A série responsável por abrir caminhos para o Brasil na Netflix, 3%, chega ao fim em sua 4ª temporada. Os episódios, que estreiam nesta sexta-feira, da 14, trazem finalmente o embate entre o Maralto e Continente.
Ao longo de todas as temporadas, a série de ficção científica procurou trazer uma crítica à sociedade atual com uma trama focada em um futuro distópico onde apenas 3% da população tem o privilégio de viver com conforto em um local extremamente tecnológico.
Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, os protagonistas Bianca Comparato, Rodolfo Valente e Vaneza Oliveira, que estão na produção desde o primeiro capítulo, comentaram sobre a trajetória da série, a reflexão que ela traz e o desfecho de cada um de seus personagens.
O que os fãs podem esperar da 4ª temporada de 3%?
"Fogo no Maralto" é um dos bordões usados pelos telespectadores que acompanham a produção original nacional Netflix desde o início. Para Rodolfo, o intérprete de Rafael, essa é a temporada que finalmente trará exatamente isso para os fãs, sendo a "mais grandiosa" até hoje.
"A 4ª temporada vai fechar essa caminhada com chave de ouro, estamos muito felizes de finalizar esse trabalho, terminar de contar essa história que foi tão incrível e valiosa, o trabalho mais incrível da minha carreira. Os fãs vão adorar essa temporada cheia de surpresas, reviravoltas e fechamentos das histórias", disse o ator.
Para Bianca Comparato, a intérprete de Michele, essa é a hora do fechamento. "Muita coisa vai ser concluída, coisas que levantamos nas três temporadas, problemas e momentos de tensão que vão ser de alguma forma resolvidos. Vai ter um encerramento para as histórias", comentou.
Vaneza Oliveira, a Joana, revelou que chorou muito no set ao filmar os últimos episódios e, para ela, quem não chorou até hoje com a série, vai precisar se preparar para chorar na 4ª temporada de 3%.
A crítica social de 3%
A série é responsável por trazer muitas reflexões e até mesmo críticas à sociedade atual. Para Bianca Comparato, o momento de 3% se relaciona com a sociedade no Brasil, mas o interessante é que é cada um tem a sua interpretação. "Para mim, é muito parecido com a sociedade atual sim, principalmente a divisão que se deu no mundo, ideológica, o Brasil sofreu muito com essa divisão, não só dos políticos mas do povo também, de direita e esquerda - que eu não vejo dessa forma, acho muito mais complexo que isso", comentou.
Comparato disse que essa situação é retratada na série com os lados como Michele e André, Maralto e o Continente: "Tem uma coisa de 'que lado você está?' e acho que isso é o cerne da questão brasileira. E é um alerta para o mundo de que esse sistema pode levar um colapso ambiental e econômico, 3% é um grande alerta de: gente, pode dar errado aqui'", concluiu.
3% diz muito de questões brasileiras, mas também fala sobre questões universais como meritocracia, desigualdade e estrutura de poder para Valente e exatamente isso é o que fez com que a série se tornasse um sucesso mundial. "Tudo isso é reconhecível não só por nós brasileiros como também por pessoas de outras culturas, de outros lugares do mundo, por isso fez tanto sucesso fora daqui, as pessoas se sentem representadas pelas questões que a série traz", disse o ator.
Vaneza Oliveira aproveitou para comentar que a 4ª temporada traz uma reflexão importante sobre a estrutura que a sociedade vive hoje. "A principal crítica de 3% em todos esses anos é a estrutura que a gente vive hoje, enquanto algumas pessoas têm muito, outras têm pouco. E o quanto a gente se alimenta de justificativas para vermos essas injustiças sociais, muitas delas meritocráticas. Na 4ª temporada a gente enfatiza que quem mantém essa estrutura somos nós, porque uma sociedade se faz de maneira coletiva, então o individual reflete muito para manter essas estruturas", afirmou ela.
A revolução coletiva da 4ª temporada de 3%
Para Oliveira, a esperança que a temporada dá é que a transformação é coletiva: "Acredito que a série responsabiliza as pessoas individualmente, sinto que existe um movimento muito nichado ainda de algumas pessoas que estão em um momento de reconhecer e questionar as estruturas é importante, mas questionar suas ações também é. Nessa 4ª temporada isso fica mais evidente no desenho de cada personagem, na trajetória final de cada personagem".
Essa questão também é vista por Bianca Comparato, que revelou que o símbolo que a série coloca no final como solução com o fim do Maralto e da Concha, as instituições que controlavam a população de alguma forma acabam e a população é deixada sozinha. "Essa é a grande liberdade, quando o ser humano perceber que cada indivíduo tem sua responsabilidade no mundo e que a gente ficar só repetindo padrões ou seguindo ordens vem se provando como muito caótico. E a série aponta para isso", comentou a atriz.
Com isso, Rodolfo comentou que a 4ª temporada está preocupada em conversar sobre questões: "O diálogo é a principal mensagem dessa temporada, a escuta, o respeito, o ouvir o outro, que é o caminho das coisas, para que a gente converse e saiba respeitar uns aos outros".
