Quem vai assumir a empresa da família com a saída de Logan Roy (Brian Cox)? No momento em que o poderoso conglomerado de mídia se encontra em crise e encara uma generosa oferta de compra, o patriarca precisa decidir se abandona os negócios ou escolhe um dos filhos para reerguer a empresa.
Para o espectador que não tiver assistido à primeira temporada de Succession, a HBO não fornece qualquer recapitulação para a entrada neste universo: o primeiro episódio da nova temporada, que estreia dia 11 de agosto, às 22h, retoma a trama da crise da empresa, o rancor de Logan com o filho Kendall (Jeremy Strong) após a traição recente e o conflito do casamento de Shiv (Sarah Snook).
Mesmo assim, o contexto geral é facilmente compreendido: manter a empresa (e apostar em seu crescimento) ou ficar rico com a venda da mesma; apostar em apenas um filho e gerar uma disputa familiar ou comprar uma briga com os acionistas?
O episódio inicial preserva a câmera nervosa se agitando entre reuniões e jantares de negócios, fechando a imagem em zooms na cara dos personagens e valorizando os diálogos ácidos entre os irmãos. Mesmo durante uma calma conversa sobre um píer silencioso, a câmera treme por todos os lados, criando uma constante sensação de desconforto.
No entanto, o elemento mais surpreendente é a frieza destas relações em que o afeto se torna menos visível do que o jogo de estratégias e interesses na família Roy. O humor sarcástico de Roman (Kieran Culkin) se choca com o estilo raivoso e muito articulado de Shiv (Sarah Snook, excelente com os diálogos), o comportamento envergonhado de Kendall e o pragmatismo surpreendente de Logan.
Os embates produzem ótimos momentos para os atores e para a narrativa em geral, que ainda encontra a bela metáfora dos guaxinins mortos para sugerir a existência de algo podre dentro da mansão luxuosa. Mesmo assim, a discussão sobre acionistas, ativos, ações na bolsa e afins pode parecer um pouco hermética para quem se encontra fora da rotina nas grandes empresas e das batalhas por poder financeiro.
Ressalvas à parte, Succession investe a fundo no humor amargo tanto das empresas quanto das famílias disfuncionais. "Existe um ser humano na sua frente, sabia?", reclama um dos personagens ao amigo, depois de uma nova decisão calculista, pensando apenas nos lucros. No conflito entre o humanismo e ambição a qualquer preço se encontra o maior interesse da segunda temporada.