Nota: 2,5 / 5,0
Segundas temporadas de séries costumam ser a prova de fogo para um projeto que deu certo na primeira. É a chance que uma produção tem para provar que realmente tem certeza de que há algo a contar ou a acrescentar, no sentido de ter capacidade e história suficientes para aprofundar e personagens para explorar. No caso de Atypical, o segundo ano provou sua eficácia com um abandono do humor fácil ao olhar para os personagens secundários. O terceiro ano acaba dando um passo para trás quando não aproveita a maior mudança na rotina de Sam para entregar o resultado impactante que esta trama merecia.
Afinal de contas, agora o personagem de Keir Gilchrist terminou o ensino médio e está pronto para ir para a faculdade — um grande desafio, já que a maioria dos jovens no espectro do autismo não consegue concluir os estudos. Paralelamente a isso, seus pais tentam descobrir se querem ou não consertar o casamento e permanecerem juntos, enquanto Casey (Brigette Lundy-Paine) precisa tomar uma decisão a respeito de sua vida amorosa. Evan (Graham Rogers) ou Izzie (Fivel Stewart)?
Neste contexto, a 3ª temporada de Atypical teria muito material com que trabalhar. Sam está passando pela maior mudança em sua rotina até agora, mas ao invés de tentar entender quais são as suas maiores dificuldades neste momento ou aprofundar a discussão a respeito de suas limitações ou das evoluções que conseguiu atingir em termos de convívio social, a série apenas passa rapidamente por este arco em breves cenas em dois ou três episódios. Mais do que uma oportunidade perdida, é um gancho abandonado — o que estava ali para ser a grande virada de chave na vida de Sam ficou apenas como um artifício de roteiro com um início (a sua chegada na Denton), um meio pincelado com as confusões com os horários e as notas medianas nas aulas de Ética e uma resolução jamais completamente explorada.
Na contracorrente, é a história de Paige (Jenna Boyd) que ganha mais força e consegue trazer o peso necessário à drástica mudança de rotina que é a faculdade na vida de qualquer jovem. A trágica adaptação da garota à vida nos dormitórios é carregada de uma nuance e de uma subjetivação que não haviam sido confiadas a ela nas duas temporadas anteriores, e não apenas era necessário que isso ocorresse como também trata-se da mais eficiente e significativa evolução da temporada: ela deixa de ser a “engraçada, mas levemente inconveniente” namorada e se torna o maior espelho para refletir as inseguranças que também estão nas rotinas tanto de Sam quanto de Zahid (Nik Dodani).
Talvez o maior problema da 3ª temporada de Atypical seja a zona de conforto em que caiu em um modelo de fácil digestão e universal, mas que eventualmente cai em uma fórmula que diz ao espectador exatamente o que esperar da cena seguinte, de cada novo personagem introduzido e de cada lição de moral que começa com uma metáfora a respeito de pinguins e que terminam, todas, basicamente no mesmo lugar.
Paralelamente a tudo isso, talvez o mais curioso ou empolgante da temporada seja o conflito de Casey, mas que novamente fica longe de todo o potencial que tinha — o medo de Izzie, por exemplo, é poderoso o suficiente para ter mais espaço do que o curto que teve. A impressão que fica é que o time de roteiristas apenas precisava de uma nova reviravolta para preencher os dois episódios finais, e que nada foi exatamente pensado com profundidade. É algo quase contraditório: parece haver uma grande vontade de tratar com muita naturalidade temas LGBT, o que é sempre bem-vindo. Mas se é para não falar sobre o elefante branco na sala, ou tratá-lo apenas com cinco minutos de cena, talvez fosse melhor ter repensado se realmente era interessante colocar em pauta o medo de Izzie de sair do armário.
Mas apesar de todas essas inconstâncias, a 3ª temporada de Atypical mantém o que fez a série conquistar um lugar cativo no coração do público, que é o de tratar com genuinidade e respeito essa história e esses personagens, entendendo perfeitamente de onde eles vieram e por que cada um deles merece seu próprio espaço. Pode não ser um dos seus momentos mais brilhantes, mas jamais deixa de ser um lugar confortável para o qual sempre voltar.