Um assombroso crime na Geórgia tinha tudo para ser facilmente resolvido pois as pistas são evidentes. O autor do crime foi visto por diversas testemunhas da cidade onde vive (incluindo por uma criança), a polícia não teve dificuldade alguma em encontrar vídeos que registram o homem andando por locais públicos banhado de sangue e, mais importante, todas as impressões digitais encontradas na cena do crime e em seu veículo batem com apenas uma pessoa: Terry Maitland (Jason Bateman).
Mas, por mais simples que pareça ser e por mais certos que estejam os policiais - especialmente o detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn) -, nada está garantido. Indo na direção oposta do pensamento "contra fatos não há argumentos", a série The Outsider, da HBO, já insere em seu episódio piloto o que parece ser o grande questionamento da temporada: se não Terry, então foi um doppelganger quem cometeu o crime atroz contra o garoto de 11 anos? E ainda com algumas perguntas a mais: quem o fez e por que?
Certamente, contra fatos há muitos argumentos. No episódio de estreia apresentado à imprensa antes da data de lançamento (que acontece neste domingo, às 23h, com episódio duplo), há bastante equilíbrio em apresentar o personagem de Terry com certo distanciamento, mas ainda assim com provas expressivas de que ele não poderia ter cometido o assassinato. Fisicamente, o personagem não estava nem na mesma cidade no momento do crime. Psicologicamente, ele não nos é apresentado como um homem com princípios controversos: Terry possui uma família, é treinador de beisebol infantil e as pessoas da comunidade sabem quem ele é desde a infância. Por ser uma cidade pequena, todos ali se conhecem - assim como todos mostram-se perplexos ao vê-lo sendo levado à prisão no meio de um de seus jogos.
Ao mesmo tempo em que expõe todas estas informações, The Outsider também entrega o outro lado da moeda para a confusão de todos: o homem que cometeu o crime é idêntico a Terry e fora visto dirigindo uma van branca com o pequeno garoto que seria morto dali a algumas horas. É intrigante ver como ele (ou seu clone, seja lá o que for) não se escondeu nem por um segundo de câmeras de vigilância ou de um bar da cidade, por exemplo. Com tal cenário exposto, ainda mais sendo um projeto baseado na obra homônima de Stephen King, é inevitável pensar que há algo sobrenatural rondando Terry e a cidade em si. Em determinada cena (uma das poucas que explicitam que algo fora da normalidade está acontecendo), vemos um homem encapuzado sem o rosto à vista observando a casa em que o treinador mora. Ou seja: há muito mais por trás deste crime aparentemente fácil de ser finalizado.
Mas, se o "clone" ou a criatura tem apenas Terry como vítima ou planeja executar mais crimes, isso não dá para saber apenas no primeiro episódio. O que The Outsider deixa claro é que esta é uma história sobre perdas, sobre como lidamos com o luto. A grande motivação do personagem de Mendelsohn, por exemplo, nasce do luto que sente pelo próprio filho, que morreu precocemente. Sua fúria em querer prender Terry mesmo sem ouvir seu álibi já mostra que ele vai buscar por justiça a todo custo.
Além disso, o piloto também já demonstra ter uma identidade visual muito apegada às sombras, à escuridão. Em diversos momentos, inclusive nas cenas que Terry fala com a polícia, vemos o personagem de Mendelsohn parcialmente escondido das luzes, como se estivesse à espreita para agarrar sua presa. Assim como também vemos tal estilo com Bateman passando a noite na prisão em uma cela separada de outros detentos que já lhe ameaçam por supostamente ter cometido o assassinato. Ambos os personagens estão se escondendo, mas por motivos opostos: um espera para atacar, outro se esconde.
The Outsider já começou de forma promissora. Jason Bateman, além de participar do elenco como um dos personagens mais intrigantes, também dirige os dois primeiros episódios e demonstra bastante segurança em ambas as funções. Pelo menos no piloto, há muito de Ozark na nova aposta da HBO - tanto na fotografia repleta de cores frias ou na escolha de seguir a narrativa de forma vagarosa e carregada. Resta saber qual caminho a série escolherá para seguir: a do luto, do sobrenatural, ou se será uma mistura de ambos.