Nota: 4,0/5,0
You're the Worst nunca teve medo de ousar. Mesmo sem ser conhecida do grande público, a série de Stephen Falk conquistou um grupo leal de fãs pode ser descrita como um comédia romântica sem papas na língua, abordando a realidade de maneira direta e calculista; com personagens bem imperfeitos; e cenas de sexo que você não veria na sala de casa, com medo de ser flagrado pelos pais.
Em sua quinta temporada, chegou a hora de encerrar a história de Gretchen (Aya Cash) e Jimmy (Chris Geere). Finalmente, eles estão juntos e planejando o casamento; ao mesmo tempo que Lindsay (Kether Donohue) e Edgar (Desmin Borges) embarcam em novas aventuras profissionais. Mas se o final feliz está garantido na maior parte das comédias românticas, o mesmo poderia ser aplicado numa série que sempre se orgulhou de subverter expectativas?
Tal brincadeira com as emoções do público já começa com o criativo episódio inicial da quinta temporada, que brinca justamente com os clichês do gênero. Depois disso, a própria narrativa transforma seus padrões, usando flashforwards para indicar um futuro conturbado para o grupo principal, em comparação com as situações que se envolviam nos dias atuais. A todo o momento, ficava a questão no ar: poderiam Gretchen e Jimmy serem felizes para sempre, juntos? Ele, um egocêntrico que tenta ignorar os sinais vermelhos que surgem nos preparativos do casamento; ela, destrutiva e se machucando com as próprias ações? Em determinado momento, numa das cenas mais importantes da temporada, um personagem declara "Vocês se amam, mas isso não significa que são bons um para o outro." Essa é a razão falando sobre a emoção, além de ser um tapa na cara para aquele seriador que se preocupa mais com a realização do ship, do que com o sentido da narrativa. Se a carapuça servir...
Falk sempre caminhou no limite o que considera real ou atender as expectativas dos fãs, e não decepciona, mais uma vez. Então, ao mesmo tempo promove momentos como o incrível retorno do Sunday Funday; ou mais um episódio focado em Paul (Allan McLeod) e Vernon (Todd Robert Anderson) mesmo que não seja tão interessante como trama central. Por outro lado, é capaz de criar os três capítulos finais, que comprovam a inteligência de You're the Worst, onde a resolução do casal surge da maneira mais honesta que pode encontrar, novamente abraçando o que há de imperfeito no ser humano. Inclusive, a conversa franca entre Jimmy e Edgar no penúltimo episódio merece entrar para a lista de melhores momentos da TV em 2019.
Sem dar maiores spoilers, é preciso falar como a série vai além de sua premissa, para explorar os outros relacionamentos dos protagonistas. O grande ato genial de You're the Worst não é somente ver a relação de Gretchen e Jimmy, mas abordar o elo do escritor com Edgar. Finalmente, o ex-veterano assume uma posição igualitária nessa amizade e isso merece tanta atenção como o romance principal. É o jogo dentre os dois elos que compõem o encerramento perfeito da série, paralelo com a própria jornada de Gretchen, tentando caminhar entre a responsabilidade e seu instinto destrutivo, novamente num retrato honesto sobre depressão. Por fora, Lindsay segue com a história menos importante do quarteto, mas também questiona a estranha necessidade de mudar por aquele que se ama.
Dentre tantas cenas de vergonha alheia, estamos diante de um estudo inusitado sobre a psicologia humana, e não é qualquer obra que consegue fazer isso. Por mais que produza trechos exagerados demais; e o arco de Paul, Vernon e Becca (Janet Varney) soe destoante e desnecessário diante da evolução emocional dos protagonistas; a obra se destaca. Não somente pelo talento de seu elenco (com Cash e Geere cada vez mais inspirados e merecendo ser lembrados na temporada de premiações); mas por examinar tudo aquilo que não é abordado em comédias românticas comuns
Fica aqui a mensagem de You're the Worst. Abrace sua imperfeição. Pois só ao aceitar tal realidade, é possível encontrar felicidade — não aquela presente em contos de fadas, mas aquela que você pode sentir todos os dias da vida cotidiana. É complicada, bagunçada, estranha... Mas é real. Não dá para ser melhor que isso.