A trajetória dos personagens de 3%
O Rafael foi um personagem que passou por muitos percalços ao longo da série e, para Rodolfo, ele nunca teve muito espaço para errar e seu momento de fraqueza na terceira temporada o fez aprender muita coisa. "Quando ele lida com esse fracasso, essa desilusão de perceber que ele não é esse herói que ele sempre sonhou em ser, isso ensina muito para ele. Então, na quarta temporada, vemos um Rafael muito mais maduro e mais consciente de suas escolhas, menos maquiavélico. Ele percebe que as suas ações mostram mais o que ele é do que o que ele quer fazer.", disse o ator sobre a trajetória de Rafael.
"Nesse estado atual dele, por exemplo, ele não teria roubado o chip do irmão, não teria feito o que ele fez para chegar onde chegou.", concluiu.
Enquanto isso, Michele e Joana passaram por diversas mudanças no âmbito pessoal. "A Michele deixou de ser individualista e solitária, se abriu para os outros, para os colegas, passou a confiar nas pessoas. Ela era muito defensiva, fechada e sozinha, não confiava em absolutamente ninguém. Agora, ela supera os traumas e na 4ª temporada é possível ver uma personagem muito mais aberta aos outros e preocupada com o todo, não só com ela", comentou Bianca Comparato.
Para Vaneza, a Joana era mais fechada e encontrou nessas quatro temporadas o que a impulsiona para a vida. "Desde o processo, aquela situação com o Ezequiel, a raiva, o desejo de mudança, contato com a causa, ela começou a viver como um agente de transformação dessa sociedade", disse.
"Ao longo das temporadas, a Joana se olhou, se descobriu e isso acabou aguçando a sensibilidade dela, se abrindo para o amor e o afeto na terceira temporada. Já na 4ª, todo mundo vai ver essa mulher que quer saber sobre o seu passado, olhando para o futuro, desejando um futuro melhor, mas que ainda guarda feridas por não sabe da onde veio", concluiu.
As motivações da 4ª temporada
"O que mais motiva a Joana na 4ª temporada é um novo mundo, construir um lugar completamente novo", disse Vaneza. Por outro lado, seu maior medo dela é que nada mude, que tudo que ela acreditou não aconteça e que essa sociedade que ela deseja seja só uma utopia. "No momento de decisão em relação a acabar com o maralto, fica evidente que o que ela deseja é uma sociedade diferente, até para ela criar uma outra história - dentro da utopia dela de sociedade perfeita talvez ela queira ter uma família que ela não conseguiu ter.", comenta a atriz.
Para Bianca, o caminho da Michele sempre foi do amadurecimento, desde a primeira temporada, até por isso ela essa aparência dúbia e contraditória. "Na verdade ela está se descobrindo e ela encontra esse lugar no final da quarta temporada e o seu medo é o irmão, o André, que é o seu ponto fraco", disse.
"O irmão vira o arqui inimigo, são pensamentos diferentes, formas de ver a vida diferentes, e ela tem medo de encarar isso, as verdades e o passado dos dois, os traumas dos dois irmãos e isso dá muito medo, quase paralisante na Michele. Mas nessa quarta temporada ela finalmente encara as verdades do irmão", disse ela completando com um sorriso sobre os dois finalmente baterem de frente nessa temporada - o que pode significar que veremos um embate entre os irmãos André e Michele.
Rodolfo afirma que o Rafael vai viver o grande sonho da vida dele que é poder pôr o plano em prática e destruir o Maralto, ser esse grande revolucionário e herói que ele sempre sonhou.
"Ele talvez consiga cumprir a sua missão mas também consegue colocar entrar em contato com a revolução que ele tem que fazer na própria vida dele. Ele sempre colocou esses ideais sociais acima de tudo na sua vida, nessa temporada ele aprende que não precisa apenas revolucionar o mundo mas também precisa entrar em contato com as coisas que às vezes ele deixa de lado. Mudar a sua vida, suas relações também faz parte dessa revolução, não adianta sonhar se na prática, no seu dia a dia você não aplica isso de fato.", completou.
O legado de 3% para a indústria brasileira
3% foi a primeira produção original brasileira da Netflix e depois surgiram Samantha!, O Mecanismo, Coisa Mais Linda, Sintonia, entre outras.
Bianca Comparato comentou sobre o legado da produção e revelou que no início da idealização da série, o desejo era "abrir o mercado e de mostrar para a Netflix que tem muitas coisas legais no Brasil, para mais séries serem feitas por aqui e 3% ser a primeira".
"Nesse sentido, fico muito feliz que isso aconteceu, só de ver a quantidade de produções nacionais originais na plataforma. O legado para o futuro que eu gostaria e acho que a Netflix já está fazendo é investir em novos talentos e arriscar novos gêneros, fazer essa mistura entre pessoas experientes com novidades, atores que não estamos acostumados a ver, roteiristas, diretores".
Para ela, um exemplo disso é a série Boca a Boca. "É um símbolo disso também, uma série que está fazendo muito sucesso tem o Esmir Filho, diretor de cinema, um elenco misturado de atores muito experientes e famosos e atores jovens que são lançamentos e grandes talentos. Para a gente formar uma indústria, é muito necessária essa formação técnica e de talentos, e se você segue fazendo isso a longo prazo você tem resultados muito bons para a indústria brasileira, um benefício para gente, eu adoraria que isso seguisse acontecendo", completou.