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    Dark: O papel de Helene Albers na 3ª temporada da série da Netflix

    Uma análise dos dois lados da maternidade na série alemã.

    SPOILERS DA 3ª TEMPORADA DE DARK ABAIXO.

    Além da ciência e das viagens no tempo, Dark também pode ser reconhecida como uma série que fala amplamente sobre relações humanas. Desde a procura de pais desesperados por seus filhos em outras linhas temporais, a ligação emocional entre Jonas e Martha até os relacionamentos extraconjugais, a produção alemã também se apoia na complexidade do ser.

    É por isso que o espectador pode se surpreender bastante com algumas reviravoltas da 3ª e última temporada. Mais do que nunca, a ligação entre mães e filhos possui bastante atenção. Não só descobrimos que Martha e Jonas tiveram um filho que ajuda Eva (versão mais velha de Martha) a atingir seu ideal de mundo, como também vemos o apego de Hannah por um filho concebido em outra época e a perseverança de Katharina em reencontrar Mikkel e Ulrich em 1986.

    No entanto, há uma personagem que vai na contramão dos sentimentos afetuosos exibidos na série - cujas escolhas, baseadas no amor fraternal, movimentam bastante a narrativa. A mãe de Katharina, Helene Albers, pode não aparecer em tantos episódios da 3ª temporada, mas possui um papel importantíssimo que se relaciona ao pingente de São Cristóvão e à vida da própria filha.

    CONTRASTES MATERNAIS

    Além do fato de Helene assassinar Katharina em 1986 em uma cena chocante (nos moldes do que Ulrich tentou fazer com Helge Doppler, atacando-o com uma pedra), a personagem também possui uma ligação com a própria Hannah. O cenário no qual elas acabam se conhecendo - uma clínica de aborto nos anos 50 - demonstra o contraste entre as personagens: enquanto Hannah (que diz se chamar Katharina) desiste da operação, Helene vai em frente e aborta seu primeiro filho.

    Mas, além de a personagem ter apenas 12 anos na ocasião, ela também se revela como alguém que possui fé em algo: mais tarde, quando escolhe ter uma filha, Helene dá o nome à criança de Katharina, demonstrando mais um passo acertado no ciclo. Contudo, em ambos os mundos, Helene não é uma mãe carinhosa.

    Assim como vários comportamentos se repetem (por exemplo, a infidelidade de Ulrich), isso também acontece nesta relação entre mãe e filha. Mas, seguindo passos contrários, Katharina se mostra uma boa figura materna para Martha, Magnus e Mikkel em ambos os mundos (mesmo que em um deles acabe deixando Martha e Magnus para buscar o caçula no passado).

    Apesar de o pingente de São Cristóvão só se tornar um símbolo entre Martha e Jonas por conta da morte de Katharina, evento que fecha este ciclo ao longo dos anos, o ato continua sendo brutal. É possível que Helene tenha reconhecido sua filha na versão adulta, mas também há um sentimento de culpa quando Katharina lhe chama de "mamãe" enquanto a persegue pela floresta. Quando Helene diz: "Eu te abortei" isso fica ainda mais claro - e o modo como executa tal ato fica mais latente por conta da culpa que guardou por tanto tempo. Para a religiosa Helene, Katharina é como uma punição enviada do inferno para a lembrar de algo que fez graças ao livre arbítrio.

    Com este dramático arco na 3ª temporada, Dark tem a intenção de nos mostrar a maternidade em dois contrastes: o de mães que se preocupam com suas famílias, fazendo tudo por elas, e o de uma mãe em específico que fez algo por si mesma (enquanto ainda era uma criança), mas que ainda atribui a si uma boa parcela de culpa. O relacionamento arredio que Helene possui com sua filha é um reflexo do que ela mesma cometeu no passado; mas a própria série não executa um papel que culpabiliza a mãe por um aborto, pois até mesmo o mais cruel dos atos faz parte do ciclo. Se o amor fala alto, o remorso o faz mais ainda - e, na trama, isso também faz parte da evolução.

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