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    Magnífica 70 e seus grandes vilões (Primeiras impressões da 3ª temporada)

    Já vimos o primeiro episódio da temporada final da série!

    Uma velha regra dos quadrinhos diz que pode-se medir um super-herói pelos vilões que enfrenta. Por mais que passe longe de qualquer ambiente heróico, Magnifica 70 não foge de todo à regra. Afinal de contas, são muitos os vilões marcantes das duas temporadas já lançadas, alguns deles de volta nesta season finale.

    O maior deles, é claro, é a própria ditadura militar e sua perseguição à cultura em geral. A imagem do censor que se apaixona pelo cinema é uma preciosidade que, mesclada ao cinismo necessário para o momento e às brincadeiras em torno da História e da linguagem cinematográfica, levaram Magnífica 70 ao brilhantismo em sua estreia. Felizmente, esta terceira temporada não comete o erro básico de sua antecessor: na ânsia em surpreender o espectador, reposicionou os personagens sem lhes dar a sustentação necessária, dando ao rearranjo um ar de gratuidade. Soma-se a isto a irritante insistência em entregar flashbacks a todo instante, dando à narrativa um ritmo extremamente didático que, por outro lado, limou o que a série sempre teve de mais interessante: o fascínio em torno do cinema e o quanto isso influenciava na eterna busca pela sobrevivência, seja financeira ou mesmo moral.

    O primeiro episódio desta nova temporada é uma continuação direta do desfecho da segunda temporada, sem qualquer salto temporal. Estamos em 1978, em pleno governo Geisel, com Vicente (Marcos Winter, ótimo) convertido em um surto conservador que o faz ter conselhos com o sogro, o falecido general Souto - mais um vilão inesquecível para a conta de Paulo César Pereio. Alçado ao posto de chefe da censura em São Paulo, Vicente não só deixa de lado a carreira de cineasta como está decidido a ampliar ainda mais a perseguição cultural. Tal proposta o alça ao posto de grande vilão deste início de temporada, abrindo espaço também para uma subtrama política bastante interessante, envolvendo divergências entre os militares. A eterna fogueira das vaidades, sempre de olho no poder, arde intensamente.

    Como o título deste episódio anuncia, "O Caos", a vida não anda nada fácil para os demais magníficos. Imersa na clandestinidade, Isabel (Maria Luísa Mendonça) logo descobre que sua célula guerrilheira está longe de ter o alcance sonhado. Sua tomada de posição como líder não apenas segue a narrativa da personagem desde a primeira temporada, cada vez mais independente e dona de seu destino, como traz uma hábil artimanha feminista, em plenos anos 70. Já Manolo (Adriano Garib) segue estrada afora como caminhoneiro, fugitivo após incendiar o galpão da Magnífica Produções. O desfecho do episódio, porém, mais uma vez ressalta seu coração ao abandonar o posto de auto-exilado.

    Entretanto, a maior barra pesada deste episódio de estreia cabe a Simone Spoladore. Sua Dora Dumar é abusada e feita de escrava sexual até, ao fugir, ter que ser amordaçada e amarrada. Dora quer morrer, traumatizada com a morte de Santos (Felipe Abib), e encontra um caminho até mesmo compreensível para o estado em que se encontra. Apesar disto, é também em sua subtrama que encontra-se o calcanhar de Aquiles deste episódio, pela manipulação escancarada dos novatos interpretados por Vinícius de Oliveira e Maria Zilda Bethlem. Soa exagerada, especialmente em relação a Vinícius.

    De toda forma, o primeiro episódio da terceira temporada mostra que Magnífica 70 volta em boa forma. Brincando ao mesclar formatos de tela ou mesmo por absorver fatos históricos, como o incêndio que atingiu a Cinemateca do MAM, a abertura dosa os flashbacks de forma que sejam mais orgânicos na narrativa como um todo. Ao mesmo tempo, se importa mais em surpreender com os rumos de seus protagonistas do que propriamente em mudá-los de posição abruptamente. Isso sem falar na manipulação, esta positiva, dos conceitos sempre pregados na série em torno da censura e da cultura em geral. É inevitável o choque ao ver Vicente, tão enérgico, descrevendo seu plano em reeditar todo e qualquer filme já feito, pelo bem da pátria.

    Mais uma vez, Magnífica 70 tem muito a dizer. E é apenas o começo.

    Magnífica 70 é exibida aos domingos, às 21h, no canal HBO.

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