Ano vai, ano vem, a história com One Day at a Time é a mesma. A mesma, aliás, que já afligiu muitas outras séries. A showrunner e cocriadora Gloria Calderón Kellet recorreu ao Twitter nesta semana para avisar aos fãs que teve uma reunião com a Netflix para debater uma renovação para a quarta temporada. A resposta que teve dos executivos do canal foi que eles amavam tudo aquilo que a série representa e o quanto é defendida pelos fãs, mas que precisavam de mais audiência.
Ah, a audiência... aquela velha conhecida que às vezes é amiga, às vezes é inimiga. Cadê aquelas 40 milhões de contas que assistiram a Você e Sex Education quando precisamos delas?
O pedido de Calderón Kellet aos fãs foi apenas um: espalhem para os seus amigos a palavra de One Day at a Time, pois as três primeiras semanas após a estreia são as que contam na decisão da Netflix por uma renovação ou um cancelamento.
Os apaixonados pela família cubana de Lydia (Rita Moreno) argumentam que o mesmo canal de streaming que produz a série não divulga seu lançamento e não chama seu público a conhecê-la. Daí, supostamente, a tal baixa audiência que também não podemos confirmar exatamente. A afirmação é questionável, mas a quase unanimidade é que, em três temporadas, One Day at a Time foi se provando cada vez mais um ponto de conforto em meio a um mundo de caos. É, virtualmente, um abraço quentinho em um dia frio.
One Day at a Time: Crítica da 3ª temporadaMais do que fazer reflexões enfáticas e necessárias sobre xenofobia, homofobia e machismo (e fazê-lo de forma acessível), One Day at a Time pode ser considerada a série que renovou a fé da humanidade na sitcom multicâmera — ou seja, naquelas séries gravadas em frente a uma plateia, que durante o auge da Terceira Era de Ouro da TV (aquela que começou com Família Soprano) foram escanteadas por, teoricamente, não trazerem nada de novo. Mesmo sendo elas as criadoras do formato seriado como conhecemos hoje.
Paralelamente à rota de ascensão de One Day at a Time no coração do público, surgiu em vias de Tumblr um novo movimento literário que se intitula contraventor: o hopepunk. A ideia é transformar a alegria, a crença de que as coisas podem melhorar e que o mundo não vai acabar amanhã (por mais que as notícias nos façam acreditar, às vezes, que o ser humano passou da hora) em força para lutar.
"Hopepunk diz que se importar genuina e sinceramente com alguma coisa, qualquer coisa, requer bravura e força", explicou a criadora do termo, Alexandra Rowland (via Vox). "Hopepunk não é sobre submissão ou aceitação: é sobre defender e lutar por aquilo em que você acredita. É sobre lutar por outras pessoas. É sobre EXIGIR um mundo melhor, mais gentil, e realmente acreditar que podemos chegar lá se nos importarmos uns com os outros tanto quanto for possível, com cada gota de poder em nossos corações."
25 séries canceladas cedo demaisPensando nisso, One Day at a Time é a solução perfeita. É a história de uma família que, apesar de vários problemas e desentendimentos geracionais e ideológicos, permanece junta. É a história de uma família que, mesmo não se entendendo todas as vezes, consegue ver humor nas pequenas coisas. Em tempos em que somos bombardeados por tragédias e levados a nos sentir culpados por querer consumir cultura pop à beira do apocalipse, esta comédia nada na contracorrente e faz exatamente o que o hopepunk quer que se faça: dá energias para que possamos continuar querendo, um dia, ter uma realidade um pouco menos injusta.
É óbvio que One Day at a Time não vai salvar o mundo. Infelizmente. Mas pelo menos ela pode te fazer acreditar que é possível.