Se o assunto é Emmy 2019, a disputa nas categorias em séries de drama pode até não ser das mais empolgantes, mas isso não significa que não exista forte concorrência nos outros setores. Afinal de contas, onde não há Game of Thrones, existe a meteórica Fleabag, de Phoebe Waller-Bridge, contra a veterana Veep, e contra Barry e Boneca Russa no time das comédias. Mas disso o AdoroCinema já falou, nas matérias especiais sobre as séries de drama e sobre as de comédia. Agora, chegou a hora da concorrência mais acirrada: a das séries limitadas.
Emmy 2019: Entenda a disputa nas categorias de comédiaEssa é a sua hora de descobrir tudo sobre as concorrentes ao prêmio de melhor série limitada, antes de fazer as apostas no bolão. Vale lembrar que a 71ª edição do Emmy Awards acontece no dia 22 de setembro, com exibição no Brasil pela TNT.
Chernobyl
Sensação da HBO em cinco partes, Chernobyl — como diz o título — conta a história do acidente nuclear da Usina de Chernobyl. Com um elenco para lá de competente, incluindo Jared Harris, Stellan Skarsgard e Emily Watson, a série abocanhou 19 indicações ao Emmy 2019 — a terceira produção mais indicada do ano, atrás de Game of Thrones (32) e The Marvelous Mrs. Maisel (20).
Além da onda de críticas positivas, a série tornou-se um sucesso de público e parece ter sido de muito agrado para a Academia de Artes e Ciências Televisivas. Com tantas indicações — incluindo direção, atuações e roteiro —, dificilmente a série vai passar a noite do dia 22 de setembro de mãos vazias.
Chernobyl: Crítica da minissérieTematicamente, é claro, Chernobyl também é pontual por um outro motivo. Apesar de ser uma história trágica, o foco em temas relevantes e atuais como a propagação das Fake News pelo governo e, por fim, uma mensagem consideravelmente positiva (no sentido de retratar os vilões em suas características humanizadas) ajudam a série a ganhar momentum. Sem dúvidas, é uma das maiores concorrentes da noite.
Escape at Dannemora
Até os primeiros meses de 2019, a vitória de Escape at Dannemora como melhor série limitada no Emmy deste ano era algo dado como praticamente certo pela maior parte dos jornalistas de entretenimento que cobrem TV e pelos especialistas nas premiações. Mas a HBO e a Netflix, mais uma vez, não vieram para brincar, e é justamente por isso que as chances de Escape at Dannemora acabaram sendo diminuídas.
É claro, o drama tem um elenco para lá de respeitoso e um apuro técnico impressionante. Patricia Arquette, Paul Dano e Benicio Del Toro estão afiadíssimos sob a direção impecável de Ben Stiller. A série acumulou 12 indicações, incluindo mais uma vez roteiro, direção e elenco — o que sempre precisa ser observado para que as chances de vitória nas categorias principais sejam medidas. Mas o problema aqui, além do timing que não favorece (Escape at Dannemora, afinal, encerrou sua exibição em dezembro de 2018), é que Chernobyl e Olhos que Condenam são as produções mais frescas nas memórias dos votantes — e isso favorece (e muito!) séries que já carregariam de qualquer forma o favoritismo tendo em vista os temas politicamente relevantes.
Emmy 2019: Entenda a disputa nas categorias de dramaDe qualquer forma, é interessante ficar de olho por aqui em Patricia Arquette, mais uma vez em uma performance absurdamente impactante. Além da transformação física que sempre salta aos olhos da Academia, sua indicação dupla (como melhor atriz por Escape at Dannemora e melhor atriz coadjuvante por The Act) é um indício de que seu nome pode aparecer entre os vencedores.
