Alex Garland possui obras que entram na categoria “ame ou odeie”. O cineasta foi responsável por dirigir e roteirizar o vencedor do Oscar Ex_Machina: Instinto Artificial e o longa-metragem da Netflix, Aniquilação. Ambas produções excelentes, porém controvérsas, dividindo opiniões. Agora, o diretor deu fruto à sua primeira série de TV, Devs, cujos dois primeiros episódios foram exibidos na última quinta-feira (27) ano FOX Premium 1.
Devs segue assassinato em campus de empresa de tecnologia
Na trama, o programador russo Sergei (Karl Glusman) trabalha na Amaya, uma companhia de tecnologia no coração do Vale do Silício. Ele é recrutado pelo enigmático CEO Forrest (Nick Offerman) para atuar na divisão secreta Devs — uma abreviação de “Developers”, ou desenvolvedores —, sobre a qual poucas pessoas na própria empresa sabem do que se trata. Enquanto Sergei está apreensivo, sua namorada Lily (Sonoya Mizuno) está encantada por ele. No entanto, quando o programador aparece morto, Lily coloca em cheque tudo o que ela sabe sobre seu namorado e sobre a empresa na qual os dois trabalhavam.
Ator de Parks and Recreation rouba a cena na série
Novamente apostando no gênero de ficção científica, Garland mescla imagens contemplativas com uma terrível conspiração, associado à misteriosa experiência da empresa Amaya e até mesmo espionagem industrial. O enredo é ancorado pela excelente atuação de Nick Offerman (Parks and Recreation), que foge de sua conhecida persona como Ron Swanson e rouba a cena como o antagonista ambivalente e enigmático Forrest. Ele lamenta a morte de sua filha, Amaya (cujo rosto estampa diversos vídeos e cartazes pela empresa, assim como uma suntuosa e assustadora estátua que observa a tudo), e certamente tentará trazê-la de volta através da tecnologia inovadora de Devs, nos episódios futuros.
Alegorias religiosas e manipulação tecnológica
O interessante de Devs são suas ideias e o modo como constrói o questionamento em relação ao mundo, as relações humanas e o suposto falso livre-arbítrio. As cenas da produção escancaram as atitudes previsíveis e questionáveis das pessoas. A série ainda dá espaço para assustadoras alegorias religiosas. Ao mesmo tempo, aborda uma tensão e um medo em torno da dependência que temos da tecnologia, como podemos ser manipulados por ela, e dos empresários que as comandam. Difícil não lembrar da recente briga de gigantes na corte dos Estados Unidos sobre o monopólio de empresas como Google, Apple, Facebook e Amazon.
No entanto, à medida em que Devs desenvolve seus mistérios tecnológicos em cenas elevadas por frases de efeito, não é bem sucedida em dar malha para seus personagens, com exceção de Nick Offerman. Sonoya Mizuno (Ex_Machina, La La Land), por exemplo, não consegue segurar a carga emocional que sua personagem está enfrentando. Talvez esse cenário mude nos episódios seguintes da temporada. O “capanga” Kenton (Zach Grenier) traz ares clichês, já a Katie de Alison Pill serve como a presença de quebra de expectativa: a boa moça que está envolvida em mistérios, mas tarda em convencer — lembrando seu papel em Star Trek: Picard.
Sem dúvida um thriller de espionagem e ficção científica — tal como os trabalhos anteriores de Garland — Devs gera curiosidade sobre o que seu enredo vai apresentar no futuro, e deixa muitas perguntas para os episódios seguintes.
Ex_Machina: Instinto ArtificialA série é exibida todas as quintas-feiras, às 22h15 no Fox Premium 1. Sua temporada completa já está disponível no aplicativo da Fox.