Nota: 3,5/5
O espectador que acompanhar Baby em busca de imagens de sexo adolescente e prostituição de luxo entre as classes ricas italianas, vai se surpreender - positivamente, quem sabe. A prostituição representa uma questão importante na história de Chiara (Benedetta Porcaroli) e Ludovica (Alice Pagani), mas este é apenas um dos diversos temas que atravessa a trajetória das duas, e dificilmente constituiria o principal. O sexo, violência e drogas são tratados de modo discreto e pudico pelos criadores - sequer existe nudez na série.
O que realmente interessa aos diretores Andrea De Sica e Anna Negri são os motivos que levariam uma pessoa a tal decisão: por que adolescentes ricas passariam a vender o corpo em troca de dinheiro? Por que aceitariam se encontrar com anônimos, correndo o risco de violência e doenças, já que possuem pretendentes da sua idade por quem se sentem atraídas? Em outras palavras, por que alguém abriria mão do conforto em busca do risco?
O projeto efetua uma boa investigação em busca de respostas. No caminho, encontra uma juventude entediada, negligenciada, procurando desesperadamente por atenção e afeto. Todos os jovens da prestigiosa escola onde se situa a trama enfrentam problemas familiares: os pais de Chiara vivem um casamento de fachada, Ludovica é menosprezada pelo pai, Damiano (Riccardo Mandolini) é órfão de mãe e tratado friamente pelo pai, Fabio (Brando Pacitto) mantém um relacionamento apenas protocolar com o pai, os pais de Camilla (Chabeli Sastre) e Niccolò (Lorenzo Zurzolo) sequer acompanham a rotina dos filhos.
Ao mesmo tempo, estes jovens podem ter tudo e nada: quando Chiara está triste, o pai não conversa com ela, mas lhe dá um carro. Muitos dos conflitos poderiam ser descritos com o que se acostumou a chamar de white people problems, ou seja, problemas supérfluos de pessoas brancas e ricas, mas é louvável que a série perceba o quão vazias são as vidas desses personagens, sem torná-los vítimas em momento algum. As duas protagonistas nunca são ingênuas, e as pessoas encontradas em seu caminho tampouco constituem vilãs. Trata-se de abuso de poder, machismo, negligência parental, mas jamais uma "maldade" absoluta e idealizada.
O contexto social bate à porta em todos os episódios, seja para retratar a arrogância da elite, para criticar o racismo (Damiano é chamado de "árabe" na escola nova), a homofobia e a misoginia. Mesmo a riqueza é dissecada em grupos: alguns são os ricos de berço, acostumados a essa vida (Chiara, Camilla), outros ascenderam socialmente há pouco tempo, sofrendo por sua origem humilde (Damiano), e outros ainda são ricos decadentes, tentando sustentar uma falsa imagem de estabilidade financeira (Ludovica). Enquanto a adolescência é pintada como uma fase de incertezas, a vida adulta é vista como um poço de amargura. Mesmo com todo o dinheiro, o futuro não parece nada promissor às protagonistas.
Desde a narração inicial, fala-se sobre os adolescentes ricos vivendo num "aquário", perfeito porém cortado do resto do mundo. Baby retrata bem a ideia de um nicho do qual é impossível escapar. Até por isso, o ideal de fuga manifestado pela maioria dos personagens não se concretiza. Eles possuem recursos suficientes para irem a qualquer parte do mundo, mas não conseguem viajar aos Estados Unidos, como planejado, nem mesmo escapar até o mar. "Dizem que nos Estados Unidos é tudo igual", comenta uma colega. Então por que sair? Chiara e Ludo estão chateadas, perdidas, mas acabam voltando à mesma escola, às mesmas festas, às mesmas pessoas que lhes fazem mal. A repetição de espaços e movimentos - os elegantes planos aéreos das avenidas, as fachadas da escola - contribui à sensação de clausura.
A possibilidade da prostituição surge apenas na segunda metade da temporada, e ainda assim numa gradação cuidadosa. A possibilidade de sair com homens desconhecidos - só para jantar, sem obrigação nenhuma depois, como precisa Saverio (Paolo Calabresi) - parece tentadora às jovens invisíveis. Nestes jantares de luxo, elas se tornam o centro das atenções, o objeto de cobiça de homens igualmente solitários. Existe uma paternidade simbólica no advogado e no técnico de computadores que encontram Chiara e Ludo, apenas pelo prazer de conversar com alguém. Os diretores certamente dedicaram tempo considerável à direção de suas atrizes, extraindo atuações tão boas quanto contidas.
A série abandona qualquer ingenuidade e faz questão de frisar que esta alternativa pode fornecer riscos às garotas, além de não produzir satisfação a longo prazo. Partindo de um drama bastante eficiente, Baby se transforma cada vez mais num suspense, momento em que perde um pouco de sua potência. A psicologia dos jovens é construída com tamanha cautela que as reviravoltas abruptas envolvendo Saverio e Fiore (Giuseppe Maggio) nos dois episódios finais são mal dirigidas, além de pouco verossímeis.
Do mesmo modo, a insistência de fazer com que toda a trama gire em torno de Damiano soa acessória demais: duas personagens são apaixonadas por ele, um garoto também demonstra interesse, Ludo cruza o caminho do garoto, e mesmo o núcleo dos aliciadores de menores acaba por incorporá-lo. Quando o roteiro investe na união improvável entre a aluna "louca" (Ludovica) e a comportada (Chiara), o atrito provocado pelas cenas é muito bom. Quando elas são separadas (episódios 2 e 3), sendo comparadas apenas pela montagem paralela, a história se enfraquece.
Ao final, toda a polêmica sobre a suposta romantização da prostituição e do abuso de menores soa absurda. As garotas não levam uma vida maravilhosa com o dinheiro dos encontros, elas não são ludibriadas, tampouco permanecem neste esquema por muito tempo. O distanciamento em relação às atitudes predatórias de Saverio e Fiore é evidente. Cada novo programa é marcado por dúvidas e inseguranças, seja antes, durante ou depois. A série trata, de fato, de livre arbítrio, de uma busca desenfreada por autonomia e identidade na época em que qualquer um posta vídeos sorridentes nas redes sociais, embora esteja bastante infeliz fora das câmeras. O projeto aborda a falência social como um esquema amplo, que envolve a política (o pai de Damiano), a escola (o pai de Fabio), e que sequer inclui religião ou qualquer outra coletividade unida por um ideal em comum.
O que leva Chiara e Ludovica a experimentar algo tão claramente arriscado se deve a mais do que seu tédio de garota burguesa (embora também inclua isso): a atitude de ambas é interpretada como um sintoma do individualismo esvaziamento de nas grandes cidades. Como afirma a narração inicial: "Se você mora em um bairro bonito de Roma, sorte sua. E o nosso é o melhor que existe". Ao final, esta frase repetida ganha um significado muito mais amargo.