Outros é uma série de antologia que mistura terror com comentário social, trazendo uma nova história sobre racismo a cada temporada no catálogo do Amazon Prime Video, com um tom semelhante ao das produções de Jordan Peele – diretor que tem grande importância no protagonismo negro no cinema atual–, como Nós e Corra!, e da série Lovecraft Country.
A história acompanha Henry (Ashley Thomas) e Lucky Emory (Deborah Ayorinde), um casal afro-americano que, nos anos 50, decide se mudar com sua pequena família da Carolina do Norte para um bairro totalmente branco de Los Angeles. Eles tentam escapar da segregação racial e da discriminação predominantes no sul dos EUA, onde as leis de Jim Crow ainda vigoravam. A nova casa dos Emory está localizada em uma rua arborizada e aparentemente tranquila, mas logo se torna palco de fenômenos sobrenaturais.
Um momento específico da primeira temporada, mais precisamente o quinto episódio, está deixando muitas pessoas traumatizadas – até mesmo revoltadas – por causa de seu conteúdo muito forte e, por isso, está sendo considerado o episódio mais horrível da série de terror. Vamos entender qual é essa cena polêmica!
ATENÇÃO: A matéria apresenta revelações sobre a antologia de terror Outros!
8 filmes e séries para entender os protestos e o conflito racial nos EUAQual foi a cena traumatizante no episódio 5 da série Outros?
O quinto episódio de Outros mostra um aviso de gatilho, coisa que não havia aparecido na série até então, o que deixa claro que algo mais forte e de conteúdo sensível vai acontecer no decorrer do episódios. Embora cenas angustiantes e pesadas tenham acontecido com a família Emory nos primeiros quatro episódios, os avisos de gatilho não estavam lá. O que mostra que toda a violência anterior não era nada comparada ao que aconteceria.
Na cena, Lucky (Deborah Ayorinde) passa um tempo com seu bebê enquanto seu marido e sas filhas estão fora. Uma estranha mulher branca (Dale Dickey) se aproxima e começa a cantar ofensivamente "Old Black Joe" – uma canção de cunho racista – até que sua atenção se volta para o bebê Chester, quando ela pergunta ameaçadoramente se pode ficar com ele.
Lucky nega horrorizada e corre para protegê-lo e escondê-lo, mas a mulher juntamente com três homens brancos invadem a casa. Eles abusam sexualmente de Lucky e matam o bebê em um jogo horripilante e assustador chamado "Cat In the Bag" (algo como gato em uma bolsa), que consiste em girar a bolsa descontroladamente e jogá-la pela sala – com Chester dentro –, eles só param quando percebem que o bebê morreu e começou a sangrar pela bolsa.
5 filmes para refletir e aprender sobre racismoToda a sequência, desde o momento em que os homens encontram Lucky até o final da cena, dura apenas quatro minutos, mas parece interminável. A mensagem particular aqui é de desumanização, que essas pessoas brancas não enxergam os Emorys como pessoas por serem negros.
Apesar do crime traumatizante, os assassinos do bebê Chester nunca são presos nem punidos, e Lucky é deixada para sofrer em silêncio enquanto ela lentamente enlouquece. Em uma tentativa de começar sua vida do zero e ajudar sua esposa e família, Henry Emory (Ashley Thomas) consegue um novo emprego em Los Angeles e os muda de sua pequena cidade no sul, Compton, em um bairro repleto de vizinhança branca – que é quando começam, mais uma vez, a sofrer com o racismo nos Estados Unidos.
Como a antologia Outros está sendo recebida pelo público e pela crítica?
A recepção da série está bem dividida, com 66% de aprovação pela crítica no site Rotten Tomatoes e um consenso de que "As performances emocionantes de Deborah Ayorinde e Ashley Thomas ajuda a sustentar um sentido suficiente de terror, mas a sua abordagem sem corte e sangrenta mina qualquer comentário social em favor dos horrores mais superficiais".
Essas estão sendo as principais críticas feitas sobre a produção de terror, sobre a exploração da brutalidade e trauma em temáticas raciais como um artefato estético dentro da narrativa – o maior exemplo é essa cena traumatizante no episódio 5.
Em entrevista ao TVLine, a atriz Deborah Ayorinde contou que achou as cenas difíceis de gravar, afirmando que a produção teve um terapeuta de plantão exatamente por esse motivo. "Confio na minha fé em geral na vida. Mas, eu confiei muito em minha fé neste processo. Eu precisei. Eu orei todo o caminho até o set e todo o caminho de volta para casa para ser honesto”, afirmando que fez consultas com o terapeuta quando tinha que trabalhar as coisas traumatizantes durante a série.
Os dez episódios da primeira temporada de Outros estão disponíveis no catálogo da Amazon Prime Video.