ATENÇÃO! Contém spoilers do ep. 4 da terceira temporada de Westworld, “The Mother of Exiles”.
E finalmente Westworld chega a algum tipo de resposta -- ou algo próximo disso, o que é um grande mérito, em se tratando da dinâmica enigmática apresentada ao longo das temporadas anteriores. Levamos praticamente dois anos e quatro episódios para rever o time principal de protagonistas, já que é a primeira vez desde o finale anterior em que todos dão as caras em um mesmo capítulo. William (Ed Harris), o saudoso "Homem de Preto", está de volta, ou pelo menos o corpo dele está ali. Já a cabeça....
O episódio 4, "The Mother of Exiles", exibido no último domingo (5), é o que podemos chamar de ponto fora da curva desta atual fase de Westworld. As cartas estão na mesa e finalmente sabemos quem são (quase todas) as personalidades que estão nas cabeças dos anfitriões espalhados pelo mundo "real". E a resposta é:. Dolores, Dolores, Dolores e Dolores. Sim, a mais avançada e carismática criatura da série, a chave de todas as perguntas, copiou sua persona para as pérolas e as introduziu em réplicas de personagens já conhecidos -- Charlotte Hale (Tessa Thompson), Musashi (Hiroyuki Sanada), o agente Martin Connells (Tommy Flanagan) e nela mesma, a verdadeira Dolores (Evan Rachel Wood). Isso explica muita coisa. Ou será que deixa tudo mais confuso?
Mas muita movimentação ocorreu antes da grande revelação, que certamente norteará os desdobramentos dos capítulos remanescentes (são mais quatro nesta temporada). Ainda que o título "a mãe dos exilados" seja uma referência óbvia à libertadora Dolores (trata-se de um trecho do poema "O Novo Colosso", de Emma Lazarus, que se encontra gravado na base da Estátua da Liberdade, em Nova York), há bastante foco em William, que alcançou o "fim de seu labirinto" e se tornou definitivamente um narrador não-confiável da história. Chega a ser melancólica a imagem dele enclausurado em um asilo, vestido de branco (vamos chamá-lo de "Homem de Branco" agora?), desiludido e sem saber se o que vive é realidade ou fruto da imaginação. Fica a torcida para que o grande antagonista da primeira temporada recupere sua relevância na narrativa, ou se será o único integrante de uma trama paralela feita para se encher linguiça.
Temos também as trajetórias confusas de Maeve (Thandie Newton) e Bernard (Jeffrey Wright), dois anfitriões que temos certeza de que são eles mesmos (temos?) e de que sabem o que estão fazendo (será?). Bernard ainda parece perdido no modo como conduz suas intenções, e mesmo a parceria e o alívio cômico ao lado do velho companheiro Stubbs (Luke Hemsworth) não dá sentido ao que ele parece realmente procurar. Como tudo em Westworld, é possível que mostrar essa indecisão seja uma manobra proposital da série para ele sorrateiramente ganhar força nos próximos episódios -- os quais prometem apresentar significativas disrupções na trama.
Afinal, conforme Serac (Vincent Cassel) avisa a Maeve antes de visitarem a antiga casa de Arnold, uma grande "divergência" ocorrera três meses antes. Tudo leva a crer que isso se refere à chegada de Dolores com suas ações libertadoras. Mas e se na verdade o agente das mudanças for Bernard? Ou mesmo Maeve? Ou até a agora sensível Charlotte (ou "Charlores")? Ou até mesmo outro personagem que pensamos ser humano mas é um anfitrião "disfarçado"? Westworld tem nos ensinado desde seu primeiro momento de que nada é exatamente o que parece, então não seria anormal se descobrirmos que o grande vilão desta temporada ainda não foi corretamente determinado.
Outro foco deste episódio foi nos combates físicos entre os anfitriões, que representam embates mais justos e visualmente interessantes. Dolores e Stubbs se pegam na porradaria gratuita em meio a um baile de máscaras, com vitória para ela, enquanto a briga entre Musashi/Dolores e Maeve tem direito até a espada samurai, com a derrota da segunda. Sabemos que Maeve não morreu de fato (como quase ninguém morre em Westworld), mas fica claro pelas atitudes posteriores de "Musashi" que a mais maternal das anfitriãs teria um lugar reservado no grande plano arquitetado pela verdadeira Dolores. Também dá o que pensar o conteúdo dos muitos barris espalhados pela destilaria: uma gosma branca semelhante à substância com que os anfitriões são construídos. Será que Dolores estaria tramando um exército?
Enquanto todos brigam com todos e máscaras caem, Westworld segue caprichando em sua visão ousada sobre o futuro reservado a nós daqui quatro décadas. De acordo com os showrunners Lisa Joy e Jonathan Nolan, o ano de 2056 terá popularizado a criptografia sanguínea, os foguetes que pousam sozinhos, os óculos de realidade virtual mais perfeitos do que a realidade, os leilões sexuais e as drogas digitais, entre tantas outras facilidades (eu particularmente quero provar ternos daquele jeito!). Além disso, um incidente termonuclear vai destruir Paris em 2025, algo que trouxe consequências consideráveis a tudo o que vemos acontecendo, e é provável que as consequências brutais de outras guerras ainda nos serão reveladas nos próximos capítulos.
Aos poucos vai ficando mais claro o plano de Dolores de libertar as máquinas e abrir os olhos dos humanos. Mas também se torna evidente que tal trama vem carregada de desvios de conduta moral que tornam sua causa difícil de ser suportada -- pelo menos por nós, os seres humanos que assistem à série. Quem é o verdadeiro antagonista de Westworld? Para quem deveremos torcer daqui em diante? Será que as intenções de Serac são tão ruins assim? Hector (Rodrigo Santoro) vai reaparecer? E qual é afinal a função de Caleb (Aaron Paul) nessa história, além de ser o fiel escudeiro-acessório de Dolores? São muitas as perguntas, mas elas só devem se acumular a uma pilha de novas questões que fatalmente surgirão na semana que vem.
Westworld retorna com novos episódios todos os domingos, às 22h, na HBO e HBOGo.
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