Um olhar rápido na sinopse de Deadwax pode dar a impressão de que a série é uma espécie de O Chamado, só que sonora. No filme, Samara toca o terror em quem assiste a uma fita VHS e ainda dá uma ligadinha antes para avisar que a vítima tem seus útlimos 7 dias. Nesta série, a coisa é um pouco mais instantânea: quem coloca o vinil vermelho na agulha do toca-discos fica no mínimo louco ou morre instantaneamente, sem nem precisar de uma intervenção sobrenatural.
A série fez sua estreia no Fantastic Fest, em Austin, e no início da sessão o diretor fez um pedido: que não só assistíssemos com atenção, mas ouvíssemos também. "Tivemos um grande trabalho criando um monte de barulhinhos diferentes", explicou Graham Reznick, que tem vasto currículo no departamento de som de filmes como Hotel da Morte e O Último Sacramento. Considerando que a série é original do streaming Shudder, há grandes chances do público assistir de fato usando bons fones de ouvido.
Na história, Hannah Gross (Mindhunter) é Etta Pryce, uma caçadora de discos de vinil que vai até as últimas consequências para encontrar o som desejado pelos clientes. A rotina comum da profissional leva um chacoalhão quando ela descobre que pessoas estão ouvindo um certo disco e morrendo logo na sequência. Junto com o único sobrevivente (Evan Gamble), ela busca respostas enquanto vê o colega enlouquecendo ao perceber que está prestes a abandonar o corpo físico.
O termo do título Deadwax faz referência à "cera morta": o espaço central do disco, logo após a última música, em que fábricas e prensas tinham espaço para colocar uma espécie de assinatura no material. Desta forma, os aficcionados podiam organizar sua coleção de acordo com o material utilizado no disco, que resulta num efeito sonoro diferente. E, no caso da série: matador.
Concebida por um profissional especialista em áudio, a série não poderia ser mais "nerd" do que isso no assunto som que, de fato, é muito bem trabalhado. Os diálogos abusam de termos técnicos e a trama tenta questionar se uma onda sonora numa frequência específica poderia interferir no corpo humano sólido — até que, é claro, outras teorias entram em jogo e colocam os protagonistas em perigo.
A obsessão por discos a ponto de existir um profissional pago para procurá-los não é lá muito verossímil, especialmente para o público brasileiro, mas ainda assim a premissa de um vinil assassino é intrigante. A execução deixa a desejar a partir do segundo episódio, quando aprofunda mais nos discos ao invés de explorar seus personagens. A relação do casal de protagonistas fica borrada a ponto de simplesmente não importar se eles sobreviverão ao longo da missão.
Deadwax estreia ainda em 2018 no Shudder, serviço de streaming do AMC, canal pago norte-americano responsável pelos sucessos The Walking Dead e Fear The Walking Dead. Na plataforma, só filmes de terror são exibidos, sempre com a promessa de estarem sem cortes e sem censura. O serviço não deve chegar ao Brasil, mas já adquiriu os direitos de uma produção nacional: o filme Morto Não Fala, de Dennison Ramalho, também exibido no Fantastic Fest.