Atenção! Contém SPOILERS do episódio 4 da 1ª temporada de His Dark Materials, “Armour”
A primeira cena do quarto episódio de His Dark Materials começa com um take em plano aberto do céu, com um balão ao fundo ocupado por um rapaz cantarolante e sua daemon em forma de coelha. É a apresentação de Lee Scoresby e Hester (Cristela Alonzo), o primeiro passo para o que é de fato o início da parte aventureira da história de Lyra Belacqua (Dafne Keen), com direito a um urso de armadura e a chegada ao enfim tão falado norte. Mas o que é que este urso de armadura, sem a sua armadura, tem de tão especial?
Em termos de estrutura, o episódio tem em Lin-Manuel Miranda seu grande trunfo, certamente o maior trunfo da temporada até aqui. A agilidade que o ator traz às cenas, com sua natural empolgação e carisma, transmitem mais empolgação e velocidade, ainda que esta versão de Lee Scoresby seja uma muito mais aberta e amigável que a do livro de Philip Pullman.
Em geral, o episódio se dedica prioritariamente às apresentações destes dois personagens que serão essenciais para a história daqui em diante. Iorek Byrnison, o urso de armadura, faz parte de uma comunidade com sua cultura própria que vive em uma cidade ao norte mais distante, e ainda assim ele está preso e escravizado por humanos que se consideram superiores. Nesta etapa da história, Byrnison está longe do seu ápice, sem sua armadura e completamente desmotivado. Seu encontro com Lyra é justamente o que o incentiva a lutar por si mesmo e por sua liberdade, e isso está diretamente ligado com a importância de Lee Scoresby e a amizade que os dois já tinham.
Neste sentido, “Armour” segue o ritmo de ser ainda um episódio introdutório, mesmo estando na metade do caminho até o fim da temporada. Para qualquer um familiarizado com o livro, o episódio dirigido por Otto Bathurst (Robin Hood: A Origem) pouco se distancia da obra original, conferindo a tão cultuada fidelidade ao material escrito. Mesmo assim, é um pouco questionável o fato de ainda estar neste ritmo lento, sobretudo em uma história que tem tanto a dizer e tanto a questionar sobre religião, política e sistemas opressores.
Não quer dizer que seja um episódio necessariamente ruim, mas é um que deixa a desejar e cria um vácuo perceptível entre o que poderia estar fazendo e o que realmente está. A impressão que fica é a de uma temporada que deixa para o final todas as grandes revelações e, ainda que capte à essência algumas das passagens mais memoráveis da obra literária, é incapaz de ir fundo nas relações humanas que fazem de A Bússola de Ouro tão particularmente desolador.
Mesmo assim, o clima imposto no final do episódio, quando Lyra apresenta Iorek e Lee a John Faa e diz que estes serão os novos companheiros na aventura rumo ao norte e ao resgate de Roger e das outras crianças sequestradas pelo Magisterium, é completamente diferente daquele sugerido nos episódios anteriores. É um clima de imediata empolgação, mesmo que o caminho à frente seja completamente desconhecido.
Justiça seja feita, é importante salientar que a série reforça em todos os episódios as perguntas que devem estar na mente do espectador, aquelas que, enquanto ainda não têm respostas, continuam fazendo com que tenhamos dúvidas sobre o resultado em que His Dark Materials quer chegar. “Por que Lyra é importante” é uma pergunta que não deve ser respondida agora, tampouco “o que Grumman descobriu”. Mas ambas estão ali porque são importantes, e respondê-las faz parte da jornada.