No final da década de 90, Denzel Washington e Angelina Jolie estrelaram o suspense policial O Colecionador de Ossos, inspirado na saga literária de Jeffery Deaver. Agora, a fascinante história da busca pelo serial killer foi adaptada para a série dramática Lincoln Rhyme: A Caçada pelo Colecionador de Ossos, que está em cartaz no AXN.
O AdoroCinema visitou o set da produção em Nova Jersey, nos arredores de Nova York, Estados Unidos, em novembro de 2019. Conversamos com o elenco e equipe para descobrir detalhes sobre a nova produção e como a série se diferencia do original. Além disso, testemunhamos como um estádio esportivo — que já foi palco de ensaios de shows de Rihanna, Justin Timberlake e Jay Z — virou um estúdio de gravações.
Na trama, Lincoln Rhyme (Russell Hornsby) é um criminologista brilhante que busca o assassino em série Colecionador de Ossos (Brían F. O'Byrne). Ele tem a carreira brutalmente interrompida por um acidente causado pelo criminoso, ficando paralisado. Três anos depois, um caso elaborado parece indicar o retorno do enigmático serial killer, e agora Rhyme vai se unir à jovem detetive Amelia Sachs (Arielle Kebbel) para tentar capturá-lo. A improvável dupla protagoniza um jogo mortal de gato e rato com o brilhante psicopata que os uniu.
Por que as pessoas gostam tanto de séries sobre serial killers?
Não é nenhuma novidade que o gênero criminal faz bastante sucesso, com novas séries procedurais sendo criadas todos os anos. Para Arielle Kebbel, intérprete da detetive Amelia Sachs, tem muito a ver com o fascínio de que as pessoas têm por casos desse tipo.
“Por que gostamos de serial killers? Eu não sei. Somos tão estranhos. Por que não somos fascinados por arco-íris?”, brincou. “Mas você está certa. Acho que existe definitivamente há um fascínio por trás disso. Acho que é meio que essa coisa psicológica, você consegue entrar na mente deles. Como alguém justifica o que eles fazem? É por isso que o perfil é tão fascinante, para analisar o que eles estavam pensando nesses momentos”.
Russell Hornsby, que vive Lincoln Rhymes, concorda. “Acho que já estamos dessensibilizados, estamos ferrados como sociedade. E então queremos olhar para as pessoas que estão mais ferradas do que nós”, comentou o ator. “Não só ficamos fascinados, mas também ficamos excitados com isso. E existe um fascínio por todas as coisas que estão erradas e divergentes. Por isso que os livros são comprados, os podcasts são ouvidos e as séries assistidas”.
O que faz Lincoln Rhyme diferente?
Entre tantas produções do gênero, o diferencial de Lincoln Rhyme é o protagonista e o relacionamento que ele tem com sua equipe. “Antes de tudo, a deficiência de Lincoln, sua mente e gosto de me imaginar como um fanfarrão no papel. São coisas sutis. Então essa a natureza arrebatadora de quem eu sou, o visual e o físico, tudo o que as pessoas vão e querer observá-lo, ver a série”, disse, modéstia à parte.
“Nós temos nossa parceria, que eu acho muito original, você sabe, [Lincoln] é cadeirante e, por isso, usamos o cérebro, a sabedoria e o gênio dele. Combinado com, literalmente, o corpo e a intuição [de Amelia], estamos conectados através de um fone e uma câmera, que ele pode ver 360 graus da cena do crime no que está acontecendo. E juntos, resolvemos esses crimes e vamos atrás do Colecionador de Ossos”, acrescentou Arielle Kebel. “Eu não vi uma parceria como essa na televisão. E acho que especialmente porque somos dois personagens quebrados que parecem fortes nesses momentos, mas também temos muito medo, conflito e trauma internos para resolver ao longo do caminho.”
Série segue filme estrelado por Denzel Washington
Assim como no filme original, Lincoln Rhyme: A Caçada pelo Colecionador de Ossos aposta na representatividade dos personagens e elenco. Afinal, no livro de Jeffery Deaver, o protagonista é branco, mas a obra é mais conhecida pelo longa-metragem estrelado por Denzel Washington.
“Acredito que [os produtores] sempre quiseram que ele fosse negro. Todo mundo está tão familiarizado com o filme, não com os livros necessariamente, que seria uma daquelas coisas em que as pessoas ficariam acaloradas. Se eles voltassem e o deixassem branco agora, se o fizessem outra coisa, um homem asiático ou hispânico, as pessoas questionariam. E, sinceramente, neste momento acho que é apenas mais interessante. E todo o elenco é bastante diverso”, disse Russell Hornsby.
Para o ator, que já participou das séries Grimm e The Affair, e dos filmes O Ódio que Você Semeia e Creed II, ainda foi importante fazer um retrato verossímil de um deficiente físico. Hornsby contou com a ajuda de um consultor, Gary Baisley, que é cadeirante, e esteve no set acompanhando as filmagens.
