Que atire a primeira pedra quem nunca ficou olhando de forma filosófica pela janela do ônibus, entrando no clima de determinada canção que estava tocando em seus fones de ouvido! Ser trilha sonora é muito mais do que apenas escolher a música bonitinha para acompanhar o beijo de algum 'ship'. Grandes obras sabem usar a música como um outro elemento que ajude a contar sua história — sendo tão importante para a experiência total como um figurino ou o ângulo de uma câmera. Não somente como a melodia instrumental de fundo, nem somente em produções do gênero musical.
O caso mais recente aconteceu no final da primeira temporada de Euphoria, que causou grande repercussão nas redes sociais. Mas essa não foi a primeira vez que uma música foi usada de forma essencial na narrativa de uma série de TV. Pensando nisso, o AdoroCinema decidiu relembrar 15 canções marcantes das telinhas, que qualquer fã fica com coração apertado só de lembrar.
Só que, nessa tarefa, decidimos usar duas regras: em primeiro lugar, nada de séries musicais, afinal faz parte das premissas de Glee e Crazy Ex-Girlfriend usar canções em suas tramas, por exemplo. E, finalmente, nada de temas de abertura. Aí seria fácil demais, né?
Euphoria - "All for Us", de Labrinth e Zendaya
Com nomes como Labrinth e Drake na produção, estava claro que a música teria um papel importante em Euphoria. Mas ninguém esperava que sua primeira temporada ia terminar, literalmente, com um videoclipe. Aproveitando os talentos vocais e dramáticos de sua protagonista, a série coloca Zendaya para soltar a voz numa performance catártica — uma solução abstrata para deixar um clima de mistério sobre qual foi o destino de Rue. A versão das telinhas ainda muda para se adequar a personagem, referencias o abuso de drogas e a relação dela com a família.
Grey's Anatomy - "Chasing Cars", de Snow Patrol
Grey's Anatomy não é somente conhecida por matar personagens de formas trágicas. Também sabe escolher uma trilha sonora... Quase escolhemos "How to Safe a Life", mas quem ganhou espaço nessa lista foi aquele que se tornou o maior sucesso da banda Snow Patrol ao ser tema da morte de Denny (Jeffrey Dean Morgan), para o desespero de Izzie (Katherine Heigl) nos braços de Alex (Justin Chambers). Tão relevante, a melodia apareceu em diversos outros episódios do drama médico, inclusive no episódio musical, nas vozes de Sara Ramírez, Kevin McKidd e Chandra Wilson.
Legion - "Feeling Good, de Nina Simone"
Noah Hawley adora usar alegorias coloridas e musicais nessa excêntrica adaptação das HQs de X-Men. A transformação de Lenny (Aubrey Plaza) de simples amiga de David (Dan Stevens) até a personificação do vilão que atormenta o protagonista não podia ser diferente. No caso, a personagem se despe do visual de terapeuta para se aprontar na mente do mutante, literalmente bagunçando o que há ali. Enquanto vemos Plaza dançando de forma louca em diferentes cenários já conhecidos, um dos maiores hits de Nina Simone ajuda a potencializar a força de tal antagonista. Tudo isso, com uma série de referências à clipes dos anos 80 e filmes clássicos. É algo inesperado e maravilhoso.
Breaking Bad - "Baby Blue", de Badfinger
Não é qualquer música que poderia encerrar aquela série considerada como uma das melhores obras da cultura contemporânea. Inicialmente, a ideia do criador Vince Gilligan por uma canção de amor foi rejeitada por sua equipe. Mas logo fez sentido: "Baby Blue" traduz o amor de Walter White (Bryan Cranston) pela ciência, triunfando por terminar sua louca jornada em seus próprios termos. Não é a toa que a melodia entoa a frase "Guess I got what I deserved".
The O.C. - "Hide and Seek", de Imogen Heap
Antes da internet viralizar tudo com as redes sociais, essa música representava o conceito de meme na cultura pop. No momento em que Marissa (Mischa Barton) atira em Trey (Logan Marshall-Green) para salvar Ryan (Ben McKenzie), a adolescência dos protagonistas vai embora de vez. Mas também cria uma piada que mantém sua graça até hoje... principalmente graças ao sucesso de uma esquete do Saturday Night Live. Usar a música com timing para criar drama nunca foi igual depois da chegada de Um Estranho no Paraíso.
Um Maluco no Pedaço - "It's Not Unusual", de Tom Jones
Sim, a música de abertura é a canção mais marcante de Um Maluco no Pedaço. Mas qualquer pessoa que assistia às reprises da comédia na TV aberta tem vontade de dançar que nem Carlton (Alfonso Ribeiro) quando tocam as primeiras notas de "It's Not Unusual". O que era só pra ser uma ceninha engraçada se tornou uma das marcas registradas da trama, tanto que até o cantor Tom Jones participou da série.
Sense8 - "What's Up", de 4 Non Blondes
Retomando o posto de canção queridinha para o karaokê, "What's Up" foi mais que uma trilha de Sense8. Tal cena representa a primeira vez que os oito protagonistas estão realmente conectados... Através do poder da música. Sem falar que também começa o romance de Nala (Tina Desai) e Wolfgang (Max Riemelt). Logo, a faixa se tornou uma espécie de hino para os leais fãs da série, sem falar que é completamente chiclete, né?
