Limite. No dicionário, é a linha que determina o espaço entre duas coisas ou durações. Na matemática, expõe o comportamento de uma função, diante da aproximação de determinados valores. Em Big Little Lies, é simplesmente algo que não existe na vida de Mary Louise Wright (Meryl Streep).
Existem três formas de interpretar o título do episódio "She Knows". O mais simples é apontá-lo em direção a Mary Louise, já em contato direto com as Cinco de Monterey. Da mesma forma que a primeira temporada fez o público odiar Perry (Alexander Skarsgård), mesmo mostrando o lado humano do agressor; os novos episódios deixam claro como sua mãe é apenas uma mulher conservadora e cega pelo luto. Mas isso não diminui nossa torcida contra a personagem. Dessa vez, ela decidiu alugar um lar no mesmo condomínio de Jane (Shailene Woodley), a fim de se aproximar de Ziggy (Iain Armitage), mexendo com a paciência de Celeste (Nicole Kidman). (Sem falar que foi para a festinha de Halloween sem ter sido convidada!)
Aliás, é curioso como a vovó mais amada do pedaço (só que não) tenta equilibrar ambos os relacionamentos, jogando uma contra a outra. Para Celeste, afirma não acreditar no estupro sofrido por Jane (ainda jogando a culpa da agressividade do filho na nora). Já para Jane, atesta como Celeste está longe de sua sanidade mental. Inclusive, sua última teoria parece ser a mais forte, já que entrou com um pedido pela guarda dos netos, Max (Nicholas Crovetti) e Josh (Cameron Crovetti). Para o desespero de Celeste, é óbvio. É importante ressaltar como a ruiva se refere à ação promovida pela sogra: traição, não somente raiva. Ela confiou em alguém, que a machuca. É o relacionamento com Perry, de novo.
Culpada pela tragédia, acuada por Mary Louise, e desesperada por manter a normalidade; dá para perceber como Celeste está fragilizada. Se aquele passeio de carro na madrugada não deixou claro, seu caso com um homem desconhecido do bar (e não lembrar de dormir com ele + ser flagrada pela família na manhã seguinte) piora tal situação. Mas isso significa que ela merece perder os filhos? Principalmente quando é Mary Louise quem está apertando cada nervo dela? Sua terapeuta diz como "ninguém ganha nesses casos" e parece que tal frase se torna adequada para qualquer um dos personagens ali presentes.
A segunda forma de explicar o título surge na personagem que vem crescendo aos pouquinhos, se preparando para dar um abate. A detetive Adrienne Quinlan (Merrin Dungey) segue ao redor das cinco protagonistas, pressionando-as, até uma delas quebrar. Quem está mais sensível no grupo? Pobre Bonnie (Zoë Kravitz), a mais tranquila da temporada passada, se jogou numa derrocada dramática. Não basta lidar com a morte de Perry, mais culpa cai em seus ombros com o súbito derrame de sua mãe, Eizabeth (Crystal Fox).
Agora, não dá para saber, claramente, se a série está abrindo suas portas para o sobrenatural, transformando a avó de Skye (Chloe Coleman) em As Visões da Raven versão HBO. Porém, todo espectador se arrepiou com a premonição da senhora: uma Bonnie sem vida, afogada em águas. Seria ela a terceira interpretação possível de "She Knows", no caso saber o spoiler da série? Surge a questão que já fizemos antes: é uma metáfora para a situação emocional da filha ou a diretora Andrea Arnold está nos preparando mentalmente para perder uma das Cinco de Monterey, de uma forma nada sutil?
Quando foi anunciada a segunda temporada de BLL, qualquer um que tenha lido o livro de Liane Moriarty sabia que o passado de Bonnie seria abordado nas telinhas, já que não teve chance de aparecer em seus primeiros episódios. Porém, o arco da esposa de Nathan (James Tupper) caminha por passos diferentes, até para quem conhece a obra original, com um ritmo mais misterioso e abstrato. Nas críticas, muito se elogiam os trabalhos de Meryl Streep e Laura Dern (um reconhecimento bem merecido), mas também é importante exaltar como Zoë Kravitz está entregando a melhor performance de sua carreira, até então.
