3% é uma série que, logo em sua 1ª temporada, começou como uma distopia que dizia muito sobre os rumos que o mundo vem tomando. Agora, já em seu 3º ano, a história retorna ao ponto principal que fez com que todos os personagens da trama se conhecessem: ao Processo. Mas, desta vez, este Processo é diferente, feito em um local que, inicialmente, era visto como um espaço livre e que todos podiam adentrar.
Nem Maralto, nem Continente: Agora sob o comando de Michele (Bianca Comparato), a Concha será o cerne da narrativa nesta nova temporada, que estreia em 7 de junho exclusivamente na Netflix. O AdoroCinema conversou com Comparato, Rodolfo Valente (Rafael) e Vaneza Oliveira (Joana) sobre a abordagem que a série encontra no 3º ano e nos rumos que a série toma neste capítulo intenso e, sobretudo, ainda mais reflexivo. Confira abaixo:
AC: Bianca, a sua personagem está em uma posição bem delicada nessa temporada, na pele de alguém responsável por tudo e por todos, basicamente. Como foi trabalhar a liderança na Michele?
Bianca Comparato: Essa temporada é bem focada na Michele e esse encontro dela com a liderança. Na minha concepção dela, nessa temporada eu fiz um trabalho de profundo aprendizado, de maturidade, que é uma curva que, para quem acompanha a série, vê que é bem isso: ela aprende muito com a vida, tem esse olhar individualista para a vida, é muito solitária... O tempo todo quer resolver suas questões. E quando ela vai para esse lugar de liderança, ela vai com muita inocência e, também, creio eu, com pouco preparo. A Michele acha que tudo vai dar certo, que dá pra confiar em todo mundo - e então vê o desafio de ser líder, pois não dá para ser líder sozinha. Só se você for um ditador! Você precisa escutar, se preocupar. Espero que, ao fim da 3ª temporada, as pessoas vejam que ela cresceu, mudou e virou uma adulta mais generosa e que olha para o próximo.
AC: Como vocês encaram o crescimento de seus personagens a partir dessa abordagem da temporada, que trabalha bastante os sacrifícios que se encontram em seguir a própria moral?
Rodolfo Valente: Eu acho que todos os conflitos pelos quais ele passou acabaram melhorando o Rafael. Ele sempre teve muita certeza das coisas, da capacidade dele, que ele seria um grande herói, o salvador da Causa e tudo mais. E a segunda temporada muda tudo isso de uma forma muito cruel, então ele acaba a 2ª temporada sem nada. Ele não tem mais a Causa, não tem a Ivana, que era uma pessoa que ele admirava. Então, na 3ª temporada ele está sendo assombrado pelas coisas erradas que fez, pelos ideais que ele tinha. Ele está lidando com as consequências de todos os erros dele e agora de alguma forma ele pode remediar tudo isso, até para ele mesmo, na tentativa de obter mais consciência.
Vaneza Oliveira: A Joana antes promete que nunca vai compactuar com o universo que a Michele criou, da Concha, e de repente ela se vê dentro de um ambiente de alguém que ela não confia, que já a traiu. Ao mesmo tempo, ela também tem aquele desafio de ser a líder da Causa. Acho que, como a relação entre Joana e Michele é de embate, é um grande desafio para Joana não deixar com que essa mágoa faça com que ela saia do objetivo dela, que é mudar tudo aquilo, acabar com o Maralto e movimentar pessoas que buscam fazer parte do plano dela. A Joana está desenvolvendo uma liderança com uma compreensão humana de erros, porque ela tem que confiar de novo naqueles que já a magoaram no passado.
AC: Qual é a mensagem principal desta temporada?
Bianca Comparato: Eu acredito que não existe justiça em processo de seleção, pois ele é feito por humanos. Sendo que cada um tem uma história e origem diferentes. A Michele mostra isso através do que faz na Concha, durante seu Processo, porque ele parte do olhar de só uma pessoa - dos amigos que ela tem, de quem ela gosta. A 3ª temporada mostra isso muito bem.
AC: A realidade de 3% não parece estar muito distante da realidade em nosso mundo. Você acha que isso pode acontecer aqui?
Vaneza Oliveira: Super acho. 3% sempre está falando do futuro para falar do presente. Acho que a gente está num momento muito difícil de entendimento sobre o que é o outro, neste discurso do que é "esquerda" e "direita" sendo que, às vezes, acabamos vendo atitudes cruéis de ambos os lados. A série vem com uma crítica quanto ao próprio ser humano. Estamos falando de um lugar perfeito, mas ao mesmo tempo o [Pedro] Aguilera coloca nossos personagens numa situação extrema: não tem água e nem comida; como vocês carregarão seus discursos daqui pra frente? Vocês conseguirão ainda se olhar, respeitar o outro? 3% tem mais o engate de perguntas do que um discurso pronto.
AC: O que o público poderá achar desta temporada e, caso a série seja renovada, quais os desdobramentos que poderão acontecer em um novo ano?
Bianca Comparato: É difícil prever, mas os fãs de 3% sempre demonstram carinho pela série. Eu acho eles sentirão um resgate da 1ª temporada. Acho que o 3º ano resgata coisas muito bacanas como os jogos, as provas, todo mundo junto na mesma situação e não separados (como ocorreu na 2ª temporada, para a história ser ampliada). A nova temporada será meio que uma volta até onde tudo começou. E eu faço cada temporada achando que será a última, para não criar expectativa. A 3ª termina com um gancho como uma faca de dois gumes: ou termina ali, como um ciclo, ou pode-se abrir para algo gigante. A temporada se empurra para algo grande, com a junção do Maralto com a Concha e o Continente. Como tudo está tão junto, este pode ser um grande encontro de mundos.