NOTA: 3,5/5
O Legado de Júpiter, da Netflix, é mais uma série sobre super-heróis e promete ser o mais novo fenômeno no catálogo do serviço de streaming em 2021. Essa é a primeira produção na Netflix da Millarworld, uma empresa de quadrinhos fundada pelo escritor Mark Millar e que foi adquirida pela companhia em 2017. Algumas de suas adaptações de sucesso para o cinema são Kick-Ass 2 (2013) e Kingsman - Serviço Secreto (2015), um dos filmes de ação mais emblemáticos dos últimos anos. Mas vale a pena assistir a série?
O gênero de super-heróis é um dos mais populares e rentáveis da atualidade, especialmente depois da criação do Universo Cinematográfico Marvel em 2008 com Homem de Ferro, o que resultou em diversos filmes e séries nos últimos anos. Com esse sucesso, é natural que surjam – adaptações, na realidade – produções que procuram apresentar uma nova visão e desconstruir os super-heróis. Assim, foram lançados Watchmen (2019), The Boys (2019), Invincible (2021) e, agora, O Legado de Júpiter – que vem sendo bastante comparada com The Boys, uma comparação que pode dar uma impressão errada quanto ao seu conteúdo que foca mais no drama familiar e menos na ação eletrizante.
O Legado de Júpiter: Conheça a adaptação de super-heróis do Mark Millar na NetflixA história acompanha a primeira geração de super-heróis que, tendo recebido seus poderes nos anos 30, manteve o mundo em segurança por quase um século. Quando um herói assume o controle do governo, os filhos desses guerreiros lendários devem escolher entre apoiar o novo regime ou lutar para ficar à altura dos feitos grandiosos dos pais. Com o peso do legado nas costas, os herdeiros embarcam em uma jornada épica para proteger a humanidade de todos os tipos de mal que se levantam contra ela. Família, poder e lealdade se misturam nessa aventura multigeracional.
O Legado de Júpiter fala de conflito geracional dos super-heróis em drama familiar
O grande destaque de O Legado de Júpiter é a maneira que a produção da Netflix intercala sua narrativa em duas linhas temporais durante os oito episódios, no passado e no futuro. A primeira dela acontece no final dos anos 1920, depois que os Estados Unidos é afetado pela Grande Depressão. Sheldon Sampson (Josh Duhamel) e seu irmão Walter (Ben Daniels) e seus colegas de faculdade alugam um barco para navegar até uma ilha que ele vê repetidamente em seus sonhos.
Ele acredita que esta ilha é a resposta para suas falhas e pode ajudar a salvar os Estados Unidos. Ele parece estar delirando depois de presenciar o suicídio de seu pai, mas o grupo segue sua expedição e encontra o lugar. Acontece que todos eles retornaram ao continente em 1933 com poderes e criam o Código, uma definição moral que não permite que eles influenciem diretamente na sociedade e na política do mundo, apenas atuando com seu altruísmo em ajudar o próximo.
A outra linha do tempo se passa nos dias atuais, e Sheldon, agora conhecido como o super-herói Utópico, líder de um grupo de heróis chamado União que protege a Terra de ameaças e vilões que surgiram após a viagem original. Sheldon e Walter discordam do que deveriam usar seus poderes para fazer – assim como os filhos de membros da União, que lutam com o peso do legado que seus pais criaram.
O Legado de Júpiter: Quem são os personagens na série de super-heróis da Netfix?Esse é o diferencial de O Legado de Júpiter: uma narrativa lenta e focada no drama familiar que desenvolve aos poucos os conflitos entre duas gerações distintas de super-heróis. A primeira geração, especialmente o Utópico, enxerga o mundo em preto e branco com a crença em seu código moral para ajudar o mundo. Porém, a segunda geração, encabeçada pelos filhos dele com Lady Liberdade (Leslie Bibb) – Brandon (Andrew Horton) e Chloe Sampson (Elena Kampouris) – observam o mundo em tons de cinza, com um descontentamento e sensação de não pertencimento muito mais fora, não conseguindo lidar com a responsabilidade de carregar o legado de seus pais. Muito pelo contrário, eles olham os poderes como uma possibilidade de interferir no mundo diretamente em busca de mudanças.
Essa bússola moral permeia toda a série para desenvolver seus personagens com diferentes pontos de vista. Assim, O Legado de Júpiter traz reflexões políticas e sociais importantes sobre a funcionalidade dos governos e sobre a moralidade relativa que cada uma dessas pessoas com super-poderes traz e se elas devem ou não fazer interferências no mundo.
O Legado de Júpiter desenvolve bem suas relações conflituosas, mas peca em alguns excessos
O arco narrativo mais interessante em O Legado de Júpiter acaba sendo o do passado dos super-heróis, uma história misteriosa e instigante para descobrir melhor sobre como eles conseguiram seus poderes. Por outro lado, os acontecimentos do presente deixam um pouco a desejar. Ao mesmo tempo que o embate ideológico entre as gerações é bem desenvolvida ao longo dos oito episódios, fica a sensação clara que os personagens mais jovens e suas tramas não foram explorados da melhor maneira, claramente como uma preparação para futuras temporadas na Netflix.
O drama entre os super-heróis ganha destaque, mas e as cenas de ação? O Legado de Júpiter também conta com cenas violentas e algumas cenas de ação, que são utilizadas de forma dosada para compor as motivações de seus personagens, não apenas por estética ou para chocar o espectador. Ainda assim, esses momentos não são empolgantes, principalmente comparados com o que outras produções que conseguem trazer cenas de ação com inovações.
O Legado de Júpiter não vai agradar todo mundo por causa de sua trama lenta que explora mais o drama do que a ação entre os super-heróis. Apesar disso, a produção original da Netflix se diferencia pelo desenvolvimento profundo dos embates geracionais e suas motivações, aproveitando para traçar comentários políticos e sociais relevantes. Mesmo com algumas falhas, a primeira temporada de O Legado de Júpiter prepara muito bem o terreno para o futuro da franquia poder se aprofundar melhor nos personagens responsáveis por carregar o legado dos super-heróis – ou não.