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    Deadly Class: Crítica da 1ª temporada

    Série produzida pelos irmãos Russo traz escola de assassinos repleta de estereótipos e uma tentativa de crítica social.

    Nota: 3,0 / 5,0

    A vida durante a adolescência não é fácil. Repleta de inseguranças, hormônios, dúvidas, estereótipos, eventual bullying e as responsabilidades com a escola. Imagine, então, passar por tudo isso e ainda ser órfão, tendo enfrentado uma série de sofrimentos na infância, e frequentar um colégio especial. Poderíamos estar falando de Harry Potter e sua Hogwarts, mas estamos comentando sobre Marcus (Benjamin Wadsworth) e a Escola de Artes Mortais dos Reis Soberanos, destinada a formar jovens assassinos. Esta é a premissa de Deadly Class, série produzida por JoeAnthony Russo (Vingadores: Ultimato), baseada nos quadrinhos escritos por Rick Remender, que também atua como showrunner e roteirista da produção.

    Syfy

    Ambientada em San Francisco, no ano de 1987, durante o governo de Ronald Reagan, a produção do canal Syfy tem como mote trazer para os holofotes críticas sociais interessantes que permeiam o dia a dia não só dos adolescentes mas pessoas de todas as idades. O roteiro faz isso com muito humor e sarcasmo, especialmente nas cenas em que o protagonista questiona seu papel na sociedade, moralidade, capitalismo e até mesmo o que é felicidade, e faz isso através de frases de efeito retiradas de seu caderno de anotações, apresentadas em uma narração em off que buscam dialogar com o público. Enquanto tal recurso traz uma clima de melancolia para a série, as atitudes do personagem nem sempre condizem com seus devaneios. Já que Marcus, como todo adolescente que chega novo em algum lugar, tenta se adequar a grupos específicos, conquistar a garota, desafiar o praticante de bullying, e adquirir o afeto e a atenção daqueles que o cercam.

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    Ao mesmo tempo em que apresenta um discurso desafiador, Deadly Class possui elementos bastante caricatos. O refeitório da escola, por exemplo, é dividido em grupos não só em níveis de popularidade mas também em raça, como visto em qualquer "high school" norte-americano, com os alunos segregados em gangues (já que são assassinos), com estereótipos alçados ao extremo. Assim, temos os "nerds" filhos de empresários ricos; os "atletas" russos descendentes de agentes da KGB; as "animadoras de torcida" neonazistas; enquanto os estudantes latinos, negros e asiáticos formaram suas próprias gangues. Já Marcus, um órfão meio latino, parece não se encaixar em nenhum lugar, e acaba integrando o grupo dos "ratos", os rejeitados que passam o tempo livre fumando no telhado e debatendo sobre os males do capitalismo.

    Apesar da clara temática teen abordada nos capítulos — com um foco demasiadamente longo no triângulo amoroso entre Marcus, a mexicana Maria (María Gabriela de Faría) e a japonesa Saya (Lana Condor) —, a série toca em assuntos controvérsos, como pais abusivos, sexo, drogas e assassinato. Desse modo, a violência é extrema, em alguns casos nauseante e exagerada, ainda que as cenas de ação sejam bem coreografadas.

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    Com 10 episódios, a maioria de caráter procedural, leva-se muito tempo para aprender o nome dos personagens, se identificar com eles, ou mesmo notar outros que não sejam do núcleo principal. A produção se preocupa em desenvolver, mesmo que lentamente, a história de origem de cada um dos amigos de Marcus, tanto que apresenta flashbacks em forma de animação, uma escolha acertada e excelente. Entretanto, deixa de lado outros coadjuvantes, que reaparecem na trama como recurso de roteiro — é o caso dos estereotipados Brandy (Siobhan Williams) e Viktor (Sean Depner).

    Ainda que se esforce para fazer cada um dos personagens humanos, quebráveis, que possuem camadas além dos estereótipos, Deadly Class peca em desenvolver seus vilões. O mais assertivo deles talvez seja Chico (Michel Duval), cuja motivação pelo poder e controle não só sobre os colegas da escola mas também de sua namorada, Maria, é bem desenvolvida. Ao contrário de Madame Gao (Olivia Cheng) e Chester (Tom Stevens), que têm objetivos pessoais claros mas aparecem na trama repentinamente e com atitudes exageradas e fora de tom. O mesmo ocorre com o "semi-antagonista", caricato e mal explorado, Shabnam (Isaiah Lehtinen).

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    Os destaques da produção são Benedict Wong (Doutor Estranho), que interpreta o misterioso diretor da escola Mestre Lin; Benjamin Wadsworth (Teen Wolf), contido porém carismático em sua atuação como Marcus; Lana Condor (Para Todos os Garotos que Já Amei), sensível e espetacular no papel de Saya, e María Gabriela de Faría, entregando uma Maria bipolar e inconsequente com bastante veracidade. Pena que a série transforme o desenvolvimento das personagens femininas pautada na briga que elas têm pela atenção de um homem.

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    Com uma estética bem definida, bastante colorida e retrô, Deadly Class ainda traz uma série de referências à década de 80, com direito a discussão sobre qual saga dos X-Men é a melhor, e a participação de Henry Rollins, vocalista de bandas dos anos 80 como Black Flag e State of Alert, como um dos professores do colégio. Sem contar que a trilha sonora é composta de hits de David Bowie, U2, Ozzie Osbourne, Duran Duran, The Cure, The Smiths, Iron Maiden, Nirvana, entre outros. Destaque para a estética do episódio cinco, "Saudade", que leva os personagens para fora da escola, em Las Vegas, e apresenta uma bad trip colorida e animada de Marcus, além de focar em cenas dramáticas entre os personagens.

    Trazendo um forte gancho para a segunda temporada, a série ainda não foi renovada. Resta saber quais serão os próximos passos da produção, que terá que aparar algumas beiradas para seguir em frente e encontrar assertivamente seu público alvo.

    Deadly Class está disponível no Brasil pelo Globoplay.

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