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    Crítica Westworld 3X06: As armas de cada lado

    Série da HBO avança bem a narrativa e prepara o terreno para um embate próximo.

    ATENÇÃO! ESSA CRÍTICA PODE CONTER SPOILERS DE WESTWORLD.

    Decoerência ("Decoherence"), o título deste episódio de Westworld, possui um significado quântico. É nada mais que o colapso dos componentes de um mesmo sistema - e isso faz completo sentido em um episódio que sucede os eventos de "Genre", em que Dolores (Evan Rachel Wood) expôs os verdadeiros planos da Incite para o mundo. Se as escolhas dos robôs de Westworld já eram observadas e controladas, agora vemos que este também era o mesmo cenário em que os humanos viviam sem a menor consciência.

    Essa "prisão" já está em ruínas e, a partir deste 6º episódio, começamos a observar a reação de Serac (Vincent Cassel) com relação ao efeito dominó que Dolores provocou, da mesma forma que vimos a narrativa da série se engrandecer de modo surpreendente. Agora que entendemos o real sentido da guerra que a anfitriã planejou com cuidado, a inevitabilidade de suas ações em seus respectivos receptáculos - com atenção especial à Charlotte (Tessa Thompson) - passa a ser o maior foco deste episódio.

    O PESO DO LIVRE-ARBÍTRIO

    Sem a verdadeira Dolores e sem Caleb (Aaron Paul), "Decoherence" prioriza a falta de coerência de personagens como Charlotte e William (Ed Harris) de forma curiosa: vemos cada um se afastar cada vez mais de si mesmos em termos mentais, ainda que de modos completamente diferentes. Enquanto William está recluso num centro de reeducação mental tendo de lidar com suas diferentes versões em uma terapia que leva a sério o pensamento de "analisar a si mesmo", Charlotte se vê mais apegada à sua família que, na verdade nunca foi sua. A insatisfação com algumas medidas de Dolores nos mostra que Charlotte pode, a qualquer momento, se desapegar de si mesma e manter-se fiel à sua própria extensão.

    Uma extensão criada em prol de um único plano e que, agora, não é apenas um. É curioso como Westworld passa a trabalhar nesta temporada uma linha de raciocínio que envolve o fato de existirem diferentes versões de nós mesmos - e de como é tão difícil mantê-las unidas, ainda que todas tenham muitas similaridades. O "Homem de Preto", por exemplo, já é o "Homem de Branco", revisitando seu passado e suas escolhas com violência. Apesar de focado, o vemos sem muito equilíbrio diante de suas escolhas.

    E, falando em violência, a tão proferida frase de Shakespeare ("Estes prazeres violentos têm fins violentos"), praticamente um selo de identidade da série, é repetida neste 6º episódio. Serac rapidamente compreende que Charlotte não é bem quem diz ser, o que impulsiona a maior cena de ação do episódio (e uma das mais marcantes de toda a temporada). A anfitriã simplesmente quer sair dali para cuidar de quem, em teoria, nunca deveria ser prioridade - mas não sem antes afetar drasticamente o arco de Maeve (Thandie Newton), matando Hector (Rodrigo Santoro) e agindo de acordo com os planos de Dolores.

    DUALIDADE DE FORÇAS

    Maeve, por outro lado, se repete rapidamente dentro do cenário nazista e, apesar de promover ótimas cenas, nada daquilo adiciona muito à sua real participação na narrativa. O verdadeiro brilho de sua presença está nos diálogos com personagens importantes: o primeiro com Serac no início do episódio, em que vemos mais desta parceria perigosa; e o segundo - este ainda mais importante - com uma cópia de Dolores pré-guerra. Próximo ao fim do episódio, Maeve repete algumas palavras que ambas já trocaram antes. "Que outra escolha eu tenho a não ser lutar contra você?", ela pergunta a uma Dolores antes de ver mais um aliado partir de vez. O terreno para um forte embate entre as duas personagens mais resilientes de Westworld já está preparado.

    "Bom ou mau, tudo o que fizemos nos trouxe até aqui". William diz isso a Delos (Peter Mullan) durante sua terapia intensiva virtual pouco antes de se auto-afirmar um homem do bem, um mocinho numa história de heróis e vilões. De todo modo, é interessante notar como sua afirmação a Delos salienta algo que está presente em todos os personagens de Westworld: todos acreditam que são heróis ao seu modo. Todos querem legitimar seus ideais perante ao mundo - seja ao lado dos robôs ou ao lado dos humanos - porque acreditam na causa na qual foram inseridos, ou na que escolheram de modo a provar seu livre-arbítrio.

    É de trazer reflexão os caminhos pelos quais Westworld segue nesta 3ª temporada. Ao mesmo tempo em que amplia seus horizontes e nos proporciona, aos poucos, vislumbres de uma iminente guerra de realidade vs tecnologia, a grande parte dos personagens (com exceção de Serac, cujo objetivo é dizimar a liberdade de qualquer forma) não nos é apresentada no corpo de um vilão ou herói completo.

    Está mais do que claro que os anfitriões deveriam formar uma aliança contra Serac e a tudo o que ele simboliza. Porém, enquanto isso não acontece, a dualidade presente nos principais personagens (William, Dolores, Maeve, Bernard e Caleb) é o elemento que mais traz substância ao cerne de toda a história. É o que sempre deu luz à Westworld e é o que continua a fazer.

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