Quando você ouve falar em bruxas, qual imagem vem à cabeça? A mulher com chapéu na cabeça e uma vassoura? A série Good Omens, inspirada no livro escrito por Neil Gaiman e Terry Pratchett, oferece versões muito diferentes da personagem icônica.
Josie Lawrence interpreta Agnes Nutter, uma bruxa corajosa da Idade Média que trava uma boa briga com os homens da época. Além disso, ela escreve o livro de bruxaria mais poderoso de todos os tempos. Enquanto isso, Anathema Device (Adria Arjona) surge como uma herdeira contemporânea das feiticeiras medievais, e Madame Tracy (Miranda Richardson) aparenta ser uma mulher comum, até descobrirmos suas habilidades psíquicas.
Estas mulheres serão essenciais na trajetória do anjo Aziraphale (Michael Sheen) e do demônio Crowley (David Tennant), que unem forças para tentar impedir o Apocalipse, após descobrirem a chegada do Anticristo na Terra.
O AdoroCinema viajou a Londres, a convite da Amazon Prime, para conversar com o elenco e os criadores. Abaixo, você descobre nossa conversa com Lawrence e Richardson. Leia também nossa entrevista com Neil Gaiman e o diretor Douglas MacKinnon, com os protagonistas Michael Sheen e David Tennant, e com a dupla formada por Jon Hamm e Adria Arjona.
Quem são Madame Tracy e Agnes Nutter?
A personagem de Miranda Richardson é uma das mais misteriosas da série. Até a primeira metade da temporada, ela aparenta ser apenas uma vizinha excêntrica, até se tornar muito mais importante na vida de Aziraphale... A atriz fez o possível para apresentar Madame Tracy sem estragar as reviravoltas da trama:
Miranda Richardson: "Eu diria que ela possui talentos em certos aspectos da sua carreira. Mas não estou falando do trabalho em que ela fica na horizontal, e sim da função de médium. Para evitar o Armagedon, Aziraphale usa Madame Tracy como um canal para importar informações necessárias para parar os acontecimentos. Então ela percebe que precisa levar a sério as ordens e se comprometer. Tracy e Aziraphale estão muito focados. Eles têm uma arma que podem usar para interromper o que vai acontecer. E também existe uma redenção da personagem... Mas não posso explicar mais do que isso!"
Enquanto isso, Josie Lawrence percorre um caminho oposto: sua personagem aparece pouco nas imagens, mas o momento é fundamental para os acontecimentos de Good Omens. A atriz explica:
Josie Lawrence: "No episódio 3 você a vê de novo, de certo modo, mas é uma espécie de reprise do que aconteceu antes, desta vez através da voz dela. Ela não aparece tanto quanto poderia, mas é bom Agnes estar lá. Eu acredito que sou como o Rosebud de Cidadão Kane. Agnes aparece somente em uma cena, mas falam dela o tempo todo".
As mulheres retrô
Para as atrizes, o tema da série vai muito além de anjos, vampiros e bruxas:
Miranda Richardson: "Este é um texto que promove a humanidade. Ele fala sobre as nossas experiências e também sobre a longevidade das relações. Nesse sentido, considero que seja uma série muito afirmativa e otimista".
Josie Lawrence: "É otimista mesmo que aborde o fim do mundo, porque não sabemos se o texto está falando do Apocalipse mesmo ou do fim de uma versão de mundo que conhecemos. Mas também é uma história de amor, por diversas razões. É uma história de amor para a personagem da Miranda, para o anjo e o demônio..."
Elas aproveitam para comentar as personagens uma da outra:
Miranda Richardson: "Também existe uma relação importante entre Agnes e Anathema, sua descendente em gerações futuras. Eu gosto como estas personagens não trazem nenhum traço específico de seus gêneros. Isso não é mencionado, é apenas assim".
Josie Lawrence: "Madame Tracy tem seus próprios pontos fortes, ela traz alguns aspectos retrô, desde as roupas até o apartamento em que mora. O fato de ganhar a vida desta maneira também é um pouco retrô, mas ao mesmo tempo ela fornece um grande apoio à comunidade. Ela cuida das pessoas, o que é ótimo, mas se mantém uma mulher independente".
As bruxas reais
As atrizes discutiram a importância de interpretar bruxas sem cair em estereótipos:
Josie Lawrence: "Para mim, o desafio é encontrar algo real, criar alguém com quem você possa encontrar uma relação, entender um pouco do processo mental de pensamentos. Meu ponto de partida é compreender que ninguém é completamente bom ou completamente mau. Na verdade, eu li o livro há anos, mas para esta personagem, me ative ao roteiro, porque tudo está ali".
Miranda Richardson: "Eu nem li o livro, não tive tempo. Fiquei só com o roteiro. Na verdade, mal tivemos tempos para ensaiar antes, só passamos as cenas diretamente no set. Acredito que a atuação seja isso mesmo, uma arena, muito próxima do teatro. Um amigo ator me diz que trabalhar em cinema é como estar num ringue de boxe. Você sai do seu canto, tem um conflito amigável, e volta, para depois entrar de novo".
Elas também brincam com as reações que suas personagens podem despertar:
Josie Lawrence: "Provavelmente teremos algum comentário negativo, porque as interações hoje em dia funcionam assim: é uma terapia grátis, online. Não deveria ser grátis, eu acredito que as pessoas deveriam pagar para colocar seus comentários online, em Bitcoin ou algo do tipo".
Mulheres no cinema e na TV
A dupla defende que a televisão tem sido mais generosa com as atrizes do que o cinema:
Miranda Richardson: "Existem mais papéis na televisão, de tipos mais diversificados, porque existem muitas séries acontecendo com propostas interessantes. Os filmes demoram muito começar e são bem caros. Hoje, especialmente, a produção está polarizada: ou se tem um mega orçamento ou recursos muito limitados, então existe maior possibilidade de sustentar projetos novos na TV."
Josie Lawrence: "Além disso, é bom ver cada vez mais empresas de produção lideradas mulheres, com o pensamento de fazer algo por nós mesmas. O mesmo acontece para as outras pessoas no set, em todos os departamentos técnicos. Isso está mudando fortemente, com ajuda da televisão".
Neil Gaiman
Richardson e Lawrence não pouparam elogios ao autor do livro e showrunner da série, Neil Gaiman:
Miranda Richardson: "Ele é muito centrado. Neil tem uma visão muito clara do que quer para cada cena, mas isso não significa que ele não esteja aberto a sugestões ou questionamentos. Se você fizer uma pergunta, ele a considera seriamente, e responde algo do tipo: 'Você não precisa se preocupar com isso, é só fazer assim' ou 'Que tal tentar dessa maneira?'. É como ter um papai no set".
Josie Lawrence: "Ele sempre tem tempo para conversar com você. Gaiman é um anjo".