Família Soprano - "Don't Stop Believing", de Journey
Glee nem pode entrar na lista, mas não é que "Don't Stop Believin" deu seu jeitinho de aparecer aqui? Antes de Rachel Berry (Lea Michele) e seus amigos, a música da banda Journey foi responsável por entoar um dos finais mais icônicos e polêmicos da TV norte-americana. Encerrado de forma abrupta, muitos não entenderam o que aconteceu em Família Soprano, mas o silêncio e a escuridão da tela representam a morte de Tony (James Gandolfini), de uma forma ambígua. O criador David Chase também já revelou que gosta relacionar a metáfora do "midnight train" do hit com a jornada dos protagonistas.
La Casa de Papel - "Bella Ciao"
Se você ficou com "Bella Ciao" na cabeça após maratonar La Casa de Papel, fique tranquilo, pois não é o único. Canção italiana que representa a resistência contra o fascismo, ela também conversa com o caráter idealista de Professor (Alvaro Morte) e sua trupe. Apesar de ser apresentada diversas vezes durante a série, ela ficou marcante mesmo numa cena entre Professor e Berlim (Pedro Alonso), revelando que existia uma forte e misteriosa conexão entre eles, mesmo que isso quebrasse uma das regras básicas do genial ladrão.
American Horror Story - "The Name Game", de Shirley Ellis
Uma cena dançante no meio de uma trama de terror é surpreendente por si só. Mas ver Jessica Lange performando "The Name Game" (que também é o título do episódio) é ainda mais impactante ao perceber como isso representa a perda crescente de sua sanidade. Uma fuga fantasiosa da realidade brutal que vive, que traz todo um novo significado para AHS ao vê-la pela segunda vez.
The Vampire Diaries - "Never Say Never", de The Fray
Literalmente, o AdoroCinema já fez uma lista com 15 canções marcantes só de The Vampire Diaries. E a produtora Julie Plec sabe perfeitamente como os fãs do drama estão atentos à tal trilha sonora. Então, quando Stefan (Paul Wesley) se despede de Elena (Nina Dobrev) no episódio final, não é a toa que ele vai embora ao som de "Never Say Never" — justamente a última canção do piloto da atração, quando a protagonista convida o vampiro para entrar sua casa. Assim, encerra-se tal jornada com pura nostalgia, valorizando todos os passos de oito temporadas de TVD.
Stranger Things - "NeverEnding Story", versão de Dustin e Suzie
Um grupo de russos está prestes a iniciar uma máquina que pode abrir a porta para outra dimensão e destruir este mundo; existe um monstro gigante querendo matar basicamente todo o elenco de Stranger Things; mas lá estão Dustin (Gaten Matarazzo) e Suzie (Gabriella Pizzolo) cantando o tema de A História Sem Fim. O fenômeno da Netflix tem vários hits dos anos 80, mas é impossível não colocar esse destaque do final da terceira temporada aqui. Tal momento traz um surpreendente ar fresco num episódio cheio de tensão, não somente como uma quebra de ritmo num roteiro inteligente, mas ainda trazendo a inocência juvenil e a nostalgia que fazem parte da essência da trama.
Mad Men - "Zou Bisou Bisou", versão de Megan Draper
Falando em performances que ninguém esperava... Uma esposa faz uma festa surpresa para o marido. O que parece uma simples premissa se torna um dos momentos mais famosos de Mad Men. Quando Megan (Jessica Pare) começa a cantar a música de Gillian Hill, surge um clima de "vergonha alheia", surge a surpresa do talento da moça, apresentando um poder nunca visto antes por Don Draper (Jon Hamm), algo bem diferente de seu mundo sério e machista. Ela tem uma personalidade que o protagonista não consegue controlar e isso o assusta profundamente.
How I Met Your Mother - "Let's Go to the Mall", de Robin Sparkles
É um pouco de trapaça colocar uma canção original na lista? Sim. Mas a descoberta que Robin (Cobie Smulders) foi uma cantora pop na adolescência é uma das reviravoltas mais incríveis de How I Met Your Mother. Além de ser uma cena hilária e adorada por fãs, tal canção inicia um arco recorrente até o fim da série, que é a aposta do tapa entre Barney (Neil Patrick Harris) e Marshall (Jason Segel). O sucesso foi tanto que outros hits do alter ego Robin Sparkles foram reveladas ao longo da história.
Friends - "Smelly Cat", de Phoebe Buffay
E se abrimos a porta para canções originais de séries, é impossível não falar de "Smelly Cat". Phoebe Buffay (Lisa Kudrow) cantou várias músicas bizarras durante Friends, sempre com seu violão em mãos, mas nenhuma foi tão icônica como a triste jornada do pobre cato fedido. É a representação perfeita da personalidade adoravelmente maluca da personagem e não cantar junto toda vez que ouvi-la é tão pecado como não bater palminhas junto com a abertura "I'll Be There For You".
Bônus: Cold Case. O final de todo episódio
Se tem uma série, cuja trilha sonora fazia todo mundo chorar era Cold Case. Conhecida no Brasil como Arquivo Morto, todo episódio da série se encerrava com os fantasmas das vítimas observando as resoluções de seus casos. Sempre ao som de músicas tocantes, fechando cada trama com chave de ouro... E dor no coração.