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    Game of Thrones 8x03: Batalha de Winterfell expõe o melhor e o pior da temporada final

    Leia a nossa critica do episódio "The Long Night."

    ATENÇÃO! Contém spoilers. 

    Após muitas promessas da batalha mais longa e mais ousada da televisão e do audiovisual, Game of Thrones satisfez muitos fãs com o episódio “The Long Night.” Você está entre eles?

    É o típico grande embate entre “o bem e o mal” no final de uma jornada. Isso no mesmo fim de semana da estreia do já bilionário Vingadores: Ultimato, diga-se de passagem. “The Long Night” tinha muito a fazer e, por isso, muito a ganhar e a perder. Enquanto batalha, é um dos grandes feitos da HBO, daqueles que provam por que Game of Thrones ganha tanto Emmy. Como história, no entanto, infelizmente deixa muito a desejar.

    Game of Thrones já trouxe muitas grandes batalhas ao longo dos anos. As melhores delas se destacam não por grandes momentos catárticos, mas sim por construírem um clima em que há um grande risco para os envolvidos, e do outro lado da tela é possível sentir a mesma agonia, ou no mínimo parte dela. É isso que faz da Batalha de Água Negra um dos grandes episódios da série. Ele balanceia perfeitamente o pavor sentido por todos na Fortaleza Vermelha com os ímpetos loucos de coragem daqueles que vão para a frente de batalha — Tyrion (Peter Dinklage) incluso. Há vulnerabilidade nos olhos de Cersei (Lena Headey) e de Sansa (Sophie Turner), há muito medo nos olhos de Joffrey (Jack Gleeson), que tenta disfarçar com sua arrogância. O episódio é uma dança minimamente coreografada para que a batalha seja algo pavoroso, ainda que a explosão do fogovivo seja linda.

    Dinâmicas similares ocorrem não apenas em outros episódios da série (“Battle of the Bastards” e “The Spoils of War”, para citar apenas os mais recentes) mas em peças da cultura pop em geral. Se não tivermos algo a perder em uma batalha, não há motivos para temê-la.

    Helen Sloan/HBO

    O que “The Long Night” está fazendo vai na mesma onda. É um episódio grandioso, com centenas de nomes envolvidos em uma luta pelo destino dos Sete Reinos. Não há uma estratégia definida para o embate contra os mortos, apenas alguns flancos coordenados divididos entre os “tipos de exércitos”. Há desespero, urgência, explosões e mortes assustadoramente estrondosas. Mas não é nem de longe o “ponto alto da série” que prometeu ser.

    Visualmente, a falta de iluminação nas cenas tornou-se um grave problema que se repete em Game of Thrones há tempos. Sim, a batalha acontece à noite, mas isso não é motivo para cenas tão mal iluminadas que chega a ser difícil até mesmo discernir um personagem do outro. É difícil investir a dedicação em um episódio tão importante quanto este quando um quesito técnico — aparentemente simples — se transforma em um impedimento. Batalhas noturnas não precisam ser mal iluminadas porque não há nada de verossímil em deliberadamente frustrar uma experiência.

    Ainda assim, é claro que o episódio traz sequências impressionantes. Uma de suas qualidades é a forma como intercala pontos altos de muita ação com outros mais introspectivos, na boa intenção de não cansar o espectador. É uma forma inteligente de mostrar que a batalha acontece em diferentes níveis e métodos ao mesmo tempo, sabiamente equilibrando as participações dos muitos personagens centrais e deixando em evidência a exaustão e o desespero em cada um. Não há nada de belo nisso, mas é um aceno para o fato de que todos ali são mortais e estão sim se colocando à risca, mas com medo.

    Helen Sloan/HBO

    Justamente por isso, o episódio empolga com momentos de grande vibração, em que favoritos tomam o centro da narrativa, diálogos remetem a passagens marcantes de temporadas anteriores, lutas coreografadas de forma belíssima chegam a emocionar e personagens outrora escanteados têm seu momento ao sol — ou neste caso, à luz do fogo. Há um desespero crescente, bem retratado a partir do momento em que o episódio entrega aos poucos qual é o real tamanho da ameaça do Rei da Noite. O vôo dos dragões é sempre divertido, e os cortes rápidos entre as cenas imprime velocidade e retrata a falta de coordenação dos movimentos em uma guerra em que nada por ser previsto — ainda que cause exaustão quando é impossível entender o que está acontecendo em uma tomada antes de o episódio cortar para outra, e depois continuar fazendo isso.

