Nota: 3,5/5,0
Uma das grandes apostas nacionais da Netflix em 2020, Bom Dia, Verônica é a adaptação do livro da criminóloga Ilana Casoy e do escritor Raphael Montes, com uma temática muito brutal, porém que, infelizmente, faz parte da nossa realidade: a violência contra a mulher. Como o titulo já aponta, a trama acompanha Verônica (Tainá Müller), escrivã da polícia que passa a investigar dois casos.
O primeiro envolve um golpista online, que engana e humilha suas vítimas, numa situação que chega ao extremo, a partir de um suicídio, algo que traz lembranças sombrias para a protagonista. Ao mesmo tempo, ela luta para ajudar Janete (Camila Morgado), a esposa de um perigoso e inteligente serial killer, Brandão (Eduardo Moscovis). Tudo isso enquanto Verônica enfrenta seus próprios problemas pessoais e acaba colocando a vida em risco.
Série da Netflix traz crítica sobre a sociedade brasieira
Para começar, é preciso dizer que Bom Dia, Verônica não é uma série para todos os públicos. Sim, existem cenas violentas na narrativa, indicada apenas para maiores de 18 anos, mas nem é apenas por isso. O que embrulha o estômago é perceber como trata-se de uma história que não está muito longe da realidade. Vivemos numa sociedade onde a palavra da mulher é desacreditada, onde vítimas são taxadas de loucas ou dramáticas, e onde o status é mais importante do que o caráter da pessoa — por muitas vezes, incusive na hora de enfrentar a justiça.
A série não transforma Verônica em alguma heroína inalcançável numa sociedade utópica, mas sim como alguém que simplesmente escuta as mulheres, observa detalhes do dia a dia, e tenta, com muito esforço (e quase obsessão) lutar contra um sistema, cuja corrupção surge desde suas raízes. E, mesmo sem sutilezas, a narrativa triunfa em retratar essa faceta sombria da nossa realidade, como o machismo surge impregnado até mesmo em palavras de certas mulheres de poder, como a delegada Anita (Elisa Volpatto), por exemplo.
Tainá Müller, Camila Morgado e Eduardo Moscovis estrelam a série
Se sua temática aborda algo doloroso e potente demais, Bom Dia, Verônica encontra seus obstáculos num ritmo irregular. Por vezes, o clima constante de suspense criado pelo diretor José Henrique Fonseca não é o suficiente para justificar certa lentidão em alguns episódios. Porém, a trama encontra seu ritmo, eventualmente, culminando em dois capítulos finais capazes de deixar o espectador com o coração na mão. Inclusive, surgem algumas decisões bem ousadas de roteiro — um mérito da equipe formada por Montes, Casoy, Gustavo Bragança, Davi Kolb e Carol Garcia.
Por sua vez, Tainá Muller surge bem competente no papel principal, enquanto Camila Morgado e Eduardo Moscovis brilham em dois personagens bem desafiadores. Adriano Garib e Silvio Guindane também roubam a cena, como Prata e Nelson, dois aliados da protagonista em sua jornada. No final das contas, Bom Dia, Verônica conta com uma equipe talentosa para construir uma trama impactante, apesar das imperfeições, sem deixar nada a desejar diante dos thrillers de Hollywood.