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    Pais de Primeira: A maternidade nua e crua é o tema da nova série de comédia da Globo

    Série escrita por Antonio Prata conta a história de um casal lidando com o nascimento e a criação da primeira filha.

    Globo/Paulo Belote

    “Todo mundo sabe o que é ser pai e mãe, seja do ponto de vista paterno ou seja do ponto de vista filial”, defende Antonio Prata.

    Chega de maternidade tabu. A nova série de comédia da Rede Globo promete tomar de sopetão um dos temas mais universais, e que raramente é retratado com honestidade na TV. O que fazer quando se é pai ou mãe de primeira viagem?

    Pais de Primeira é uma série que tira inspiração de histórias e conflitos reais. Afinal, todos os envolvidos na criação do roteiro têm suas próprias experiências que envolvem criação de filhos — ou sobrinhos, ou netos... A comédia tem texto de Antonio Prata, e a sala de roteiristas conta ainda com Chico Mattoso, Thiago Dottori, Bruna Paixão e Tati Bernardi, com direção de Luiz Henrique Rios.

    A história acompanha o casal Taís (Renata Gaspar) e Pedro (George Sauma). Ela descobre estar grávida do primeiro filho no exato momento em que ele decide pedir demissão do emprego — o metódico rapaz trabalhava em uma produtora criando jingles para algumas marcas. Mas o seu real sonho é viver de música, especificamente da banda que havia montado com o seu melhor amigo, Rodrigo — ou Driguêra (Alejandro Claveaux).

    Em meio a isso, é claro que todos os familiares têm lá as suas opiniões a respeito de como cuidar de uma criança. Dos dois lados da família há os avós, vividos por Marisa Orth (Rosa), Daniel Dantas (Augusto), Heloísa Périssé (Sílvia) e Nelson Freitas (Luis Fernando), e os tios — personagens de Monique Alfradique (Patrícia) e Rodrigo Ferrarini (Fred).

    PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS

    Para Renata Gaspar, a sua primeira experiência no set com um bebê no colo foi realmente a sua primeira experiência com as nenéns que estão atuando na produção. “Antes das gravações, começamos a fazer algumas preparações”, contou a atriz, “para criarmos relações entre nós e as bebês. São três bebês. Mas eu peguei conjuntivite na semana em que íamos fazer a interação com eles para criar intimidade, então não consegui fazer este contato. E nós achamos isso interessante, pois o meu primeiro momento com eles no colo seria realmente o momento da cena, em que eu não saberia como pegar. E eu não sabia mesmo. Tudo foi muito novo para mim, e para nós.”

    Para Sauma, o ineditismo da situação foi o mesmo. “Chegamos a ler textos e ver filmes e séries que tratam de maternidade, paternidade e gravidez, e também a passar tempo com bebês de amigos”, explica. “Ao mesmo tempo, tentamos levar para as cenas aquele lugar em que você lê e estuda, mas na hora é outra história: é um ser vivo com quem pode acontecer qualquer coisa. Nossas personagens se veem em situações em que precisam descobrir o que fazer na hora. Ninguém nasce sabendo.”

    Globo/ Estevam Avellar

    A relação entre Taís e Pedro promete ser uma fonte de risadas para a série, já que a ideia é que tenham temperamentos completamente opostos. Enquanto ele é o pai hiper preocupado e até um pouco paranoico, ela é uma mãe mais tranquila. “A minha personagem é muito mais ‘pé no chão’ e decidida, enquanto ele é mais avoado e obsessivo. Estuda muito sobre as coisas e teima”, explica a atriz.

    Isso não significa, no entanto, que o casamento esteja em risco. “Construímos uma relação muito sólida para este casal”, completa Sauma. “Eles têm uma parceria muito intensa justamente por causa das turbulências que acontecem durante o nascimento do filho. Como fazer esse casal passar por todas essas turbulências e fazer o público acreditar que eles estão conseguindo? Sempre parece que eles não vão conseguir, mas eles se amam muito.”

    “É um casal que se gosta muito, e é isso que segura a série, que é muito terna”, continua Gaspar. “Você se apaixona por eles também. Pode acontecer todo um caos, mas no final eles vão se olhar, falar a verdade e vai ficar tudo bem.”

    A TIA SALVA-PÁTRIA

    Enquanto para os pais o nascimento de Lia é um furacão, para Patrícia (Alfradique) não é nenhum desespero.

    “A Patrícia vem de uma família muito desequilibrada. A mãe não deu muita atenção, ela que tomou conta da irmã e teve que se virar sozinha desde nova. Mal ou bem ela criou a irmã mais nova, a Taís. Então ela já vem com essa atitude materna desde cedo. Por isso ela tira de letra”, explica Alfradique. “Penso que no dia que eu for mãe, gostaria de ter uma amiga como Patrícia, porque ela é prática e resolve as coisas sem transformar os problemas em bichos de sete cabeças.”

    Globo/Estevam Avellar

    Mãe de dois filhos, Patrícia é casada com Fred, que promete ser a epítome do paizão: “O Fred é o cara que trabalha no mercado financeiro, tem dinheiro e consegue conciliar muito bem a loucura do dia-a-dia com a atenção à família. Provavelmente é o cara que ajuda em casa, que divide todas as tarefas, é um grande pai”, conta Ferrarini.

