Nota: 3,5/5,0
No final de sua primeira temporada, The Umbrella Academy se encontrou numa sinuca de bico. Sem conseguir impedir o fim do mundo, os irmãos Hargreeves se veem obrigados a confiar nos instáveis poderes de Número 5 (Aidan Gallagher), voltando ao passado para evitar o apocalipse. Porém, os protagonistas acabam caindo separados em momentos diferentes da década de 60. Cada um precisou reconstruir sua vida, até que conseguir se reunir novamente para evitar mais um apocalipse. Sem falar que estão sendo caçados por um trio de assassinos suecos.
Apesar do público já conhecer bem os personagens, a nova temporada precisa de um tempo para introduções. Afinal, é preciso descobrir o que aconteceu com cada um dos protagonistas em suas respectivas chegadas aos anos 60. Com isso, a história demora um pouco pra engrenar, embarcando num clima "olha as confusões que a Umbrella Academy se meteu nessa década". Isso causa um clima de repetição, pois sobra para Número 5 ter que reunir o bando novamente numa luta contra o apocalipse. Já vimos isso antes, mas agora estamos em outro contexto histórico e visual.
The Umbrella Academy viaja para os anos 60
Por outro lado, o estilo icônico de tal época proporciona novas e intrigantes possibilidades para os irmãos. Alguns tem histórias criativas, como Klaus (Robert Sheehan, sempre cativante) virando líder de um culto. Outros tem tramas menos interessantes como Luther (Tom Hopper) e sua nova profissão. Mas o grande destaque fica com Allison (Emmy Raver-Lampman), tendo que lidar com a realidade de ser uma mulher negra no meio de uma sociedade racista em Dallas, Texas, nos anos 60. Seu envolvimento com o ativismo da época é uma jornada poderosa, abordando um heroísmo sem poderes — numa temática que (infelizmente) ainda ressoa com o mundo em que vivemos hoje, em pleno século XXI.
Uma vez que a nova situação onde eles se encontram é definida, são nos encontros dos irmãos que surgem alguns dos melhores momentos. Um trio formado por Klaus, Allison e Vanya (Ellen Page) rende uma sequência divertida, enquanto Número 5 e Diego (David Castañeda) se envolvem em missões para descobrir o motivo por trás do apocalipse. Inclusive, com uma atuação ainda incrível de Gallagher, o homem de 58 anos preso num corpo de 13 ainda entrega uma grande cena de ação no capítulo 7 — por sua vez, um episódio que exemplifica o que há de melhor na trama.
Ellen Page ganha uma trama melhor na 2ª temporada
Por mais que seja possível perceber o uso de ferramentas clichês para garantir que a temporada preencha o tempo (des)necessário de dez episódios — vide a amnésia de Vanya ou os problemas com viagens no tempo —, trata-se de uma narrativa bacana. Ainda é um universo baseado no absurdo, mas, justamente por isso, torna-se uma jornada divertida e apaixonante, principalmente na segunda metade da temporada. Exemplos de seu desenvolvimento é ver o crescimento de Ben (Justin H.Min) na narrativa, enquanto Vanya não fica presa em um subtrama infeliz, que nem no ano passado.
Já o conceito de família é um tema mais aprofundado, tanto por mocinhos como vilões. A presença de Sir Reginald Hargreeves (Colm Feore) nunca teve tanto peso, mas ajuda a mostrar as evoluções dos personagens, e o entrosamento dos irmãos como um time. Pena que boa parte da questão emocional fica nos ombros de Diego, já que seu intérprete não é o nome mais talentoso dentre os protagonistas. Tanto que sua nova companheira de cena, Lila (Ritu Arya), rouba todas as cenas da dupla.
Por fim, a série inspirada nas HQs de Gerard Way e Gabriel Bá conquistou o público com seu jeito excêntrico, porém divertido. E promete fazer o mesmo em sua segunda temporada, com o bônus de aprofundar ainda mais seus protagonistas. Tudo isso ao som de uma trilha sonora que chega a misturar Lorde, Adele, Frank Sinatra e Backstreet Boys. Ou seja, na dúvida, abrace a loucura e se jogue na festa.