Fosse/Verdon
Para qualquer amante da Broadway, Fosse/Verdon é praticamente um sonho de consumo. A minissérie de requinte do canal FX retrata a história do relacionamento entre Bob Fosse e Gwen Verdon, estrelada por Sam Rockwell e Michelle Williams e com um elenco pontuado por Margaret Qualley, Lin-Manuel Miranda (também um dos produtores) e Norbert Leo Butz, além de envolver Joel Fields (The Americans) e Steven Levenson (Masters of Sex) como roteiristas. Com este time, basta dar uma olhada para os nomes para entender por que a série conquistou sua vaga entre as indicadas.
O maior empecilho de Fosse/Verdon é justamente o fato de que seu grande apelo para o público fã da Broadway faz com que ela seja, às vezes, de difícil absorção para o público mais amplo — e o resultado disso é que pouco se fala a respeito do drama biográfico fora dos meios em que circulam críticos de televisão e especialistas da indústria audiovisual. A maior chance da série nas categorias principais, com suas 17 indicações, é com Michelle Williams, premiada recentemente com a melhor atuação do ano no prêmio da Associação dos Críticos de Televisão (entre atores e atrizes de todas as categorias), o que certamente é um bom sinal. As indicações em figurino, maquiagem e direção e supervisão musical, no entanto, dão o recado de que Fosse/Verdon pode se sobressair nas categorias técnicas.
Olhos que Condenam
Carro-chefe da Netflix neste Emmy, When They See Us acumula 17 indicações, empatada com Fosse/Verdon em número nesta 5ª colocação. Junto a Chernobyl, a série de Ava Duvernay figura entre as grandes promessas da noite.
Olhos que Condenam: Crítica da série limitada de Ava DuVernayIsso porque, mais uma vez, a trinca de prestígio, dinheiro e popularidade entra em vigor e coloca a produção no ápice em termos de relevância. A história dos cinco garotos do Harlem acusados e condenados por um crime de estupro que não cometeram tem uma ligação direta com a política excludente de Donald Trump, incluindo menções diretas ao atual presidente dos Estados Unidos. A história toca em uma ferida profunda quando reflete a respeito de exclusão, racismo e uma estrutura que não permite à população que tenha mobilidade social. Mais do que nunca, essa consciência política, aliada às excelentes atuações do grupo de atores mirins, alavanca Olhos que Condenam e faz dela uma das grandes séries de 2019 — e, por consequência, do Emmy.
Sharp Objects
Ah, Amy Adams, o quanto não torcemos por você…
Em qualquer outro ano (provavelmente), Sharp Objects não estaria tão escanteada como está. A série da HBO adapta o livro homônimo de Gillian Flynn (Garota Exemplar), em uma análise profunda e bem delineada sobre a psique humana e sobre os traumas femininos, sobre o que significa, para cada uma das mulheres (ou homens) em suas centenas e milhares de vivências diferentes, lidar diariamente com o sexismo. Tudo isso, aliado a performances potentes de Amy Adams e Patricia Clarkson e coroado com a direção excelente de Jean-Marc Vallée poderia ser a receita certa para 2019 ser o ano de Sharp Objects. Se a série não tivesse ido ao ar entre julho e agosto de 2018, mais de um ano antes da 71ª edição do Emmy, quando o mundo era outro.
Sharp Objects: A sutileza velada do conto de três traumas (Crítica)Neste meio-tempo, Sharp Objects infelizmente ficou longe e perdeu o timing — e, junto com ele, a relevância. Isso não significa que a série não seja uma das grandes produções recentes, mas que definitivamente não jogou com os melhores elementos na temporada de premiações.
Mas não perca as esperanças, Amy Adams, que uma hora o seu momento chega.
No geral, a disputa entre as séries nas categorias limitadas é a que mais reflete a importância de temas pungentes. Isso fica claro quando observamos que as duas séries que mais têm chances de saírem como principais vencedoras são as que contam histórias baseadas em eventos reais — eventos catastróficos às suas próprias maneiras. No fim das contas, os vencedores dessa história são mesmo os espectadores.