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    Maniac: Três motivos para amar e três motivos para odiar a série da Netflix

    De que lado você está?

    Maniac: ame ou odeie. Esta parece ser a máxima da minissérie da Netflix protagonizada por Jonah Hill e Emma Stone. Criada por Patrick Somerville (The Leftovers) a partir do formato homônimo norueguês, a série tem seus 10 episódios dirigidos por Cary Joji Fukunaga (True Detective, primeira temporada), e é estranha o suficiente para gerar sentimentos antagônicos no espectador. De que lado você está?

    Maniac é a experiência mais surreal que a TV vai proporcionar em 2018 (Crítica)

    Ao longo da semana de estreia da série, acompanhamos nas redes sociais — e na recepção geral da imprensa — todo tipo de reação à comédia. Houve quem já a colocasse entre as melhores séries do ano. Houve quem sequer aguentasse ver a temporada completa. E também quem anunciasse que “não é capaz de opinar.” Pensando nisso, o AdoroCinema resolveu mediar a situação e listar três motivos por que amar a série — e três por que odiar.

    Para amar: o ótimo elenco

    Netflix

    É até um pouco estranho ver Jonah Hill longe do espectro cômico tradicional de seus personagens, mas é exatamente o que acontece em Maniac. Apesar de ser tratada como um projeto de comédia, a série toca em temas relacionados a depressão e doenças mentais, o que exige uma atuação contida tanto de Hill quanto de Emma Stone.

    Não apenas por isso, os dois entregam performances que fazem muito bem à compreensão dos seus personagens. Tanto Owen (Hill) quanto Annie (Stone) têm traumas que refletem em seus traços de personalidade, o que precisa ficar claro para o espectador através das atuações — e fica. Além disso, por conta do caráter antológico de aproximadamente metade da temporada, os dois acabam interpretando várias versões de Owen e Annie, e entregam muito bem esta mudança veloz.

    Para amar: universo bem estabelecido

    Michele K. Short/Netflix

    Maniac é ambientada em uma versão distópica de Nova York, e tem trejeitos que misturam traços futuristas e outros anacrônicos. Há vários detalhes a respeito de economia  e do comportamento geral desta sociedade, como o “ad buddy”, que fazem da peculiaridade cativante. Embora seja possível inferir que trata-se de uma metrópole do futuro, muito do que está ali transmite uma sensação de algo do passado. O deslocamento no tempo funciona a favor da trama, porque não exige uma relação direta com a situação atual e deixa o que não está dito livre para o público imaginar à sua própria maneira. Trata-se de uma estética quase cyberpunk, que ajuda a compor a sensação claustrofóbica e opressora, sobretudo em termos psicológicos.

    Além disso, se a primeira impressão for a que fica, Maniac se sai bem. O primeiro episódio cumpre com maestria o seu propósito: apresentar o básico de cada personagem e gerar curiosidade no público, que vai querer continuar assistindo para sanar a curiosidade.

    Para amar: visualmente divertida

    A composição de cores da série é muito atraente, e em um primeiro olhar é muito difícil não compará-la a Legion, que é outra festança visual. Existe um contraste muito grande em relação aos cenários, que causa um deslocamento que só pode ser proposital. Enquanto algumas cenas trazem ambientes muito mais formais ou sóbrios, sobretudo quando trata-se da família de Owen, Maniac abusa das cores e das esquisitices de alguns de seus personagens quando quer transmitir a ideia de deslocamento que os protagonistas sentem em relação ao restante do universo.

    O segredo de abusar do visual excêntrico está em saber identificar até onde esta característica da trama é algo que acrescenta à história ou apenas uma característica que serve apenas como atrair a atenção do espectador de forma mais “fácil”. Maniac fica na confluência entre estes dois pontos, mas ainda assim, todo aquele neón acaba sendo um deleite.

    Para odiar: muito visual, muito tempo, pouca substância

    Ao mesmo tempo que a peculiaridade visual é interessante, o perigo de morar na tal da “confluência” entre a excentricidade e um acréscimo à história está no fato de que é muito fácil identificar quando é que tanta cor se transforma em algo cansativo.

    Trata-se do que alguns críticos chamam de “Big Moment TV”, uma tática utilizada por produções televisivas para atraírem a atenção do espectador a qualquer custo, sobretudo em um momento em que se disputa atenção com a linha do tempo no Instagram ou com os grupos no WhatsApp. Em boa parte da trama, o exagero de cores e iluminação pode ser visto como um contraste em relação aos sentimentos vividos por Owen e Annie. Mas também acaba tomando tanto espaço e importância na história que é fácil perceber o quão negligenciados ficam o aprofundamento dos personagens secundários, que caem em tramas óbvias, e o próprio texto que fica restrito a armadilhas de roteiro cansativas.

    Por mais incrível que sejam aquele universo e as atuações de Stone e Hill, os conflitos dos personagens acabam não sendo o bastante para justificar todo o resto, que se estende por desnecessários 10 episódios que poderiam facilmente ser reduzidos para 8. Fica a sensação de que o desenvolvimento da história é exaustivamente confuso apenas por ser; no fim, não há um reflexo que justifique a falta de objetividade na condução.

    Para odiar: reviravoltas mecânicas e personagens robóticos

    Em um perfil de Cary Fukunaga feito para a GQ Magazine (via Vox), o diretor conta como o algoritmo da Netflix funciona:

    “Porque a Netflix é uma companhia de dados, eles sabem exatamente como os assinantes assistem às coisas. Então eles podem olhar para algo que você está escrevendo e dizer, ‘Nós sabemos com base nos nossos dados que, se você fizer isso, perderemos este tanto de espectadores.’ Então, é um tipo diferente de anotação. Não é algo do tipo: ‘Vamos discutir e talvez eu vença.’ O algoritmo é o argumento que vence no fim do dia. Então a questão é se nós queremos realmente tomar uma decisão criativa sob o risco de perder pessoas…”

    Esta declaração de Fukunaga acaba justificando a sensação de que o desenvolvimento da série é tão artificial quanto o próprio universo dela. E embora o contraste entre a ambientação e os personagens seja algo proposital, o distanciamento do público em relação aos personagens não é — até porque a série depende de um certo nível de identificação do público, positiva ou negativa, para manter a audiência cativa.

    Isto não significa que as reviravoltas ou a construção sejam desinteressantes. Pelo contrário, é fácil se ver em uma maratona por mera curiosidade para entender o que virá pela frente nessa história tão excêntrica. Mas tudo o que não é luz de neón ou realidades inventadas nas mentes de Annie e Owen parece exaustivamente forçado.

    Para odiar: é tudo ao mesmo tempo, e por isso não é nada

    Maniac começa com uma estética cyberpunk, vira um experimento com traços de ficção científica que ora parece tratar o gênero com ironia, ora parece ser uma abordagem aprofundada do assunto. No meio do caminho, ganha traços de John Hughes e tem direito a um encerramento em tribunal, uma reflexão sobre assédio sexual, outras sobre depressão, esquizofrenia, luto, famílias quebradas. Tudo isso em uma camuflagem de comédia. Nem tudo faz sentido. Achou caótico? Pois é.

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