“Fui às aulas de fisioterapia dele e só de ver, tudo me torna humilde, porque eu posso me mover livremente e todas essas pessoas não podem. Então percebi que não é meu trabalho fazer certo ou errado, é meu trabalho fazer com que seja verdade, honrar as pessoas com deficiência dessa maneira. Eu me certifiquei de que Gary estivesse no set todos os dias, porque eu quero que ele assista todos os meus movimentos”, disse ele, apontando que o consultor inclusive lhe indicou como deveria se portar e quais músculos não poderia usar para não mexer as mãos, por exemplo. “Eu não quero que ninguém assista e sinta que eles foram falsos e foram desrespeitados de alguma forma. Se eu posso fazer como é de verdade, dentro do possível na estrutura de cinema e televisão, é disso que eu gosto. Quero que as pessoas se afastem com uma ideia diferente. Eu vejo as pessoas com deficiência de maneira diferente. E espero que eles olhem para isso como positivo”.
Para Hornsby, um dos maiores desafios foi seguir atuando mesmo com todos as impossibilidades que interpretar um deficiente físico apresenta. Afinal, atores geralmente se expressam com o corpo. Para provar que seus muitos anos no teatro e nos cinemas contribuem para o papel, durante a entrevista, Russell interpretou um poema no estilo Shakeaspeareano sem mexer um músculo do corpo, passando toda a emoção pela expressão facial, pelos olhos e pela voz aveludada.
“Acredito que as pessoas ignoram isso, quando estamos falando sobre o ator. Meu trabalho é fazer com que pareça fácil. Mas não é, é porque eu tenho o treinamento, porque estive na escola de teatro, fiz peças de teatro, aulas de voz e fala e aulas de movimento, e você está lidando com quietude e tudo isso. E é por isso que trago toda essa história de 20 anos de experiência e ea trago para Lincoln Rhyme. Essa é uma oportunidade para deixar todos esses elementos brilharem”, disse o ator. “É com os olhos. Como você olha para alguém, como você a abraça? Como você os afasta? Como você os acaricia, permite que eles saiam e envolvam você? É tudo o que nas palavras tem que fazer isso. Acredito que o público apreciará esse aspecto do personagem e encontrará um senso de humor na força, descobrindo que você é engraçado nos momentos mais sombrios.”
Angelina Jolie x Arielle Kebbel
Enquanto Lincoln Rhyme está voltando à ação, enfrentando seus próprios desafios, é a personagem de Arielle Kebbel, que tem um dos maiores desenvolvimentos ao longo da temporada, como uma protagonista feminina empoderada.
“Quando conhecemos Amelia, ela nunca fez isso antes. Ela é como um peixe fora d'água neste mundo. E ela está treinando para ser uma analisadora de perfis do FBI. Portanto, há uma versão vertiginosa deste mundo em que ela está treinando. Às vezes ela se encaixa bem e às vezes é cedo demais. Lincoln está guiando e cuidando dela”, explicou a atriz, indicando que sua personagem enfrenta uma série de questionamentos e aos poucos vai ganhando confiança para fazer as coisas sozinha. “Ela pensa. Não sei se consigo encontrá-los sem ele, sabe? Que luz é essa que depende tanto para salvar a vida de alguém? Em que momento me sinto confortável o suficiente para fazer isso sozinho? Ou ele se sente confiante o suficiente para me enviar por conta própria?”.
Kebbel ainda comparou sua atuação com a de Angelina Jolie como Amelia Sachs em O Colecionador de Ossos, comentando que se inspirou na força empoderada da atriz veterana. “Não vamos esquecer que Angelina fez esse papel. Ela é linda e delicada, mas tinha uma força sobre ela. Ela é dura nesse filme, agressiva, masculina, e é fascinante de assistir”, elogiou. “Para mim, interpretar Amelia era importante porque eu queria que as mulheres jovens vissem sua força. Seu jeito de resolver esses crimes, mas também o quão vulnerável ela está fazendo isso. Há muitas cenas de ação em que estou chorando e acho que devo ser emocional nessas sequências. Simplesmente quero que as jovens vejam que você pode estar chorando e ser forte ao mesmo tempo. Quando você está nesses momentos traumáticos, sua força interior assume o controle e se torna bastante primordial, mas isso não significa que você não está com medo.”
A artista ainda disse que trouxe algumas novidades em relação à interpretação de Jolie. “Obviamente o primeiro livro foi escrito há muito tempo, então havia algumas que eram quase nostálgicas e divertidas de se ler, porque faz muito tempo, então eu meio que queria ainda estava naquela época. E outras coisas eu me inspirei nos livros para atuar porque eram esses pequenos traços de caráter que eu queria ter certeza de trazer para essa Amelia, mesmo que eu esteja criando minha própria versão de Amelia, diferente da de Angeline. Havia coisas que eu queria honra e continuar em relação ao filme, então as pessoas assistindo vão se identificar, e outras as pessoas vão ver que fiz coisas de forma diferente para essa Amelia.”