    REALISMO E PATERNIDADE ATIVA

    “Uma coisa que a Bruna [Paixão, roteirista] diz que é a luta dela é a situação da mulher chata na dramaturgia”, conta o criador do texto de Pais de Primeira, Antonio Prata. “Então o clichê é: a mãe é uma mulher chata e neurótica que fala para o pai, um cara que quer se divertir, ‘não, você tem que botar para dormir, passa álcool em gel…’ E a gente inverteu isso; a mãe é uma mulher trabalhadora, estudiosa, que sempre cuidou da carreira e que não faz ideia de como se faz arroz. E o Pedro é essa ‘mulher chata da dramaturgia.’ Ele é o cara que fica aterrorizando.”

    Esta inversão de clichês, da qual Prata e o diretor Luiz Henrique Rios demonstram estar muito orgulhosos, expõe uma relação direta com o conflito geracional que deverá ser uma das evidências da comédia. “O Pedro é a fonte máxima do mansplanning”, conta Prata, sobre a obsessão do personagem com suas leituras e “manuais de instrução” sobre os cuidados com o bebê. “Ao falarmos de criação de filhos, estamos falando de todos os assuntos: política, esquerda e direita, feminismo, machismo, gênero. Todos os temas se concentram. Maternidade e paternidade são desculpas para nós discutirmos tudo isso.

    E o pai que está lutando pela ‘paternidade ativa’ é muito novo”, brinca o autor. “Porque daqui a dois meses ele vai estar lutando pela paternidade passiva. Eu fiz uma crônica em que você acorda no meio da noite e pensa: ‘Meu Deus, por que eu não nasci em 1950? Por que eu não sou o Don Draper de Mad Men, tomando Gin Tônica enquanto a mulher está cuidando do filho?’”

    “ISSO A IMPRENSA NÃO CONTA”

    Para o autor, que também é pai, a inspiração veio da observação que maternidade e paternidade são temas tratados como uma “pílula dourada” em programas de entretenimento. “É como se aquilo fosse o momento mais bonito, o momento em que a mulher é realmente mulher. Isso não cola mais. E o pai não sabia o que é ser pai. Isso não é uma opção para a minha geração. A conta do feminismo chegou, precisamos dividir. Isso é um tema de conflito eterno e, logo, um tema de humor”, justifica Prata.

    Para Luiz Henrique Rios, mostrar a multiplicidade de homens e mulheres e das formas de criação de filhos é tanto uma rica fonte de graça como um tema importante. “Pouquíssimos homens são pais no Brasil. A maternidade é abandonada; mulheres criam os filhos e os homens eventualmente participam. Parece que a questão da maternidade é uma questão do feminino. Não é. É uma questão de uma dupla. Então conversar sobre isso na televisão é muito novo e bacana.”

    TODO MUNDO TEM UMA OPINIÃO

    Globo/Estevam Avellar

    Marisa Orth e Daniel Dantas são os “avós de primeira” na série. Os dois vivem o casal Rosa e Augusto, pais de Pedro e avós pela primeira vez.

    “A Rosa é aquela mulher que fala assim: ‘Você me mate, meu filho, você me empurre dessa janela lá para baixo mas não me proíba de ver a minha neta”, conta Orth sobre sua personagem. Ela é o oposto de Sílvia, a avó ‘do outro lado’ que é mãe de Taís e Patrícia — a mãe que foi ausente durante a infância das duas e não é exatamente a avó mais preocupada do mundo.

    “Ela é aquela mãezona, vovó. A minha [personagem] não”, explica Périssé. “Ela foi mãe muito cedo, então já não foi uma mãe muito boa. O nome dela é Sílvia, e nem quer que chame de ‘vó’. Ao invés de chamar de ‘vovó’, vai chamar ‘Vivi’. Porque é muita intimidade. Mas hoje ela corre atrás da filha, como são os pais que sentem que não cumpriram bem a missão, e vão atrás para tentar reparar.”

    Nelson Freitas completa: “E eles são separados. Sílvia e Luis Fernando [seu personagem] são separados, e ele aparece com a namorada nova — que aparentemente é ‘mais uma namoradinha.’ Mas surpresas estão por vir…”

    UMA HISTÓRIA DE AMOR

    Globo/Estevam Avellar

    Planejada para seis episódios na primeira temporada — a segunda deverá ter 14, mas as filmagens ainda não começaram —, Pais de Primeira tem estreia agendada para novembro, ainda sem uma data específica. A comédia vai ser exibida nas tardes de domingo da Rede Globo, um horário que tem um apelo direto para a família, que é justamente o tema principal da série.

    “O mundo é um monte de onda”, refletiu Rios. “E a gente joga muitas pedrinhas dentro do lago e elas reverberam de várias maneiras. Como são várias pedrinhas, essas ondas voltam.

    Acho genial que a gente possa entrar com essa conversa nas casas das pessoas. Não sei que repercussão isso tem, mas penso que, há muitos anos, descobri que eu faço este trabalho para deixar as pessoas felizes. Então se nós, como artistas, pudermos jogar mais uma pedrinha no lago e observar que onda faz, já é muito interessante. Quando reverberamos essas conversas, trazemos as pessoas para tomarem posições e refletirem.”

    Antonio Prata finaliza: “Essa é uma comédia, mas é sobre amor. É uma comédia romântica. Estes dois se amam muito e amam muito a filha. Eles podem fazer muita bobagem, mas que não ponha em risco essa ligação. É um tema muito universal.”

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