Quem também está se sentindo acuada? Madeleine (Reese Witherspoon). Recuperando um pouco mais de seu estilo determinado, em comparação ao episódio anterior, mantém "a pose de salto alto", mas já nem liga mais se alguém percebe como está tudo dando errado na vida dela. Novamente, a moça tenta uma nova conexão com Ed (Adam Scott), que segue impassível diante da esposa. Só que já está cansada da indecisão do marido, numa conversa que define o que há de errado entre eles:
"- Se você vai me deixar, pode fazer isso logo? Acabar de uma vez?"
" - Bem, eu ainda estou aqui."
" - É isso que você acha, Ed? Você está longe daqui. Não está nem perto."
Para Ed, sua presença física é o suficiente para mostrar que está tentando, mas não tem nenhum tipo de conversa com Madeleine por mais de 3 minutos. E ela quer resolver tudo logo, de forma prática. Uma característica impulsiva que gerou a mentira ao redor da morte de Perry, algo que as Cinco de Monterey estão pagando, diretamente ou não. A conversa com Celeste e Bonnie na festa atesta como, nem sempre, seus métodos ajudam, mas a mãe de Chloe (Darby Camp) se nega a aceitar. Já imaginou se todos pensam que Bonnie será a primeira a desabar, mas acaba sendo quem menos esperam, a líder do grupinho, Madeleine?
Logo, não é possível deixar de comentar "She Knows", sem citar o evento da vez: mais uma festinha de aniversário de Amabella (Ivy George). Somente Renata Klein (Dern) tem coragem de dar um baile flashback, horas depois de declarar falência. Dentre tantas falas icônicas, o capítulo deu chances de mostrar a vulnerabilidade da personagem — seja em sua hesitação em dar o anel de casamento ou dando um discurso emocionante, ao perceber que não poderá dar a filha o futuro que sempre desejou. Somente Laura Dern seria capaz de dar luz para essa personagem, e é melhor Meryl Streep dar mais gritinhos para assegurar seu Emmy 2020.
Por fim, Jane teve momento de destaque ao revelar seu passado para Corey (Douglas Smith), contando como Ziggy é fruto de um estupro. Felizmente, ele ganhou mais pontos no cartãozinho de "boy magia", dando apoio e sem querer apressá-la no relacionamento. Aliás, como foi fofo ver Bonnie e Renata brincando com a amiga e aprovando o visual do rapaz? É bom apreciar esses breves (e raros) momentos de normalidade em Monterey.
Já passamos da metade da segunda temporada de Big Little Lies e muitos não têm certeza se gostam da nova fase. O mistério central é substituido por histórias entrelaçadas das cinco protagonistas, onde cada uma passa pelo seu próprio drama. E apesar de não ter um crime chocante para desvendar, a trama nunca teve tanto suspense. Pois, sinceramente, não dá para saber o que acontecerá nos próximos três episódios. Antes, a gente sabia que alguém tinha morrido. E agora? Tudo pode acontecer. Você até pode acreditar que os riscos estão menores, mas apenas um fósforo é necessário para começar um incêndio. Esse sempre foi o lema de BLL. Afinal, lembre-se que Perry morreu numa inocente festa entre pais de alunos.
Melhor frase: Um tapa vale mais do que mil palavras e quem não vibrou com o tapão dado por Celeste em Mary Louise? Esse troféu é dividido com a resposta imediata da mãe de Perry: "Qual é o nome disso? Preliminares?"
Hinos do episódio: "Disco Inferno", o clássico hit de The Trammps, que te faz cantarolar "burn, baby, burn" por semanas.
Número de gritos histéricos na temporada: 3
Considerações finais:
- Foi até difícil prestar atenção nos diálogos, com os visuais fabulosos apresentados na festa de Amabella. As roupas retrô, as perucas extravagantes, os penteados incríveis, os adesivos nos rostos... Já pode dar Emmy de figurino também!
- Alguém mais reparou, novamente, no climinha entre Bonnie e Ed? Aliás, diante de tanta treta enfrentada pelas protagonistas, ver a briguinha de egos entre ele e Nathan é um alívio cômico. Talvez seja a intenção da série mesmo, com uma critica à fragilidade masculina.
- Como Chloe roubou a cena desta vez: quando falou que alguém pode roubar uma faca para atacar o coração dos outros ou quando usou a própria mãe num exercício para explicar o antônimo de estável?