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    Magnífica 70: “A arte traz alma para um país”, afirma a atriz Maria Luísa Mendonça (Entrevista exclusiva)

    As protagonistas Simone Spoladore e Maria Luísa Mendonça ressaltaram a importância da arte resgatar a história política.

    “As mulheres vêm aí”, afirmou Maria Luísa Mendonça sobre o reencontro dos “Magníficos” durante a terceira e última temporada de Magnífica 70 em entrevista concedida ao AdoroCinema.

    A nova fase da série estreia neste domingo, dia 14, às 21 horas, na HBO. Com 10 episódios e direção de Claudio Torres, a temporada se inicia em 1975, e traz os protagonistas separados após o incêndio da produtora.

    Manolo (Adriano Garib) encontra uma jovem aspirante a atriz que sofre abusos do pai; Dora (Simone Spoladore) está em busca de vingança por ter sido escrava sexual e Isabel (Maria Luísa Mendonça) vive na clandestinidade e luta para que as mulheres assumam o poder.

    No capítulo exibido para a imprensa na semana passada, é possível notar um clima maior de batalha através de imagens sombrias - que sugerem, inclusive, um novo gênero à trama, o suspense.

    Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, as protagonistas Simone Spoladore e Maria Luísa Mendonça revelaram detalhes de seus personagens nesta nova temporada e ressaltaram a importância da arte resgatar a história política. Confira a entrevista na íntegra a seguir:

    A Isabel mudou muito da primeira pra segunda, quais são os desafios da terceira temporada?

    Maria Luísa Mendonça: Virar uma guerrilheira e não aceitar esse regime militar - algo bem atual. Acredito que o desafio é fechar bem essa série, que foi feita por uma equipe incrível. Amei poder fazer uma personagem que eu sempre quis, pegando em armas - mas só na ficção, porque aí você não está fazendo mal a ninguém. Para mim o mais legal foi essa coisa de atirar, eu já tinha feito algumas aulas mas foi muito legal o trabalho, eu fiz tudo, não tinha dublê, e eu gostei muito.

    Dora já tem um passado traumático e busca alternativas para se livrar desses monstros, no entanto, no último episódio da segunda temporada a personagem enfrenta mais uma situação dolorosa. Como a Dora vai enfrentar esses problemas daqui pra frente?

    Simone Spoladore: Eu não sei se ela consegue enfrentar, eu acho que quando ela entra na sala com aqueles homens e se submete àquilo para salvar a pessoa que ela ama, e ali eles o matam na frente dela, é uma divisão muito grande na personalidade dela. Tanto que ela fala: “É só o meu corpo”, como se ela separasse a cabeça do corpo e, na minha opinião, ela não se recupera disso durante a terceira temporada, eu acho que ela fica nesse vazio. Mas mesmo com isso ela vai buscar a vingança, vai se unir a todos eles.

    Magnífica 70 é uma série muito importante em um momento político delicado como este. No que a arte interfere neste sentido? Como vocês definem a importância de resgatar a história política através de conteúdos audiovisuais?

    Simone Spoladore: Eu nasci em 1978, em Curitiba, e meus pais não tinham uma relação com política, então eu não sabia o que estava acontecendo, e na escola também não tinha uma profundidade nesse assunto. Acho que aprofundei minha visão sobre política fazendo cinema, quando eu fiz O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias que eu fiz uma ex-guerrilheira, então eu fui fazer A Memória Que Me Contam, com a Lúcia Murat, foi a partir do cinema que eu fui tomando consciência das coisas. E isso é muito importante, é uma fonte de aprendizado, para a gente refletir sobre tudo o que está acontecendo.

    Maria Luísa Mendonça: Resgatar a história, para não esquecer. Acredito que a arte traz alma para um país, e é um lugar onde você encontra um espaço para se expressar, por isso que pensar em um regime militar no qual a liberdade de expressão, na minha profissão, na sua, de todos, não pode existir, é um negócio muito complicado. Acho bonito quando a gente pode também ter um olhar para aquilo que a gente não quer, para não repetir.

    O que há de mais atraente nesta temporada?

    Maria Luísa Mendonça: Acho que vai ter uma coisa de união, que é bonita, os quatro vão se juntar e um vai ajudar o outro em todas as suas dificuldades. Para mim o que há de mais atraente é conseguir fechar um trabalho com muita dignidade, com uma equipe que a gente esteve junto por seis anos, uma equipe muito talentosa e que conseguiu imprimir muito. Foi um casamento bem-sucedido da HBO com a Conspiração, é bonito ver em um momento que não é tão fácil produzir coisas ter um trabalho de qualidade.

    Simone Spoladore: É bom a gente lembrar que o trabalho feito na série é pioneiro, a gente está começando a fazer isso no Brasil, não que a “Magnífica 70” seja a única, o Mandrake tem quinze anos, mas agora o mercado aumentou, antes era uma coisa única, agora está virando um mercado de trabalho, tem muita série sendo produzida.

    Neste momento, há um crescimento de produção de séries brasileiras e co-produções. Qual é o maior desafio de fazer parte desse processo de criação que promove a mudança do mercado audiovisual brasileiro e global?

    Maria Luísa Mendonça: É fazer o melhor para que seja o melhor, para que isso abra mais portas, para que venha mais, para que abra o mercado, para que gere emprego, gere entretenimento, e para que gere discussão e pensamento. Acho que essa força da HBO e de outros que estão no mercado só ajuda porque nos faz crescer.

    Simone Spoladore: A gente tem uma cultura monopolizada, um tipo só de dramaturgia, um tipo só de atuação, um tipo de tudo. Acho que isso que está acontecendo no mundo e no Brasil, com um mercado das séries expandindo, começa a ter possibilidades de fazer as coisas de um outro jeito, e eu acho isso muito importante e valioso. Caso contrário, a gente acha que o mundo pode ser visto apenas de um jeito, e sabemos que não é assim.

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