De The Vampire Diares para Lincoln Rhyme
A atriz comparou o papel de Amelia Sachs com outros trabalhos que teve anteriormente. Você deve conhecê-la como a poderosa Lexi Branson em The Vampire Diaries, por suas participações em Ballers ou O Grito 2, ou mesmo por viver Lindsay Lister, a esposa de Dean (Jared Padalecki) em Gilmore Girls.
“Eu sinto que interpretei diferentes personagens fortes, como Lexi de The Vampire Diaries, ela tinha 300 anos e era simplesmente badass até os ossos, como se não houvesse nada que ela não pudesse lidar. E com Amelia eu sinto que é realmente importante mostrar o quão vulnerável ela é e que isso realmente a torna forte. Está menos escancarado e aparece mais como uma surpresa, como quando ela salva alguém porque ela nem sabe que pode fazer isso, mesmo que ela queira e vai lá e faz”, disse a atriz, revelando que espera que a personagem ressoe com o público. “Espero que as pessoas possam encontrar sua própria força interior enquanto assistem a Amelia”.
The Vampire Diaries: Relembre as mortes mais chocantes!De Fear the Walking Dead para o Colecionador de Ossos
A série do AXN ainda traz o dominicano Ramses Jimenez no papel do Detetive Eric Castillo. O personagem vem de uma família de policiais dominicanos, mas o único que se tornou detetive, agora novato, trabalhando sob a tutela de Michael Sellitto (Michael Imperioli). Após a morte de seu pai em serviço, Eric homenageia quem lhe inspirou. “A ideia é que as roupas que realmente vestem como detetive são todas as roupas velhas do meu pai, e eu realmente as costuro e as levo comigo”.
Jimenez também tem a responsabilidade de protagonizar um personagem latino e das forças armadas, criado especialmente para a série. Para tanto, teve que fazer uma mudança radical no visual - você deve conhecê-lo por suas madeixas compridas em Fear the Walking Dead, Hotel Artemis e Vida. “Demorei um tempo para me acostumar”, admitiu o ator, dizendo que cortou o cabelo no próprio set.
Sobre representar a comunidade latina de forma bem aprofundada nas telinhas, o ator revelou que espera que seu personagem gere identificação com o público. “Eric é um cara esperto, leal e confiável. E ele tem todas essas grandes qualidades sobre ele que eu acho que você não vê necessariamente para um personagem latino na televisão”, disse sobre pode aprofundar sua atuação sobre Castillo. “O fato de ele ser um detetive americano dominicano é muito inédito em geral, mesmo na vida real. Eu amo que ele esteja projetando positividade em relação a quem somos como latinos na comunidade latina por si só”, afirmou o ator, comentando que teve treinamento com policiais reais.
Série foi gravada em estádio onde Rihanna e Justin Timberlake ensaiaram
Os jornalistas que visitaram o set da série do AXN em novembro do ano passado pegaram uma condução da badalada Nova York até um estádio situado em Nova Jersey. Chegando lá, vimos uma enorme estrutura que um dia sediou jogos do New Jersey Devils e do Newark Nets (atualmente Brooklyn Nets) e foi palco de ensaios de shows de Rihanna, Justin Timberlake e Jay Z, e agora foi transformada em um estúdio de série de TV.
“Eu cheguei a essa arena em 1983, quando eu tinha 17 anos e vi Bruce Springsteen tocar aqui”, relembrou Michael Imperioli, que interpreta o ex-parceiro de Lincoln Rhyme, detetive Michael Sellitto. O astro veterano é conhecido por seus papéis tradicionais em Família Soprano, Law & Order e Os Bons Companheiros, e elogiou a produção dentro da arena.
As cadeiras de espectadores continuaram no mesmo lugar, o que mudou foi que no centro, ao invés de uma arena esportiva, vimos uma grande estrutura de madeira com as locações para os apartamentos dos personagens Lincoln e Amelia e para a delegacia. Curiosamente, alguns dos itens usados na produção foram deixados por artistas que passaram por lá: o sofá de Lincoln, por exemplo, foi um pedido de Jay Z quando ensaiou ali.
Em outro espaço, a equipe desmontava um set temporário para montar outro cenário que seria usado a seguir para o sexto episódio de Lincoln Rhyme: A Caçada pelo Colecionador de Ossos. Ao fundo, era possível ver um papel de parede com uma paisagem que seria vista pela janela de uma das casas. No estacionamento, trailers onde o elenco e a equipe descansavam.
Segundo a equipe que recepcionou os jornalistas, uma das vantagens de filmar em uma arena esportiva é que, os bastidores do estúdio — como figurino, arte e construção estavam todos concentrados em salas que anteriormente foram vestuários do estádio esportivo. À título de comparação, uma produção que filma no meio da cidade, precisa separar em diferentes prédios e estruturas, e as equipes levam muito tempo se movimentando de um lugar para o outro.
Onde assistir a Lincoln Rhyme: A Caçada pelo Colecionador de Ossos?
Lincoln Rhyme: Hunt for the Bone Collector tem novos episódios todas as segundas-feiras, 22 horas no AXN, e reprise aos domingos, às 20 horas.