar um capítulo para chamar de seu, além de mostrarem mais a família do personagem — inclusive sua irmã, que tem Síndrome de Down. Já a novata Aneesa mostra que nem toda jovem indiana é igual, mas também traz uma sensação de pertencimento para Devi, que é, finalmente, compreendida.
Eu Nunca...: Conheça o elenco principal da nova série teen da NetflixMais acima de tudo, todos são jovens que cometem erros, se apaixonam, brigam e convivem com os dilemas típicos dessa idade tão complicada. Eles estão descobrindo quem são e tentando navegar pelos obstáculos do ensino médio e outras questões particulares — por exemplo, distúrbios alimentares se tornam parte da conversa da segunda temporada. Além da representatividade cultural, Eu Nunca... é celebrada por trazer jovens mais realistas. Devi, Fab e Eleanor são nerds, mas não caem no estigma das garotas tímidas de tantos filmes dos anos 90. Elas têm suas próprias vozes e buscam o que desejam.
Obviamente, Eu Nunca... não é perfeita e não dá para representar todos os integrantes de uma cultura a partir de uma pequeno grupo de personagens. Porém, a obra criada por Mindy Kaling e Lang Fisher faz bonito ao mostrar rostos tão diversos em seu elenco, assim como a vida real também é cheia de diversidade.