O que fazer enquanto se espera pela chegada do Rei da Noite com um exército de mortos? Conversar amenidades e beber vinho enquanto ainda dá tempo.
Durante sete temporadas, Game of Thrones fez sua fama ancorada em grandes momentos que tornaram-se assuntos da semana, do mês ou do ano — de Casamento Vermelho a Batalha dos Bastardos. Mas entre um destes grandes momentos e outro existe uma calmaria necessária. É onde estamos no momento.
Talvez este não era o cenário que muitos fãs esperavam na temporada final, sobretudo levando em consideração que trata-se de uma temporada reduzida com apenas seis episódios. Assim como “Winterfell”, o episódio “A Knight of the Seven Kingdoms”, o segundo da temporada, não é um dos mais acelerados, mas traz um momento importante enquanto todos os personagens se deixam ser vulneráveis pela última vez antes de enfrentarem a possível morte.
O episódio retoma a história pouco depois do fim do anterior. Depois de alguém finalmente ter tirado Bran (Isaac Hempstead-Wright) do sereno, Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) enfrenta uma espécie de julgamento frente a Daenerys (Emilia Clarke), Sansa (Sophie Turner) e Jon (Kit Harington). A Rainha relembra, em um discurso, o fato de Jaime ter matado seu pai, o Rei Aerys II Targaryen, e o ameaça antes da intervenção de Tyrion (Peter Dinklage) e de Brienne (Gwendoline Christie).
A dinâmica de poder entre Dany e Sansa continua sendo o ponto mais interessante de se observar, justamente pelas formas completamente diferentes com que as duas lidam com a interferência de seus respectivos conselheiros. Tyrion é ouvido na função de Mão do Rei, mas questionado duramente por Dany, que atribui a ele a culpa por ter confiado na palavra de Cersei (Lena Headey) e também duvida de sua lealdade, a partir do momento em que o irmão está do lado supostamente oposto.
Sansa não está mais interessada em redimir o homem cuja família matou seu pai e a torturou psicologicamente sem dó enquanto a manteve prisioneira em Porto Real, mas ela cede e resolve permitir que ele permaneça em Winterfell e lute pelo Norte graças às palavras de Brienne.
Existe um senso de confiança e apego de Sansa com as pessoas que a servem que parece fascinar Daenerys, que possivelmente enxerga nos métodos da Senhora de Winterfell uma familiaridade que lhe é completamente alheia. Daenerys vai conversar com Sansa a pedido de Jorah (Iain Glen), em um diálogo que tenta tirá-las de um lugar de competição ao mostrar o quanto elas têm de semelhança, sendo mulheres de poder em meio a uma realidade essencialmente masculina.
O momento, que acaba abruptamente com a chegada de Theon (Alfie Allen) jurando novamente sua lealdade a Winterfell, não é totalmente pacífico, pois Dany fica sem saber o que dizer após Sansa questionar qual será o futuro do norte depois que o Rei da Noite e Cersei forem derrotados. Deixando de lado toda a confiança que as duas depositam na vitória fácil dos seus exércitos frente aos inimigos, o momento é mais um indício de que a paz não será selada de forma tão fácil entre Stark e Targaryen. Isso se Daenerys realmente seguir com seus planos de clamar para si o Trono de Ferro.
O detalhe mais intrigante nesta conversa vem com a menção de Jon (Kit Harington). Quando Sansa afirma ter medo de que Jon entregue o norte a Dany ou que faça alguma besteira “por amor”, a rainha rebate dizendo que na verdade foi ela que mudou seus planos para lutar as batalhas de seu amado — é por isso que ela está no norte, esperando para enfrentar uma horda de zumbis gelados, e não em Porto Real destronando Cersei (Lena Headey).
Ver Daenerys confessando que ela momentaneamente abriu mão de seu maior objetivo por causa de Jon — e não porque todo o reino estava ameaçado e poderia ser destruído em um inverno sem fim — traz logo uma outra questão: será que estamos caminhando para um futuro em que ela abrirá mão completamente do Trono de Ferro em favor do sobrinho? Ainda não sabemos como Jon se sente agora que sabe ter direito legítimo ao Trono, mas sabemos que Daenerys mudou seus planos uma vez por ele. Ela mudaria mais uma vez?
Quaisquer que sejam as políticas em torno do mérito de quem vai ser rei ou rainha, ou quem é filho de quem, terão que esperar, pois existe uma questão maior: não vai sobrar Trono de Ferro ou Westeros se o exército do Rei da Noite não for derrotado. E é para fazer esse alerta que chega a trupe que vem da Patrulha da Noite. Beric Dondarrion (Richard Dormer), Edd (Ben Crompton) e Tormund (Kristofer Hivju) fazem sua entrada em Winterfell e explicam que o Rei da Noite já passou de Última Lareira e que todos que estão a norte do castelo dos Stark já lutam pelo outro lado. A estratégia precisa terminar de ser montada, e rápido.
