Sucesso de público, The Good Doctor é mais do que uma série médica. Não só isso, traz como carta na manga um nome e sobrenome que criou outra produção de sucesso: House. David Shore é a mente responsável por dirigir, roteirizar e produzir O Bom Doutor (na tradução). Ele conversou com o AdoroCinema para desvendar os segredos do programa estrelado por Freddie Highmore, cuja terceira temporada estreou no Globoplay.
Segundo ele, o principal diferencial da série é que trata-se não somente de uma série com médicos salvando vidas, mas de um programa focado em relações humanas e um “enredo que existe como uma desculpa para explorar o personagem”.
“Eu não gosto de desenhar pessoas. Isso é a distinção entre personagem e trama da qual as pessoas falam e é certamente relevante. Há certas séries que têm enredos muito mais felizes e são sobre os casos médicos, e outras que focam nos relacionamentos pessoais”, disse o showrunner em uma mesa redonda por telefone que contou com a presença do AdoroCinema. “Não gosto de traçar uma linha divisória entre os dois. Para mim — e esse tem sido o caso de The Good Doctor e House — não penso nisso como uma série médica”, afirmou Shore, completando que a afirmação poderia “parecer estúpida”. “Obviamente, estamos lidando com casos médicos. Mas eles existem apenas como uma oportunidade de explorar os personagens”, afirmou, comentando que não se lembra de determinado episódio quando os fãs comentam sobre as doenças. “Lembro-me das coisas pessoais com as quais estavam lidando, e [dos elementos] que as coisas médicas deram origem. Podemos ter uma ótima ideia médica, mas não é uma ótima ideia médica até que possamos nos permitir explorar os personagens de alguma maneira”.
A série tem como protagonista um cirurgião brilhante e sensível, que é autista, Shaun Murphy (Freddie Highmore), que usa seus dons extraordinários para salvar vidas. Shore ainda revelou como foi dar vida uma temática tão delicada. “[O autismo] é a forma de diversidade que recebe menos atenção. Olhamos para pessoas que são diferentes de nós em todos os aspectos e nós temos isso [na série]”, afirmou Shore. “Quanto mais você aborda isso, e mais conhece pessoas diferentes de você, mais as entende e percebe que elas não são tão diferentes. Sei que parece óbvio, mas como seres humanos, precisamos de lembretes disso o tempo todo”, ponderou. “Então, sim, quero abrir os olhos das pessoas para o autismo e em relação a quem é diferente de várias maneiras e que desafia nossas suposições”, disse, esperançoso de mudar a percepção dos espectadores. “Acho que a série está fazendo isso e é muito gratificante”.
Atualmente em sua terceira temporada, pode-se imaginar que The Good Doctor tivesse esgotado as possibilidades de sua trama — relacionadas aos problemas que um médico autista pudesse enfrentar dentro de um hospital, ou mesmo diferentes casos da medicina.
“Algumas pessoas acharam que os desafios que o autismo cria iam deixar a série cansativa. No entanto, não se mostrou cansativo até agora. Não queremos apenas dizer o mesmo repetidamente, como ‘você não pode me operar porque você tem autismo’. Todos nós temos desafios e oportunidades. Manifesta-se de diferentes maneiras e em diferentes situações, e queremos explorar essas situações”, explicou ele sobre o modus operandi de roteirizar a produção. “O que eu encontrei como ser humano ao fazer essa série são esses desafios que ele está enfrentando, enquanto se manifestam de uma maneira um pouco diferente para ele, apesar de é uma condição muito específica, os desafios são muito universais”, explicou o diretor, comentando a série gera identificação com o público, ainda que retrate um protagonista com autismo.
Além de trazer à tona tal temática, a produção ainda consegue gerar empatia entre público e personagem, graças à ótima atuação de Freddie Highmore — que foi elogiado pelo showrunner. “O desafio original disso é que esse é um personagem que não mostra suas emoções da mesma maneira. Mas muitas vezes, pessoas com essa condição são percebidas como falta de emoção e falta de empatia. E não acho que seja esse o caso, acho que se manifesta de maneira diferente”, comentou. “O que queríamos retratar era que esse personagem tem desafios, mas ele está lidando com as mesmas coisas”, afirmou Shore, revelando que viu como um problema inicial que Shaun pudesse não gerar empatia, mas teve uma grata surpresa. “Particularmente, acho que Freddie Highmore fez um bom trabalho com seus olhos e sua atuação em geral, e conseguimos olhar para esse personagem. E, por mais diferente que ele seja, nos vemos nele e nos relacionamos com desafios dele”, elogiou.
The Good Doctor está disponível no Brasil pelo Globoplay e pelo Sony Channel.