Nota: 2,5/5,0
Senhoras e senhores, a corrida na busca pelo novo Game of Thrones começou. Com o final da jornada dos famosos dragões, espere por uma enxurrada de séries de fantasia, tentando conquistar os corações de fãs saudosos. Chega então a Amazon, com o lançamento da ambiciosa Carnival Row, já prometendo ser uma das novas apostas da plataforma, pois sua renovação para a segunda temporada foi garantida antes mesmo da estreia.
De forma bem resumida, a história acompanha uma sociedade vitoriana recheada de confrontos entre homens e séries mitológicos, como fadas (aqui chamadas de faes), centauros, bruxas e por aí vai... Enquanto a comunidade do Burgue vive em eterno clima de tensão, a série é centrada no amor improvável entre o humano Rycroft Philostrate (Orlando Bloom) e a fae Vignette Stonemoss (Cara Delevingne).
Observando a criação de tal universo fantástico, é até curioso perceber que trata-se de uma história original, sem ser baseada em alguma saga literária. A ideia surge de um roteiro cinematográfico escrito por Travis Beacham — também produtor junto com René Echevarria — que acabou virando série, ao longo dos anos, chegando a ter Guillermo del Toro na equipe, brevemente. Pois ame ou odeie quando for vê-la com seus próprios olhos, Carnival Row constrói uma mitologia gigante capaz de intrigar os fãs do gênero. Mas, infelizmente, seu problema surge exatamente aí.
Os oito episódios de tal temporada são atolados por muitas subtramas, com objetivos completamente diferentes, mas ainda tentando serem conectadas entre si. O romance de Vignete e "Philo" dá o pontapé inicial, mas logo o mocinho se encontra no meio de uma brutal investigação de assassinato, no estilo The Alienist encontra Bright. Paralelamente, ainda existe o choque cultural entre uma jovem socialite e o novo vizinho, um fauno misteriosamente rico que desafia a ordem social, numa narrativa a lá Jane Austen - inclusive, tal comparação torna-se ainda mais inevitável com a escalação de Tamzin Merchant, interprete da irmã do cobiçado Mr Darcy na versão de Orgulho e Preconceito com Keira Knightley em 2005.
Basicamente todo personagem, por mais coadjuvante que pareça, vai acabar tendo algum espécie de arco ao longo da história. O que seria incrível senão fossem presos em um roteiro simplista e sem sutilezas. Paralelos com questões reais de imigração e preconceito se perdem numa história focada apenas em crescer num aspecto mais cru, valorizando cenas de sexo e sangue no lugar de aprofundamento emocional. O maior exemplo fica no desperdício de um interprete como Jared Harris, envolvido numa rivalidade política, eficaz em demonstrar o preconceito do Burgue, mas entediante de forma que empaca a história.
Pelo lado positivo, é bacana ver como são as mulheres que seguram a trama de um governo que não valoriza a voz da mulher — como Piety Brealspear (Indira Varma) e Sophie Longerbane (Caroline Ford roubando cenas). Mas prepare-se para decorar diversos nomes e espécies, pois nunca se sabe quando tal personagem quase figurante surgirá do nada, aparecendo brevemente apenas para sacudir a história, mas desaparecendo quando a trama lembra que precisa voltar para os protagonistas. É como colocar fermento demais num bolo.
Para fugir desse aspecto tão banal, os trunfos da série surgem ao investir nos relacionamentos. Basta ver como o melhor episódio é, justamente, o flashback que apresenta o início do romance de Philo e Vignete. Inclusive, se existe um nome que merece ser valorizado no elenco é Cara Delevingne, entregando a melhor performance da carreira até então. Sua cativante fada é a alma da série (não apenas pelas asas presentes em qualquer material promocional, já principal marca da obra), misturando vulnerabilidade e coragem, por mais que a trama tente sempre jogá-la na posição de "donzela a ser salva".
Infelizmente, é o personagem de Bloom que ganha mais tempo de tela, enquanto Vignette se envolve num caminho até interessante, mas completamente ignorado quando está na hora de voltar a cruzar o caminho do amado. Tendo dito isso, o trabalho do astro de O Senhor dos Anéis não é ruim, mas evoca uma persona Will Turner de Piratas do Caribe, que funciona por vezes sim, por vezes não.
Outro ponto positivo fica pela impressionante direção de arte, tornando o visual de tal história como algo singular, mesmo que os efeitos especiais não consigam entregar o necessário. Por fim, a ousadia de Carnival Row em construir um universo novo é louvável, tanto que os fãs de fantasia devem ser facilmente fisgados. Mas peca ao ficar superficial demais por apostar em quantidade, ao invés de qualidade.
Afinal, do que adianta uma embalagem bonita, se não tem nada dentro?