O momento pré-guerra é a calma que precede a tempestade, uma espécie de último suspiro antes de os personagens mergulharem completamente em águas nunca antes exploradas. É a última chance de mostrar as sensibilidades afloradas e estabelecer (ou retomar) algumas amizades ou conexões. Isso é o que acontece, por exemplo, em toda a sequência que reúne Tyrion, Jaime, Brienne, Podrick (Daniel Portman), Davos (Liam Cunningham) e Tormund conversando no salão de Winterfell. Por mais inicialmente estranho que seja ver este grupo de personagens reunido, o momento traz uma espécie de conforto e ganha importância quando observa-se a forma como todos se tratam de forma respeitosa, sabendo do que está adiante. A condecoração de Brienne de Tarth como Cavaleira, pelas mãos de ninguém menos que Jaime Lannister, soa como um último momento de graça e glória para esta dupla de personagens tão impactante, antes de que tudo seja irremediável.
Mas o momento do “é agora ou nunca” não fica apenas na condecoração de Brienne e chega até Arya (Maisie Williams) e Gendry (Joe Dempsie). A garota resolve perder a virgindade com o ferreiro, algo entendível frente à urgência da guerra, mas também desconcertante. É um pouco traumático ver seminua uma personagem que cresceu em frente aos olhos do público no decorrer da série, sobretudo porque falta delicadeza e sensibilidade na forma como a cena é entregue. É um elefante no meio da sala, e destes quem gosta é Cersei.
“A Knight of the Seven Kingdoms” acaba sendo mais um episódio de preparação, que adia para depois da iminente batalha a conversa que terá que acontecer entre Jon e Daenerys. Percebendo a incerteza do rapaz, ela o encontra nas Criptas e ele conta a verdadeira história sobre sua linhagem — e o motivo por que ele está tão distante. Os dois não têm muito tempo para alongar a conversa e Dany também não tem muito tempo para reagir, mas era apenas o natural que a sua primeira reação fosse de desconfiança. E como seria diferente, depois de ela ter passado a vida acreditando que era a última de sua família?
Ainda que não tenha sido o episódio repleto de ação que muitos fãs esperavam, “A Knight of the Seven Kingdoms” prepara muito bem o terreno para o que deverá mover a história depois da batalha, que acontecerá no próximo domingo. A disputa pelo Trono de Ferro não fica esquecida, mas a lealdade do Norte e o que acontecerá com as terras frias futuramente também volta a ser uma questão importante — que abre espaço ou para um novo conflito entre Stark e Targaryen ou para um futuro pacífico onde cada um reine em seu canto sem atrapalhar a vida de ninguém.
É claro, tudo isso se houver um futuro. Sabemos que há algo que o Rei da Noite quer com sua investida continente adentro, e isso passa diretamente por Bran. O Corvo de Três Olhos é o que o líder dos Caminhantes Brancos quer conquistar, e respostas neste sentido são cada vez mais urgentes. Por quê? O que acontece depois? Quem vive e quem morre? Haverá Trono de Ferro?
Perguntas para um breve futuro.
Considerações finais:
- As Ilhas de Ferro são mencionadas pela segunda vez como um possível refúgio ou porto seguro para os nortenhos. Isso pode ser uma forma de, enfim, dar uma motivação ao arco dos Greyjoy, que desandou sem rumo por muitas temporadas. De uma forma ou de outra, aquele abraço entre Sansa e Theon aqueceu um coraçãozinho gelado aqui;
- Parece que o bebê Sam cresceu mesmo. Aquela cena aos moldes de Titanic, inclusive, fez correr um mau presságio e já estamos temendo pela vida do remanescente Tarly;
- Falando em Tarly, Sam ter entregado a Veneno do Coração a Jorah Mormont é um belo tributo ao momento em que Jeor Mormont (James Cosmo) entregou a espada de sua Casa, a Garralonga, de presente a Jon Snow. O bom filho retorna;
- A música cantada por Podrick, "Jenny of Oldstones", faz uma bela menção aos livros de George R.R. Martin, junto ao próprio título do episódio. Existe uma versão da música cantada por Florence Welch, recém divulgada;
- De olhos vermelhos e pelo branquinho, quem também retorna é o nosso querido Fantasma. Tudo vale a pena com Fantasma de volta. Bem-vindo de volta, Fantasma. Pode pegar o Trono de Ferro para você. É seu.
O que você achou do episódio?