    Mesmo que seja visualmente marcante — isso quando foi possível enxergar alguma coisa —, “The Long Night” tem graves problemas de roteiro, sobretudo quando emprega facilitadores batidos para resolver questões aparentemente insolúveis. O investimento tão alto em trazer “a maior sequência de batalha do cinema ou da TV” fez com que o episódio se transformasse em um que funciona mal no vácuo entre o anterior e o próximo. Ele não traz desenvolvimento para os personagens, não aprofunda as narrativas e, no fim, não representa o perigo que tanto anunciou.

    Para uma série que ganhou popularidade e favoritismo sendo imprevisível e corajosa — não houve medo de sacrificar protagonistas na execução de Ned Stark (Sean Bean), no Casamento Vermelho ou no Casamento Roxo —, Game of Thrones chega à temporada final sendo simplista e medrosa no episódio mais promissor até então. É ao mesmo tempo, sem sombra de dúvidas, uma batalha épica, cheia de reviravoltas, mortes e reversões, sequências lindas focadas em alguns dos personagens mais queridos. Mas apesar disso, as mortes são pouco impactantes, ao menos quando estamos falando de personagens principais. Não há alto risco. Poderíamos cogitar a possibilidade de haver uma pegadinha aí — será que a série está escondendo para o episódio seguinte a revelação de alguma morte impactante? —, mas dificilmente é o caso.

    Helen Sloan/HBO

    Dizer que não há alto risco nas mortes executadas não quer dizer que elas não tenham sido emocionantes. A despedida de Theon Greyjoy, vivido com muita dedicação e um desenvolvimento entregue de forma emocionante por Alfie Allen, é sem dúvidas uma das mais marcantes. É um personagem que foi do céu ao inferno em sete — quase oito — temporadas, e enfim encontrou sua paz e sua redenção. Morreu como um herói para o garoto com quem falhou, recebendo o máximo de conforto que aquele poderia lhe dar. Foi digníssimo.

    O mesmo vale para Sor Jorah Mormont (Iain Glen), que bravamente lutou ao lado de sua amada rainha e permaneceu com ela até o fim. Ele também passou por provações, e aqui finaliza um arco que já havia sido fechado no episódio anterior: recebeu o perdão de Daenerys (Emilia Clarke), recebeu de Sam (John Bradley) a espada de aço valiriano dos Tarly, numa retribuição feita pela memória de Jeor Mormont — pai de Jorah e mentor de Sam na Patrulha. Por mais trágicas que sejam as mortes de ambos, são mortes que vêm em bravura e paz, talvez o máximo de conforto que poderia existir nessa situação.

    O truque mais bem executado de “The Long Night”, em meio a tantos mortos, é um que estava escondido bem à vista todo o tempo: Arya Stark. A personagem de Maisie Williams é o melhor ponto de vista do espectador durante toda a batalha, e ela passa por muitas provas que colocam em prática tudo o que aprendeu, seja com Syrio Forel na primeira temporada, com o Cão de Caça e a Irmandade Sem Bandeiras na estrada ou com os Homens de Muitas Faces em Braavos. Ela já havia entregado alguns dos momentos mais marcantes do episódio antes mesmo de dar o golpe fatal no Rei da Noite.

    E por mais incrível e empolgante que seja o momento, é um final fácil demais para um personagem que prometia muito. É simplório porque confirma a redução do arco dos Caminhantes Brancos, que prometia desde a primeira temporada, à saga de um vilão com objetivos rasos e sem complexidade alguma. Game of Thrones sempre foi (ou quis ser) uma história sem heróis e sem vilões, com personagens complexos que oscilam entre a glória e o pecado. Quer dizer, agora é só isso mesmo? Simples desse jeito? Arya e Melisandre servem como dois grandes deus ex machina e acabou?

    Helen Sloan/HBO

    E, não, a referência ao encontro entre Arya e Melisandre na 3ª temporada não basta para justificar os saltos de lógica deste desfecho. Desculpa, Arya. 

    Considerações finais

    - O momento entre Tyrion e Sansa nas Criptas foi respeitável. Gostamos assim;

    - Daenerys, cuide dos seus dragões como Drogon cuida de você;

    - Quem foi que teve a ideia genial de desaparecer com o Fantasma por uma temporada inteira só para na primeira oportunidade colocá-lo no lugar mais perigoso possível na batalha contra os mortos? Alguém proteja este lobo!

    - Jon Snow não faz nada. Ressuscitou só para passear de dragão.

    O que você achou do episódio?

     

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