Nota: 3,5/5,0
Bendita seja a série com episódios de 20 minutos de duração! Numa era onde temporadas de séries novas são lançadas a cada semana, em muitas plataformas e emissoras, nos mais variados formatos, já surge como um alívio perceber que I Am Not Okay With This entra no grupo de produções mais curtinhas. Obviamente, isso não vale de nada se a trama não apresentar a qualidade necessária para se manter com menos tempo de tela. Felizmente, não é o caso aqui.
A história gira ao redor de Sydney (Sophia Lillis), adolescente rebelde que ainda está de luto pelo suicídio do pai e ainda precisa lidar com as turbulências típicas de tal fase. Sua vida se divide entre brigar com a mãe, Maggie (Kathleen Rose Perkins); se manter próxima da melhor amiga, Dina (Sofia Bryant) — que começou a namorar o atleta mais popular da escola —; e uma relação inusitada com o excêntrico vizinho Stanley (Wyatt Oleff). Isso seria uma história comum de amadurecimento se não fosse por um pequeno detalhe: Syd começa a descobrir que tem poderes, os quais nem sempre consegue controlar.
Para muitos, I Am Not Okay With This vem sido descrita como uma mistura de Stranger Things e The End of the F***ing World; por ter os mesmos produtores de tais obras. E realmente, apresenta algumas semelhanças... Se Syd é uma Eleven (Millie Bobby Brown) em desenvolvimento, aprendendo o poder da amizade, ao mesmo tempo, a estética da direção Jonathan Entwistle lembra mais a segunda, junto com as personalidades sarcásticas e ácidas de alguns personagens — inclusive sua protagonista.
Afinal, trata-se de uma adaptação dos quadrinhos de Charles Forsman (também criador de TEOTFW) e também traz referências à clássicos como Stranger Things ensina. Só que nesse caso, não fica preso à uma década, passeando entre Carrie, A Estranha (1976) e Clube dos Cinco (1985). A diferença é que as conexões são claras (principalmente em figurinos), porém não são o motivo da história.
O grande trunfo de IANOWT surge justamente em sua simplicidade, focando bem nos conflitos internos de Syd, se apoiando numa emocionante atuação de Lills (inclusive na narração!), para orientar a narrativa. A partir daí, você pode seguir dois caminhos. O primeiro é o mais fácil, ao acompanhar a trama como se X-Men tivesse se transformando numa série teen. A outra, e mais interessante, é perceber como os poderes são uma analogia para conflitos que a jovem passa, como o luto, o amadurecimento, a descoberta sexual, depressão e ansiedade... Tanto que a jornada sobrenatural de Syd é bem menos interessante que o lado emocional da jovem. Tal metáfora é feita de uma forma tão natural que você pode ver ambas suas vertentes de forma simultânea, numa maratona fácil de seguir e com personagens carismáticos.
Se, nos primeiros episódios, a obra criada por Jonathan Entwistle e Christy Hall caminha por uma trajeto bem didático, a história já te encanta o suficiente para capturar a atenção até sua primeira grande reviravolta, rendendo seus três (e melhores) episódios no final da temporada. O charme está justamente em seu formato curto, que não enrola, nem exagera os acontecimentos e te entrega algo rápido para assimilar. "Mais um dia no paraíso" se inspira nos filmes de John Hughes para apresentar um arco bem divertido, enquanto "Tal pai, tal filha" aprofunda as questões ao redor do pai de Syd e, consequentemente, os sentimentos de sua situação em crise. Tudo para o encerramento "Segredo mais sombrio" trazer algo satisfatório, mesmo sem inventar a roda. Pois, até em seus momentos previsíveis, a série funciona.
Se já ficou claro que Sophia faz um bom trabalho como a protagonista, é Wyatt Oleff quem rouba a cena como Stan. O amigo engraçado de qualquer herói aqui encontra uma forma muito honesta, carregando sua excentricidade, mas ainda criando sua identificação com o público. Sofia Bryant também é cheia de empatia em sua Dina, fugindo dos estereótipos enquanto Aidan Wojtak-Hissong é uma revelação que aproveita bem o louco roteiro, no papel de Liam, irmão de Syd.
Normalmente, o final de uma crítica define brevemente toda a opinião, mas aqui isso não é preciso. Essa foto de Stan já traduz a reação sobre I Am Not Okay With This: